MAJU
Velório pra mim sempre é uma parada muito pesada. Eu me sinto mal mesmo quando não tenho proximidade com a pessoa, pior ainda quando é de alguém que é ou foi importante pra quem eu amo.
O velório em si não foi aquela coisa que durou o dia inteiro, ainda mais pelo fato do Roberto ter passado muitos anos longe, então só durou o suficiente para que os familiares da Laura e alguns amigos da clínica onde ele trabalhava tivesse tempo de chegar e se despedir.
Poucas pessoas do convívio do Pedro sabiam do ocorrido já que ele nunca foi de falar sobre o pai abertamente com as pessoas, então quem chegou pra dar uma força foi o nosso pessoal de sempre, mas quem passou o tempo todo mesmo com ele fomos eu, Rodrigo e o Hugo.
—Miguel, você tem que comer pelo menos um pouquinho! —falei com ele que fez uma careta pra sopa no prato. Eu segurei pra não rir, eu também não gosto de sopa, mas ele não precisa ficar sabendo.
Depois do enterro, que aliás foi a pior parte como sempre, o Pedro quis vim logo pra casa dele. Estava fugindo das condolências das pessoas, e logo que chegou subiu pro quarto e por lá ficou até agora.
Eu ainda fiquei aqui embaixo, dei banho no Miguel e fiquei distraindo ele um pouquinho enquanto a Dulce fazia uma sopinha de legumes e carne pra ele que não quis comer nada o dia todo, que nem o irmão mais velho. Quanto mais tempo eu passo com o Miguel, mais coisas eu descubro em comum dele com o Pedro.
Dizem que criança não entende dessas coisas, mas o Miguel parecia entender e sentir tudo muito bem. Passou a maioria do tempo no colo do Pedro, tristinho e com a cabeça deitada no ombro dele. Meus pais e a Dulce que de vez em quando conseguia distrair ele um pouco durante o velório e ele até conseguiu brincar quando o outro irmão dele, Arthur, passou por lá, mas ele estava longe de ser aquele menino falante como de costume e permaneceu assim o resto do dia até depois que já tínhamos chegado na casa do Pedro.
—Eca! —ele reclamou e desviou o rosto em mais uma tentativa falha minha de tentar fazer ele comer a bendita sopa.
Okay Miguel, vamos apelar.
—Você gosta muito do Batman né? —ele assentiu animado pela primeira vez desde que chegou e eu já sabia que estava prestes a virar aquele jogo. — Você sabe o que ele comia pra ficar fortão daquele jeito?!
Perguntei quase sussurrando, como se fosse contar um segredo pra ele e ele ergueu as sobrancelhas, todo curioso.
—O que, Ju? —Eu quase morria quando ele me chamava assim. Vontade de morder essa criança.
—Muita sopa de legume!
—É?? —arregalou os olhos e eu assenti já fazendo um aviãozinho com a colher cheia e ele abriu o bocão pra comer. E comeu tudinho depois.
1x0 pra mim.
Depois de comer tudo e escovar os dentes, subi com ele pro quarto que o Pedro tinha arrumado pra ele no mesmo corredor do quarto dele e coloquei no desenho que ele queria ver. Saí do quarto quando e Dulce chegou pra ficar de companhia com ele que estava naquele silêncio estranho do dia inteiro, prestando atenção na tv.
Inclusive acho que deve ser algo de família, porque o silêncio do Pedro era algo que me rasgava o peito de tanta angústia. Eu entendia perfeitamente que esse era o jeito dele de lidar com as coisas, mas eu preferia mil vezes que ele colocasse aquilo tudo pra fora do que sentir todo seu transtorno interno e por fora, ver ele quieto, com o pensamento longe e confuso.
PEDRO
Cheguei e vim direto pro quarto. Precisava de um banho frio e um tempo só pra mim, pra pôr minha cabeça em ordem e deixar com que eu colocasse minhas emoções pra fora, sozinho. No meu tempo.
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Minha Melhor Versão
Teen Fiction+14 completa! Por favor, não me encare tão friamente durante esse dois segundos eternos, porque sinto que me desvenda em cada milímetro. Está lendo as minhas entrelinhas, minhas fugas e receios. Você abre as fechaduras que eu tranquei com tanto cui...