Capítulo 46

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- Acho que já pode me soltar. Estou ficando sem ar. - Jonathan consegue dizer. Eu não sei por quanto tempo tínhamos ficado assim, abraçados. Mas não me importava em continuar desse jeito.

- O que você faz aqui? - Pergunto enquanto me desgrudava dele.

- Achei ter visto alguém parecida com você saindo do Covil e resolvi ver com os meus próprios olhos. - Seus olhos passam ligeiramente entre meu vestido e meu rosto como se não acreditasse no que estivesse vendo. - Por que está vestida desse jeito?
- Eu levo um tempo até responde-lo.

- Estávamos em uma missão fora da cidade e o Noah...

- Te obrigou a usar isso. - Ele diz cada palavra como se estivesse a ponto de estrangular alguém, embora tentasse ao máximo esconder isso.

- Isso não importa mais. - Eu sussurro.

- Emery... o que está acontecendo? - Sua voz estava pesada e temerosa. - Você estava de guarda baixa em uma cidade que não conhece direito, qualquer um poderia... - Ele não se permite concluir. Jonathan engole em seco e passa uma mão entre seus fios avermelhados sobre o rosto. Era difícil vê-lo com nitidez em meio ao escuro de onde estávamos no beco, mas havia algo de diferente nele, algo mais angustiado, mais nervoso. - Vamos sair daqui. - Ele diz por fim.

- Eu não quero voltar ainda. - Deixo que as palavras escapem por meus lábios enquanto ele se afastava alguns passos de mim. Cansadas e sem forças, todas as minhas defesas estavam desarmadas bem na sua frente. Ficamos em silêncio por alguns segundos até que sinto sua mão segurando a minha de forma tímida e receosa. Eu não protesto ou faço nada para me desvencilhar do seu toque. Jonathan começa a nos conduzir para fora do beco escuro e vazio. Ele recolhe minhas adagas do chão oferecendo-as para mim em seguida. Eu coloco-as novamente na bainha em minha coxa e me deixo ser guiada por ele sem dizer nenhuma palavra sequer durante todo o caminho, que eu não fazia idéia aonde nos levaria. Jonathan ao meu lado totalmente calado, embora por alguns momentos eu sentisse seu sutil aperto entre meus dedos, como se ele estivesse se certificando que eu ainda estava ali.

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- Acho que teremos privacidade aqui. - Jonathan quebra o silêncio de quase meia hora, sua voz estava hesitante e um pouquinho nervosa.
Ele continua.
- Pelo menos por algumas horas. - Diz por fim.

- Tudo bem. - Digo baixinho. Indo em direção ao pequeno sofá disposto no canto do pequeno quarto mobiliado. Havia uma simples e arrumada cama de solteiro, duas mochilas estavam sobre ela. Uma mesinha de cabeceira com uma coruja esculpida em aço, servindo como peso para alguns papéis que ocupava o espaço da mesinha ao lado da cama, assim como uma simples cômoda velha com três gavetas estava próximo da mesinha de cabeceira. Um caixote estava aberto perto da entrada e havia alguns suprimentos enlatados e frutas dentro dele, e um grosso lençou estava dobrado também. O quarto era simples, a iluminação fornecida por uma bruxuleante lâmpada pendurada no teto e um pequeno e simples banheiro em cerâmica branca. Pelo menos havia uma banheira nele. Eu imaginei o barulho da água sobre o meu corpo, enquanto submergia completamente dentro dela...

- Está com fome? - Ouço Jonathan dizer. Ele ainda estava parado de frente a porta agora fechada do quarto. Estávamos em uma estalagem próximo aos alojamentos comunitários da cidade. O prédio antigo de dois andares era simples e continha um conjunto de quartos e uma pequena sala de estar com uma poltrona velha e um abajur em uma mesinha simples. Jonathan havia dito alguma coisa sobre "ninguém nunca vem aqui", enquanto entrávamos no prédio pouco iluminado. A pequena sala servia de recepção. Uma senhora ranzinza e de rosto enrugado chamada Irene era a esponsável pelos quartos. Jonathan havia trocado duas palavras com ela enquanto subiamos as escadas em espiral até o último quarto do corredor, ela nada havia dito, enquanto remendava um pedaço de tecido. Ele destrancou todas as três trancas com as chaves retiradas do seu bolso, arrastando em seguida a porta de ferro e do lado de dentro havia mais três trancas e mais três cadeados sobre a porta.
- Eu não sei se há alguma comida de verdade aqui. - Jonathan caminha até o caixote aberto no chão, agachando em direção a ele.

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