Capítulo 27

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- Achei que eles tivessem levado, afinal foi para isso que explodiram o Covil...- Digo enquanto folheio os papéis com os relatórios dos horários e movimentações dos galpões de trabalho dos últimos meses. Eu estava acomodada no felpudo e confortável tapete do quarto do Jonathan, a quase meia hora. Havia pensado o suficiente, apenas para retirar a toalha dos meus cabelos úmidos  e larga-la no encosto de uma das cadeiras do quarto da Verona, seguindo-o até o seu quarto, antes que Verona resolvesse aparecer e fazer perguntas.

- Talvez não calcularam muito o tempo antes do explosivo ser acionado. - Disse Jonathan à poucos metros de distância, sentando na ponta da cama.

- Como você conseguiu? - Perguntei ainda com a atenção voltada para os  papéis.

- Me oferecendo para ajudar a limpar a bagunça. Eu estava próximo ao Covil resolvendo um assunto particular quando soube da noticia da explosão. - Começou a dizer, ele. - O Covil atribuiu a explosão como ataque rebelde, mas eles ainda não sabem o motivo que os levaram a tentar explodir o andar do Conselho. Eu só precisei ser solidário aos feridos e tentar ajudar a limpar os escombros. Haviam poucos guardas de vigia naquela noite, e eles alegaram que não viram nada de estranho. Achei os relatórios em meio a bagunça dos papéis e mapas que estavam por toda parte, o explosivo era de curto alcance e o fogo não consumiu tudo e por sorte não atingiram a última sala, onde esses relatórios estavam arquivados. Dentro de uma caixa na última das prateleiras de cima - uma pausa -, você tinha razão em suspeitar que estariam lá. Eu não tinha certeza se esses de fato eram os relatórios, então eu havia largado no quarto antes de você me encontrar no rall e tudo aquilo acabar acontecendo. - Disse Jonathan, por fim.

- Eu devia te pedir desculpas... pela forma como lidei com a notícia, eu não tinha o direito de te...

- Não precisa, Emery. - Disse Jonathan suavemente. - Ela é sua irmã, eu devia ter te contado antes de qualquer coisa. - Indagou com sinceridade. - Eu achei que voltaria para casa. - Disse ele depois de um tempo.

- Talvez seja melhor desse jeito - comecei a dizer baixinho, encarando os relatórios em meu colo, mas sem lê-os de fato  -, evita envolve-las nessa bagunça toda.

- É, eu sei como é. - Disse ele, a voz adquirindo um tom amargo. Eu levantei o meu rosto para encará-lo mas ele não percebeu, alheio como se estivesse por um momento ido para outro lugar.

- Jonathan? - O chamei, sobrancelhas franzidas. O que havia o atormentado tão de repente...?

- O-oi, me perdir nos pensamentos. - Indagou ele.

- Para onde você foi? - Perguntei. Jonathan não me respondeu, ao invés disso levantou da cama, seu rosto uma máscara ilegível. Ele se inclinou o suficiente para retirar do meu colo a pasta com os relatórios para em seguida colocá-la embaixo dos travesseiros dispostos em sua cama.

- O que você está fazendo? - Perguntei ficando de pé.

- Eu estou com fome. - Disse ele simplesmente.

- Então vá comer? - Disse indo em direção a cama, aos papéis que agora estavam encobertos pelos travesseiros, mas Jonathan se pôs em minha frente impedindo a minha passagem.

- Não tenho tempo para isso - disse o encarando -, pode sair da minha frente?

- Consigo ouvir sua barriga daqui. - Disse ele estampando um sorrisinho torto nos lábios.

- Isso com certeza não é nem um pouco verdade. - Tentei ir mais uma vez ir em direção aos papéis escondidos nos travesseiros, mas ele não abriu passagem. Na verdade eu estava sim com fome, mas não daria a satisfação da resposta. - Eu não estou com fome.

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