OS RETALHADORES

Capítulo 40

- Jantar!?

- Sim, Emery, jantar. - Ele indaga, mãos nos bolsos da calça. Noah cruza um dos corredores escuros do segundo andar.

- Eu não quero jantar - deixo transparecer minha irritação, embora esteja sim faminta, havia horas desde a última vez que algo preencheu meu estômago, mas não era um detalhe ao qual ele precisasse saber -, quero que me explique o que estou fazendo aqui. Até agora você só me fez perder tempo. - Ele para, virando-se até mim.

- Eu estava ocupado. - Diz, seu rosto coberto de sardas sem nenhuma expresão, embora sua voz esteja como uma lâmina afiada e letal.

- Por que me trouxe a este lugar, Noah? - Exigo.

- Quando cruzarmos aquela porta - ele diz, ignorando completamente a minha pergunta e apontando para a porta de ferro entreaberta no final do corredor escuro, era possível ouvir as vozes e risos que ecoavam do cômodo à alguns passos a frente -, espero que se lembre que as escolhas que faz, pesa diretamente...

- Não precisa me ameaçar - o interrompo -, eu sei exatamente nos ombros de quem minhas escolhas pesam. - As palavras escaparam com tanta intensidade que me dou conta de alguns olhares em nossa direção.

- Pois bem. - Ele diz, seguindo os poucos passos que faltavam até o cômodo. Noah arrasta a porta entrando logo em seguida.

- Aí está ele. - Diz um sujeito jovem de olhos azuis e cabelos pretos encaracolados. - Achei que tinha se cansado de nos ouvir falar e ido fazer coisas mais interessantes... - Ele leva a boca meio copo de bebida, o líquido marrom respingando em sua calça jeans surrada. Uma mulher de olhos negros e rosto delicado está sentada em uma de suas coxas, suas roupas igualmente velhas e curtas, delineava seu corpo magro, enquanto ele com uma mão livre dedilhava um fio castanho solto do longo cabelo encaracolado da jovem, repousado como cascata sobre seus ombros ossudos. Ela estava concentrada em sua refeição: uma pequena tigela de porcelana velha, com uma espécie de ensopado de legumes de tom amarronzado. - E trouxe companhia?! - Ele pergunta olhando para mim, depois de um tempo. Recostando agora, sua mão sobre a coxa magra e pálida da jovem, fazendo círculos vagarosos com o polegar e o indicador. Ela totalmente concentrada em sua tigela, apenas me destina sua atenção por nada mais que uma respiração, seus olhos se fixam em minhas roupas mais limpas e conservadas do que as que ela usava e rapidamente retoma sua atenção ao seu jantar, sem se importar com a nossa presença ali. Os outros sentados próximos a ela na mesa não fazem o mesmo e três rostos jovens ao lado dela e do sujeito forte, viram-se em nossa direção quase que ao mesmo tempo deixando de lado suas refeições pela metade, eles comiam comida de verdade, nada de latas encima da retangular mesa de ferro, havia uma tigela com pedaços de legumes de diferentes tons cortados em pequenos pedaços e outra com pequenos pães frescos empilhados, assim como espaguete ao molho vermelho e cachos de uvas em um prato fundo de porcelana. Havia meses desde a última vez que eu havia comido uma refeição tão... familiar, como pão fresco ou qualquer outra coisa que estivesse encima daquela mesa. Minha mãe costumava cozinhar sempre que conseguia saldo a mais, depois de longas semanas de trabalho.
Isaque está acomodado em uma poltrona velha à alguns passos de onde os outros estavam jantando, seus calcanhares cruzados encima da pequena mesa retangular de ferro em sua frente, suas botas velhas de couro sujando de terra os papéis espalhados sobre a pequena mesa, atrás dele uma pequena janela estava fechada, um pedaço de cortina servia para esconder o mundo lá fora do mundo aqui dentro.

- Venha - Isaque nos convida. Ele cruza seus braços esculpidos em anos de treino e dedicação atrás da cabeça. - Junte-se a nós, majestade. - Ele nos lança um sorrisinho debochado após enfatizar a última palavra. Noah nada diz. - E traga a sua garota. - Insinua para mim. Os outros homens na mesa me lançam um sorrisinho sugestivo e voltam a comer suas refeições. Noah segue até a ponta esquerda da mesa, ao qual duas cadeiras de ferro estão desocupadas. sentando-se em uma delas.