Foi um grande erro pensar que poderia confiar em Luana, logo ela, que já provou muitas vezes o quanto é uma pessoa egoísta. Deveria ter dado mais atenção a minha intuição e ficado calado, assim não estaria agora, na situação em que me encontro. Um verdadeiro marionete em suas mãos. Viver meus dramas em silêncio, foi uma decisão que tomei há muito tempo. E, por ingenuidade de minha parte, estou prestes a ver minha vida ser vulgarmente exposta.
Talvez seja isso mesmo o certo a se fazer, deixar que tudo venha à tona, de uma vez por todas, só assim, me livro de todas as chatices e ameaças de Luana. Olhando para Kadu, sinto como se fosse ontem.
Nós éramos ainda muito novos, tínhamos o quê? De dez para onze anos, dois garotos, peraltas, uns fanfarrões, era assim que meu pai costumava nos apelidar, eu tinha um jeito meio desencanado a respeito das coisas, não costumava prestar atenção, em quase nada que acontecia à minha volta, e nem me preocupava com o pouco que percebia, sempre tive meus pais e Kadu, meu melhor amigo comigo, nisso, eu prestava bastante atenção. Embora sempre achei nossa convivência forçada à princípio, parecia uma coisa imposta, eu não entendia porquê, mas tinha que ser amigo do Kadu, e vice e versa, bem, era essa a impressão que meus pais me passavam, e assim foi, minha mãe, parecia se preocupar mais em como fora o dia do meu amiguinho, do que com o meu propriamente dito. Naquela época eu não me importava, pois dona Fátima e o tio Edgar, eram muito próximos de meus pais, estavam sempre, um, na casa do outro.
Era uma festa, quando, por algum motivo, fosse por viagens, ou algum tipo de eventos, os pais de Kadu, não o levava junto, e ele ficava em minha casa, era notória a felicidade da minha mãe, isso, eu também percebia, se eu sentia ciúmes? Algumas vezes sim, outras, eu até gostava, pois era filho único e Kadu sempre me era uma companhia muito legal, tínhamos a mesma idade, nascemos no mesmo dia, e isso por si só, já era motivos suficientes para sermos amigos, ainda mais que nossos pais, já eram amigos de longa data, com isso, nos tornarmos inseparáveis, nossa amizade nos completava, pelo menos era assim que eu sempre procurei acreditar.
Mas era querer demais, que tudo permanecesse na mais afortunada paz, em minha vida, voltando aos dez anos, o que mais me marcou, foi quando minha mãe, passou a agir de maneira um pouco estranha, sempre nervosa, principalmente em casa, lembro que ela fez uma viagem a trabalho, uma época, cujo, demorou muito para voltar, não me senti bem nessa época, me sentia sozinho, sentia sua falta, embora, meu pai fizesse de tudo para sanar a sua ausência, lembro que foi bem difícil para nós dois, parece que alguma coisa também o havia afetado, passava as noites em claro, estava sempre agitado, não me tratava mal, mas eu percebia seu nervoso, como disse, ainda era criança nessa época, e queria minha mãe, então, quando ela voltou depois longos dias fora, reuniu a todos nós, e juntos, ela e meu pai, me deu a notícia, da chegada da minha irmãzinha.
Como assim, uma irmã?
Ninguém havia me falado nada, a respeito disso, antes, nem grávida minha mãe estava, que história era aquela, e o que era pior, desde o primeiro dia eu odiei aquela menina, não sentia nada por ela, me obrigavam a pegá-la no colo, beijá-la, tirar fotos.
Amanda, seu nome, eu odiava essa Amanda. A via como uma verdadeira intrusa.
Ciúmes? Não! Raiva! E esse era um sentimento que até então nunca havia conhecido.
Só sabia que era muito forte, assim como as coisas ruins que desejava para ela. Quando percebiam que eu era distante dela, diziam que era coisa de criança e que com o tempo iria passar. Isso nunca aconteceu, pelo contrário, só aumentou, eu não gostava dela e pronto!
Tudo foi se tornando cada vez pior, para mim, agora, ela era a bonequinha da casa, como se já não bastasse Kadu ser bajulado pela minha mãe, como se fosse um filho, agora realmente existia uma filha, que em nada diminuiu a bajulação com Kadu, mas agora, eu tinha outra concorrente à atenção dela, minha mãe. Já meu pai, sempre foi meu amigo, e posso dizer com certeza que o amo, mais do que amo minha mãe, se fôssemos comparar, sei que esse tipo de comparação não deve existir, como também, não deveria existir preferências entre irmãos, e pior, entre filho e o amigo do filho, me doía, quando em alguma represália ela citava o nome do meu amigo, numa tentativa de conseguir que eu a obedecesse, usando-o como exemplo. Ficava revoltado com isso. Mas seguia sendo amigo dele, pois ele não tinha culpa, ao mesmo tempo que sentia uma coisa em Kadu, que nos unia.
