Capítulo 5

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- Você não precisa se ariscar assim Harry. - A voz dela era nada mais que um susurro.

- Não temos outra alternativa, meu sol, eu não posso...

- Não diga isso. - Ela o cortou, sua voz enbargada pelo cansaço e pela fragilidade que a doença a acometia, nenhum demonstrativo da alegria que antes existia nela e do brilho em seus belos olhos verdes salpicados de castanho. - Eu sinto tanto...

- Se esse for o preço para mantê-la viva... eu pagarei com cada fôlego que ainda me resta.- A voz dele estava triste como se aquilo fosse uma despedida.

- Volte para nós Harry.- Ela disse, lágrimas já banhando suas bochechas pálidas e sem vida. Ele a beijou na testa e se levantou da beira da cama onde ela estava deitada, ele não se permitiu chorar não quando elas estavam ali aninhadas no sofá da sala preocupadas, chorosas, Sofia consolando as pequenas.

- Cuide dela, Mery. - Ele disse, lançando um olhar de esguelha para ela deitada na cama, ainda chorando, dor enevoando seus olhos. -, quando eu voltar vamos procurar o último gibi juntos, não posso permitir que você descubra como o Capitão Futuro criou os Duplicados sem mim, querida. - Uma piscadela daqueles belos olhos cor de âmbar e salpicados de amarelo, os mesmos que os meus.

- Vou esperar ansiosa, pai. Foi tudo o que conseguir dizer. Ele beijou o topo da minha cabeça e saiu do quarto em direção a porta da frente, me deixando ainda de pé próximo a porta do quarto, elas levantaram do sofa e o abraçaram rápido antes dele sair em direção ao que lhe esperaria do outro lado da fronteira elétrica, para aquilo que definiria a vida ou a morte dela, a esperança. Que o sol lhe guiasse...

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- Mery... Mery...

- O- oi, o que... - Sofia me encarava, preocupação preenchia seu rosto. - Foi só um sonho ruim, volte a dormir irmã. - Fiz menção de me aninhar novamente nas cobertas mas ela pousou uma das mãos em meu ombro virei e encarei seus olhos, mesmo a luz bruxuleante do quarto seus olhos verdes flamejaram. Ela estava assustada.

- Você estava gritando, Emery e acordou todas nós. - De fato, mesmo no escuro do quarto dava para perceber os pequenos rostos sonolentos e os olhos arregalados das gêmeas em minha direção.

- Eu sinto muito. - Disse para ninguém em especial e voltei a me aninhar ao meu travesseiro.

- Você precisa conversar sobre eles em algum momento, Emery. - Sua voz exalava preocupação.

- Nao, não preciso -, um longo suspiro. - voltem a dormir, foi só um pesadelo. - Disse por fim, minha voz quase um sussurro.

- Emery...

- Voltem. A. Dormir. - Disse na tentativa de encerrar o assunto.

- Vocês ouviram a Mery, foi só um pesadelo. - Sofia arfou profundamente, o único indicativo de que cedo ou tarde teríamos que conversar sobre os pesadelos e todas as outras coisas que vem acontecendo ultimamente ou eu definitivamente teria que procurar outro lugar para dormir. Ela se aninhou novamente nas cobertas cada movimento irritadiço até que o sono a reivindicou. E de certo modo contemplar a escuridão do quarto acabou se tornando minha principal atividade ao longo da noite já que o sono parecia que tinha se dissipado de vez.

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- Você definitivamente está uma porcaria, Mery. Noite ruim?

- Você devia se olhar no espelho antes de dizer tais palavras, Lenora -, um sorriso zombeteiro despontou dos lábios carnudos dela, suas bochechas pálidas corando levemente. - Você está igualmente péssima. - Lenora circundou seu olhos castanhos amendoados em envolta do galpão, como se monitorando possíveis ouvintes ou guardas prontos para manda-la de volta a sua bancada de costura e se recostou na minha bancada ainda sorridente.

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