Capítulo 71

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Maratona 2/4

ALERTA GATILHO: esse capítulo fala brevemente sobre depressão e suicídio. Se você for sensível ao tema, não leia.
O suicídio por depressão é real. Se você estiver se sentindo triste e quiser conversar, eu estou disponível. Eu quero vocês vivas!💕

 Eu quero vocês vivas!💕

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Pedro

Eu sei que eu não vou conseguir justificar meus erros, mas pelo menos eu te devo uma explicação. —ele começou— Quando sua mãe morreu eu me senti culpado por ela ter dado fim na própria vida.

Eu senti o nó se formar na minha garganta e dessa vez eu não conseguir impedir meus olhos se encherem d'água. Falar sobre a doença e morte da minha mãe era algo que mexia profundamente comigo e era um assunto que eu nunca me senti confortável pra falar abertamente com ninguém porque era muito doloroso pra mim e eu nunca quis que ninguém tivesse acesso aos meus demônios internos.

—Eu não enxergava o meu vício em álcool como uma doença, sempre achava que era exagero da sua mãe e esse era o principal motivo das nossas brigas. Mas eu fui bebendo cada dia mais e com mais frequência... Eu fui me tornando um marido frio, infiel, controlador. E quando eu percebi que isso tinha afetado não só a mim, mas a Ana também... Já era tarde demais. Eu fui embora pra me internar numa clínica de tratamento em São Paulo que duraria cerca de seis meses, por isso eu te emancipei e disse que era uma viajem.

—Por que você não voltou? —perguntei baixo, mas de forma de que ele escutasse

—Eu viajei pra São Paulo na véspera da minha internação. Quando eu cheguei no hotel, eu tive uma recaída e quis me despedir dos meus vícios enchendo a cara de bebida. Eu não consegui ir pra clínica no dia seguinte por causa da ressaca. Nem no outro, nem no outro... e assim foi por quase um ano até que eu me internei, conheci a Laura que era psicóloga lá da clínica e quem me ajudou a me manter limpo. Eu me tornei um exemplo para as pessoas lá dentro, comecei a dar palestras, conduzi reunião com os novatos e eles se inspiravam em mim, era a primeira vez em muitos tempo que eu estava fazendo algo de bom pra alguém! Por mais que eu sentisse sua falta e soubesse que você sentia a minha, as pessoas lá precisavam de mim.

Eu mordi meu lábio inferior com força pra reprimir minha vontade de chorar e de explodir pra cima do cara na minha frente e neguei com a cabeça.

—Que pena que você esqueceu que eu também precisava de você e que eu só tinha você.

—Você tinha a Dulce, eu sabia que ela cuidaria de você. —ele disse de forma tão natural que me irritou

—Mas a obrigação era sua, porra!!! Você era o meu pai. A Dulce não tinha obrigação nenhuma de segurar um problema que não era dela. Será que você não entendeu isso?! Era pra você estar aqui. —falei puto.

—Eu estava.

—Quê?! —franzi o cenho —Como assim, "estava"?

—Sempre que eu tinha oportunidade de vir no Rio pra dar palestras, eu dava um jeito de te ver de longe. Na rua do colégio, na rua perto daqui do condomínio...

Eu todo perturbado e mal com esse lance enquanto ele me observava de longe e vivia normalmente?

—Covarde do caralho! —falei com a voz falha, sem acreditar que eu estava ouvindo aquilo. — Mete o pé da minha casa!

—Pedro, eu vim...—cortei

—To pouco me fudendo pro que você veio fazer aqui! —me irritei— se eu tiver que ouvir mais alguma desculpa dessa eu vou perder o mínimo da consideração que eu já tive algum dia por você e vai dar caô.

—Eu achei que estava fazendo o melhor pra você. Me perdoa! —ele pediu e eu neguei

—Nunca.

—Por favor! —ele pediu novamente e voltou a chorar—Me perdoa, por favor.

—Eu não quero. E além de não querer, eu não consigo! Depois que eu cresci, eu entendi muita coisa que com 11, 12 anos eu não entendia. A maioria das vezes que você chegava bêbado eu já tava dormindo, mas quase todas as noites eu acordava assustado com as suas brigas no quarto de vocês. Eu também tenho uns flash's de memória das vezes que eu pegava minha mãe tomando remédio, chorando pelos cantos e dizendo que não aguentava mais. Mas quando eu perguntava, ela dizia que não era nada demais. Eu demorei a entender que ela estava numa relação abusiva, e eu acho que nem ela sabia disso porque a seis, sete anos atrás não se falava muito disso.

Minha visão foi ficando turva por conta das lágrimas e por mais que eu odiasse chorar e quisesse me fazer de forte na frente dele, eu não tive como segurar mais.

—A minha mãe sempre me falava do quanto ela me desejou —continuei— dos tratamentos que ela fez pra poder engravidar e de como ela ficou feliz quando me descobriu. E quando eu paro pra pensar na morte dela, eu só consigo pensar no quão infeliz e doente ela estava pra desistir de tudo. E o que me mais me dói é saber que nem eu, que ela tanto amava, fui motivo suficiente pra ela querer viver. E que eu também não fui motivo suficiente pra você querer ficar!

Passei a mão pelo rosto limpando as lágrimas que insistiram em cair e respirei fundo.

—Não fala assim, você não teve culpa nenhuma. Aliás se existe alguém culpado aqui sou eu.

—Que diferença faz agora? Minha mãe morreu, você seguiu sua vida com outra família e eu não sou mais um moleque de doze anos. —dei de ombros tentando parecer indiferente.

—Eu não fazia ideia de que você tinha se tornado tão fechado. Você era uma criança tão amorosa...

—Mecanismo de defesa! Eu aprendi na pele que a gente se decepciona menos quando não tá ligado afetivamente a uma pessoa. —fui até a porta da sala e abri— Já deu. Vai embora e por favor não volta.

—Eu espero que você seja um pai melhor do que eu fui pra você.— ele falou em frente a porta

—Eu espero que você seja pro seu outro filho um pai melhor do que foi pra mim.

—Eu deixei meu cartão de contato na mesinha, me liga pra gente conversar melhor quando você estiver bem.

—Não conta com isso. —falei ainda segurando a porta pra ele passar.

—Não esquece que você tem um irmão. Ele é doido pra te conhecer.

—Você não tem o direito de me exigir nada! Eu só espero que você não cometa com ele os mesmos erros que cometeu comigo.

Ele saiu, mas se virou no meio do caminho. —Eu sei que não foi do jeito certo, mas eu te amo, filho.

Engoli seco e fechei a porta.

—Eu te amei pra caralho. —sussurrei e senti que eu iria chorar por todos os anos que eu me fechei.

 —sussurrei e senti que eu iria chorar por todos os anos que eu me fechei

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Até amanhã, nenens!
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