Entramos na adolescência e com ela a puberdade, percebi que já não era mais o mesmo, muitas coisas haviam mudado, como não compreendia nada, me mantive em silêncio, decidi que, as minhas atribulações, meus medos e meus problemas seriam apenas meus. E em meio as minhas confusões, assistia aquela criança, roubar todo meu espaço dentro de casa, minha mãe, até mesmo meu pai caíram nas graças dela, mas o pior estava por vir, Kadu, meu melhor amigo, a pessoa que estudava comigo, com quem eu fazia as atividades de casa, com quem eu jogava bola no time da escola, com quem jogava vídeo game nos finais de semana, a pessoa que eu podia contar e falar sobre tudo. Ele foi quem mais caiu de quatro pela menina, era como se ele fosse seu irmão e eu o amiguinho.
O tempo passou, e meus sentimentos afloraram, eu já não conseguia mais dominar o que estava acontecendo comigo, me achava estranho, tinha vergonha até de pensar sobre o que estava sentindo. E, como reagiriam se eu falasse, foi então que me fechei mais ainda, assim estaria seguro de mim mesmo, e de todos, e eu consegui isso, por um bom tempo, até cometer um grande erro. Achar que poderia confiar em Luana, nessa época já éramos mais velhos, eu, ela e Kadu, nos conhecemos no colegial, um dia ela se aproximou, e desde então, nunca mais se afastou de nós e de nossos amigos, o tempo foi passando, e com isso senti que ela poderia ser uma amiga e uma confidente, achei que poderia me abrir com ela, e que me consolaria nos dias em que a tristeza ardesse mais forte em meu peito. Sim, porque havia dias em que me sentia sufocado, deixado de lado, esquecido, queria gritar o que sentia, mas sabia que poderia sofrer ainda mais, me sentia mal, mas ela estava ali, se mostrando uma boa companheira, para o que quer que fosse, no início ela foi uma amiga e tanto, e isso me conquistou, foi me passando segurança, comecei a ouvir seus conselhos, e me abrir com ela tornava mais fácil enganar meu coração, através das coisas que me falava, os lugares que me levava, até novamente, ser traído, é, Luana também queria tirar o que eu tinha.
— Felipe, então? Estou esperando! Não temos o dia todo, vamos fale. — Kadu me tira dos meus devaneios. Lembrar de tudo é sempre um sofrimento para mim. E hoje é pior ainda, pois estou sóbrio.
— Eu sei, e sinceramente faz um favor, esqueça Luana, ela é uma traidora. Deixe tudo como está Kadu, eu me acerto com ela. — respondo.
— Estranho, porque ela te acusa da mesma coisa. De ser um traidor, só que comigo.
— Kadu, você e minha mãe cobram sempre que nunca estou na KF, que não me dedico, mas quando venho sóbrio e interessado em trabalhar, vocês todos resolvem tirar a minha paz. Me deixa sozinho. Por favor?!
— Estou te estranhando mesmo, de uns tempos para cá, você tem se mostrado outra pessoa meu irmão. E isso me deixa muito feliz.
— Não me chame de irmão, eu não sou seu irmão, caralho! — Não gosto quando ele se refere à mim como à um parente. Nós não somos.
— Ei, calma, calma, vamos conversar, está mais do que na hora de termos uma conversa séria você e eu, não acha?
— Que foi agora, o que você está querendo. Vem com esse papinho de irmão, nós não somos irmãos porra. — percebo que Kadu recua.
— Tudo bem, como você quiser, não somos, ok. Mas me diga, qual é a da Luana com você Felipe? — ele insiste.
— Luana é uma falsa, fez bem em se separar dela.
— Sim, fiz, só não entendo o que ela tanto trata com você, isso acontece desde antes de nos casarmos, inclusive, até saíram juntos muitas vezes, é desse tipo de traição que ela se refere? Vocês tinham um caso, aí você resolveu investir na amiga da sua irmã, a Lívia, vocês estiveram bem próximos algumas vezes não é mesmo?
— Eu e Lívia, não temos nada, a garota só é legal, só isso. Não é o que está pensando.
— Não? Mas..
— Não tem mais Kadu, não pira tá!
— E, quanto a Luana? — porra que cara chato!
— Por que insiste caralho? Essa mulher é louca já disse! — respondo.
— Engraçado, até ontem a defendia com unhas e dentes, o que aconteceu para mudar de ideia assim?
— Eu não quero mais, não quero mais me preocupar com ela, com suas paranoias em relação à você. Tudo para ela é você!
— Em relação à mim?
— Sim, ela procura sempre alguma coisa para tentar se aproximar de você. E, como somos amigos e sócios, acha que posso conseguir isso, está bom para você? É só isso.
— Felipe, não sou idiota, ouvi muito bem suas palavras, o que ela tem na manga contra você, sim, porque pelo que ouvi, ela o chantageia com algo que eu não posso saber. Que tipo de segredinhos sujos, vocês dois tem juntos que o faz teme-la dessa maneira?
— Porra Kadu, não é nada, já disse! — grito mais uma vez, ele percebe que está me incomodando, e parece desistir do assunto, arruma o seu terno, faz menção de sair da sala, mas antes me fala.
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Segredos de Família ( Pausado)
RomanceRomance / Drama / Tema adulto 🔞 Kadu e Amanda, um amor além da amizade, seriam eles mais fortes, que todos os segredos capazes de destruir suas vidas?