Minha Melhor Versão

Capítulo 98

Mais um capítulo? É isso mesmo, produção? 💖

Pedro 2/2

Vi o dia amanhacer tomando um chá de cadeira fodido naquela recepção do hospital. Na moral? Sei nem porque eu estava ali até aquela hora, acho que só estava esperando o médico dizer que o Roberto ia ficar suave pra eu poder meter o pé tranquilo e ciente de que fiz o melhor possível.

Era em torno de 7:15h quando o médico veio avisar que ele tinha passado a noite bem e sem complicações, o que pra eles foi uma surpresa considerando a gravidade da cirurgia feita. Disse até que ele poderia receber uma visita rápida se eu quisesse ir vê-lo. O problema é que eu não fazia a mínima ideia se queria ir ou não.

Foda passar por cima de toda mágoa que eu carrego dele, foda saber que ele também não tem mais ninguém além de mim no momento. E mais foda ainda a persistência desse sentimento antigo de filho que, infelizmente, eu ainda tenho.

— Essa escolha é somente sua, filho. Se você não estiver se sentindo a vontade de ir, não vá. Mas você está aqui até agora, não acha melhor ir lá ver ele com seus próprios olhos antes de ir embora? Ele ainda está dormindo por conta do sedativo de dor.

— Já tô aqui mermo... — dei de ombros e levantei — Pode chamar o motorista aí que lá vai ser bate-volta, Dulce. Cinco minutos e a gente mete o pé, valeu?!

Dei um beijo na testa dela e fui direção ao corredor dos quartos. Maluco, parece que o corredor tinha triplicado de tamanho, minha mão tava querendo suar e eu pensei em dar meia volta pelo menos umas cinco vezes pelo caminho.

Entrar no quarto e ver ele naquele estado, foi um soco no meu estômago. Não dá, eu não conseguia descrever o que eu tava sentindo. Foi tudo junto.

Minha perna fraquejou, meu corpo todo ficou estranho, me deu uma náusea de vômito tão forte que quase não deu tempo de chegar no banheiro do quarto. Pus o pouco que comi pra fora, e se eu não fosse homem eu podia jurar que tava prenha! Sensação fodida do caralho.

Enquanto lavava minha boca na pia, eu me perguntava porque caralhos eu estava fazendo aquilo comigo. Por que eu simplesmente não fui embora? Porra.

Sai do banheiro e me aproximei do leito dele e segurei sua mão, aproveitando que ele estava sedado ainda. Não consegui evitar as lágrimas grossas que desceram pelo meu rosto. Eu tenho certeza que me faria de forte pra quem quer que fosse de novo, eu sou bom nisso, mas ali... Ali tava foda. Deu não!

— Por que as coisas tiveram que ser assim hein, pai? — questionei mesmo sabendo que ele não me ouvia e tão pouco me responderia. — Era pra você ter ficado, pô. Eu só tinha você,cara. eu amava você! Mas ao invés disso tu meteu o pé sem nem ter coragem de me falar a verdade. Sem me mandar uma porra de uma notícia pra pelo menos eu saber se tu tava vivo. Formou outra família e cagou pro filho que tu já tinha como se eu nunca nem tivesse existido. Eu aprendi a me virar sem você, eu aprendi a viver sem você. E sabe o mais louco disso? Que eu tô com mesma sensação de quando tu foi embora , com o mesmo medo de te perder de novo. Será que você nunca vai cansar de fazer isso comigo? Eu tô cansado de te perder sempre.— suspirei e limpei as lágrimas — Vou meter o pé porque eu odeio despedida, acho que puxei isso de você!

Senti um aperto fraco na minha mão quando tentei tirar minha mão da dele e dei uma travada sinistra.

— Fica mais, por favor. — sua voz saiu baixa e fraca. Meu coração acelerou tanto que cheguei me apoiar na maca. Quando olhei pra ele, as lágrimas escorriam de seus olhos em direção a orelha. — Me perdoa, f-filho. — pedia com dificuldade.