Capítulo 36

18 4 0
                                    

- Não era bem dessa companhia de que eu estava me referindo quando a convidei. - Noah diz, quebrando o silêncio de quase duas horas de estrada. Ele já estava na garagem meia hora após eu ter deixado o Jonathan no rall. Eu havia jogado algumas roupas em uma pequena bolsa de couro e seguido até a garagem, espero não levar muito tempo para conseguir essa tal caixa que o Noah tanto quer. Verona devia está em missão junto com os outros, pois não a encontrei no quarto. Noah estava impecavelmente elegante como de costume, seus cabelos negros alinhados, tudo nele exalava controle e altivez. Uma bolsa de couro estava jogada no banco de trás, no que eu cogitei serem seus pertences. O caixote de madeira com as vitaminas bem preso à caçamba da caminhonete.

- Você não quer uma companhia, Noah. Você quer uma ladra, é diferente. - Digo baixinho, encarando a escuridão da janela. Já tínhamos passado pela ponte do Cidra a quase meia hora atrás e era questão de tempo até estarmos na cidade de ferro. - Se você pudesse apenas dirigir - minha voz anestesiada e sem forças, se perdendo ao barulho das rodas com o atrito do chão pedregoso e irregular -, eu agradeceria imensamente.

- Eu sei que precisa de alguém para culpar, Emery. Mas esse alguém não sou eu. - Noah fala, sua voz carregada de algo que não me interessei em tentar desvendar, ao invés disso, um sorriso sem humor ondula em meus lábios, eu sinto seu olhar sobre mim embora minha atenção ainda esteja na estrada deserta. - É claro... - Eu dou de ombros. Ele não diz mais nada por um bom tempo.

                   .......... ◢☼◣ ..........

- Você só pode ter enlouquecido, alguém poderia muito bem ter visto. - Jonathan diz, irritado, me puxando para um dos becos próximos ao Mercado do Peso. Eu acabara de roubar quase um pacote inteiro de moedas que agora estava escondida no bolso da minha jaqueta, em uma barraca de legumes enquanto ele recolhia os tributos do mês de um mercador próximo a quase meia hora atrás.

- Ninguém viu nada. - Eu digo, embora sua atenção não esteja voltada diretamente para mim.

- Quem pode ter certeza, Emery? - Disse ele, irritado.

- Não tem motivo para ficar bravinho, Jonathan. - Digo. - E foi você que me disse como fazer.

- Eu só disse que trocar as sacolas era menos arriscado do que sumir com tudo. - Ele sussurra. - Eu não disse como fazer! - Eu abro a boca para contraria-lo quando algo atinge a parede do beco e por centímetros não somos atingidos pelo disparo.

- Mais que merda! - Jonathan me empurra para as sombras, enquanto saca sua pistola. - Isso, Emery - Jonathan aponta com a pistola para o mercador irritado e armado caminhando a procura de nós dois -, é muito diferente do "ninguém viu nada".

- Eu... - Outro disparo, e eu quase sou jogada com tudo no chão pelo Jonathan.

- Fique aqui. - Ele diz. - Tentarei contornar isso.

- É melhor você... - mais disparos atingem a parede e percebo que o mercador não está sozinho, há pelo menos mais três caras junto a ele nos procurando.

- Quem mais você roubou, Emery!?

- Talvez umas três barracas. - Digo envergonhada. Jonathan passa uma mão pelo seu cabelo solto e suspira pelo menos umas três vezes, seus olhos fechados, tentando retoma o controle, antes de dizer:

- Se eu não voltar em dez minutos - Ele fixa pela primeira vez sua total atenção em mim, desde que começamos a trabalhar em missões juntos, sem olhares por cima dos ombros ou hesitação. Ele estava me olhando de verdade agora -, suma daqui.

- É melhor você levar isso. - Eu retiro do bolso a sacola de pano com as moedas, oferecendo-o para ele.

- Se eu levar isso, levarei uma bala direto na testa. E eu gosto do meu lindo rosto sem nenhuma imperfeição permanente. - Ele diz saindo do beco e indo em direção aos mercadores.

OS RETALHADORESOnde histórias criam vida. Descubra agora