OS RETALHADORES

Capítulo 55

- Jonathan, você enlouqueceu? - Eu sobressalto conferindo se de fato a porta estava trancada. - Como entrou aqui?
- Jonathan levanta da cama devagar e quebra a distância até mim.

- Ninguém me viu entrar. - Ele se explicar. - Kira conhecia uma passagem e...

- O que!? - Jonathan estende os braços em minha direção, eu me afasto do seu toque, indo para o outro lado do quarto. - Alguém pode ter visto você, Jonathan. - Sussuro.

- Ninguém me viu entrar. - Ele afirma, seu rosto se suavisando quando se aproxima mais alguns passos. - Ninguém me viu entrar. - Afirma novamente, seus olhos verdes se fixando nos meus. - Eu juro pra você, meu sol. Ninguém me viu entrar. - Suas mãos encontram as minhas, o toque é quente e presente. - Senti saudades. - Diz ele baixinho.

- Você não...

- Shiii. - Seus braços já estão me envolvendo em um abraço. - Vem cá.

- Você não devia ter vindo aqui. - Digo.

- Eu senti saudades.

- É perigoso, Jonathan.

- Eu senti saudades. - Sua voz cai em um sussurro, enquanto seus braços me apertam para mais perto de si.

- O Noah achou a caixa. - Digo envolvendo meus braços em sua cintura, o cheiro de sabonete e loção hidratante preenchendo cada espaço entre nós.

- Eu sei. - Ele diz.

- Foram vocês dois, não foi? - Pergunto. Eu sinto quando ele apenas faz que sim com a cabeça antes de dizer:

- Ele queria a caixa, só facilitamos as coisas para ele. - Jonathan brinca. - Já estamos aqui por tempo demais e as coisas em Cirta não parece muito melhores.

- Do que você sabe? - Minha está aflita. Houve boatos por toda Civiron dos ataques causados pelos rebeldes, Cirta estava sob vigilância era o que ouvia pelos becos. Eu estava com medo do que encontraria quando voltasse.

- Nada do que não seja do conhecimento geral. - Ele me responde.

- Partiremos amanhã. - Eu digo.

- Imaginei que ele não desperdiçaria mais nenhum minuto quando tivesse o que queria. - Jonathan indaga, depois de uma pausa em silêncio, ele pergunta: - Tá tudo bem? - Quando não digo nada ele reforça seus braços ao redor de mim mais um pouco.

- Eu o vi, Jonathan... nas minas, ele estava lá, vivo. - Jonathan pareceu parar de respirar. - Eu preciso tirá-lo de lá...

- Como...? - As palavras não se formaram em sua boca. Jonathan se afasta de mim alguns centímetros, ele não está mais me abraçando, seu rosto pareceu perder a cor por um momento ou era apenas o vislumbre da luz fraca? - Você foi até lá sozinha? - Jonathan pergunta depois de um tempo.

- Estou ficando sem tempo, Jonathan. É isso que ele quer que eu entenda. - Eu admito baixinho. Jonathan eleva meu rosto até o seu com a ponta do seu polegar e encontro determinação em seu rosto.

- Você o terá de volta, isso é uma promessa. - Ele me assegura, sem desviar seus olhos dos meus. Eu não consegui conter as lágrimas quando elas começaram a deslizar em minhas bochechas, Jonathan as varrendo para longe com a ponta de seu polegar suavimente. - Eu não darei descanso aos meus olhos até que os seus os veja novamente, seguro e livre. - Ele repetiu a promessa feita e nesse momento entendi o motivo pelo qual eu havia me apaixonado por ele. Eu contei a ele como havia sido a visita as minas, o peso que havia sido a conversa com o meu pai e a ruptura que novamente estava entre nós ao deixá-lo para trás naquele lugar. Jonathan me ouviu a maior parte do tempo sem dizer uma única palavra, ele parecia inquieto com alguma coisa que naquele momento ele não estava disposto a dividir. Eu tinha que juntar as minhas coisas para voltar pra Cirta e encarar o que havia deixado para trás nessas quase três semanas que estivemos aqui. Os dias pareceram uma eternidade e ao mesmo tempo haviam passado como um piscar de olhos e eu não via a hora de rever minhas irmãs, de ver com os meus próprios olhos como estava Cirta.
Havia rumores de que o cerco de agentes estava intenso desde os últimos feitos dos rebeldes, eles haviam saqueados carregamentos quase que inteiros, invadido torres de distribuições e deixando tudo em tamanho caos. Era quase que de conhecimento geral que o escorpião rabiscado em tinta vermelha era o símbolo dos Retalhadores, eles faziam questão de dá nomes aos seus atos.
Não demorou muito para que eu pegasse no sono após recolher minhas coisas, Jonathan teria que voltar para Cirta antes que chegássemos, assim teria tempo para preparar a Equipe e o covil para a chegada do "chefe". A promessa de que me procuraria assim que tivesse uma chance e começaríamos a planejar uma forma de ajudar o meu pai a sair da mina, acendeu uma fagulha de esperança em meu peito eu me permitir pegar no sono, a batida do Noah à minha porta horas mais tarde me lembrou de que estávamos dando adeus a Cidade de Ferro.