Capítulo 20

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- Acho que isso é um convite para você fechar a porta. - Disse Jonathan novamente, depois de perceber que eu havia ficado em silêncio encarando o nada, ainda parada com a mão na maçaneta da porta aberta, absorvendo o que ele acabara de dizer momentos atrás. O que será que eu disse enquanto delirava de febre, será que ele desconfia de alguma coisa?Claro que ele desconfia, se não, não teria tocado no assunto de repente... Eu fechei a porta com um estampido abafado, e caminhei até a cama sentando de pernas cruzadas e de forma relaxada, embora eu não estivesse nada relaxada.

- Prefere um convite formal? - Disse apontando uma mão para a poltrona vazia na minha frente para que ele sentasse novamente. Jonathan me lançou um sorrisinho fraco e seguiu até a poltrona sentando mais relaxado também, apoiando os bracos atrás da cabeça e cruzando as pernas. Ele usava uma calça jeans preta e uma camisa também preta estava por baixo da sua habitual jaqueta de couro preta de capuz e usava botas de cano curto de couro marrom conservadas e lustradas, embora não fossem novas. Jonathan sempre usava preto ou tons tão escuro quanto, as cores já faziam parte do que ele era, sombrio e isolado. Fora assim desde sempre.

- Como pretende fazer? - Ele perguntou de maneira relaxada.

- Entrar lá e pegar os relatórios? Já fiquei tempo demais escondida aqui me recuperando, não quero que ela pense que desistir ou que estou com medo. - Franzi levimente as sobrancelhas como se a pergunta fosse óbvia.

- Não o que pretende fazer, Emery, como pretende fazer? - Ele repetiu devagar e inexpressivo, como se eu fosse alguma criança sendo educada, o que me deixou de certa forma um pouco irritada apesar de não demostrar nenhuma reação.

- Não sei... - eu tamborilava preguiçosamente meus dedos na coberta da cama arrumada que eu havia trocado mais cedo, passando agora os dedos entre os pequenos bordados em formatos de cruz da colcha fina de cor acinzentada -, acho que agora será mais complicado, se de fato alguém notou que eu estive lá. - Disse com certa frustação, encarando meus dedos delineando o bordado da colcha.

- Então teremos que sondar e verificar se o prédio redobrou a vigilância... se estão mais alertas, antes de tentar invadir novamente. - Divagou ele. - Talvez se conseguíssemos um cartão de identificação...

- Mesmo se tivéssemos um cartão - eu  estava o olhando agora -, ainda assim, corremos o risco de ter guardas espalhados pelo prédio. - Argumentei.

- Enquanto esteve lá dentro, conseguiu descobrir alguma passagem, mecanismo estranho... além dos corredores e das salas com os arquivos? - Perguntou Jonathan, sentando um pouco mais empertigado e curioso e com sua total atenção em mim.

- Não - digo um pouca frustrada -, eu estava provavelmente no andar ao qual o Conselho se reune e antes do Duplicado aparecer e me arrastar quase ao subsolo, só encontrei o que já havia lhe dito: salas de interrogatório e salas com relatórios antigos. O único lugar que tinha mecanismo de segurança era a porta de passagem para as selas no subsolo, eu consegui ver o Duplicado utilizando algum código numérico, mas fugir antes dele abrir a porta e me arrastar para dentro, eu não faço a mínima idéia de qual seria a combinação.

- Isso pode ser um começo. - Ele começou a dizer - Mas se queremos entrar e sair com os registros sem sermos vistos, teremos que contar com qualquer elemento surpresa e estarmos prontos para sair o mais rápido possível se algo não sair conforme o planejado, então precisamos ser práticos. - Concluiu Jonathan.

- O que quer dizer? - Quis saber.

- Lâminas podem ajudar num combate corpo a corpo mas você precisará de uma pistola caso...

- Eu não sei usar bem... uma pistola. - Digo baixinho.

- E alto defesa? - Perguntou franzino um pouco suas sobrancelhas grossas.

OS RETALHADORESOnde histórias criam vida. Descubra agora