Capítulo 70

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Foi aqui que pediram maratona? 👀
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PEDRO

Nunca em toda a minha vida eu desejei tanto estar alucinando. Ver meu doador de esperma ali na minha frente depois de quase seis anos e escutar ele me chamando de filho como se nada tivesse acontecido nesse meio tempo foi como um soco no meu estômago.

Tudo parecia rolar em câmera lenta enquanto em fração de segundos a minha mente parecia um disco aranhado onde eu revivia com clareza a última vez que ele me abraçou antes de sair pela porta da sala e não voltou mais. Até hoje.

A verdade é que ele é a causa de muitos ou quase todos questionamentos que carrego comigo.

Por muito tempo eu quis ter de volta na minha vida, por muito tempo eu peguei no sono esperando ele chegar, mas é como dizem, quem muito se ausenta um dia deixa de fazer falta, e isso aconteceu. E agora eu não quero mais me importar, não quero explicações e principalmente, não o quero de volta na minha vida brincando de entrar e sair dela quando bem entender.

Respirei fundo tentando me recompor e demonstrar menos emoção possível. Todos ali pareciam esperar alguma reação minha, abri a porta da sala novamente e encarei o cara parado na sala.

—Sai! —apontei com a cabeça a saída e minha voz saiu tão sem emoção quanto eu pretendia. Ele continuou parado, mas agora, me olhava confuso.

—Pedro, meu filho...—ele ia falar, mas eu cortei. Ouvir ele me chamando assim de novo fez meu sangue pulsar na testa de
raiva.

—'Meu filho' o caralho!!! —explodi. Fechei os olhos com força e neguei com a cabeça controlando minha respiração. —Eu não sei o que você quer, nem porque voltou, mas você não vai brincar com meu juízo mais. Se adianta! —apontei pra fora novamente

—Me dá a chance de me explicar, Pedro. Por favor. —a voz dele começou a embargar e eu senti necessidade de desviar meus olhos pra um ponto fixo no chão. —Eu voltei aqui por você, pra te explicar tudo...

—Depois de quase seis anos??? Tá achando que eu sou algum otário?! Ou você acha que eu sou o mesmo moleque de doze anos que vai engolir qualquer desculpa que você inventar como motivo pra ter abandonado o filho dez dias depois dele perder a mãe e nunca mais ter dado um sinal de vida?! Você passou seis anos sem mandar notícia, sem
nenhuma ligação no meu aniversário, sem nenhum cartão no natal. E agora aparece pra se explicar?! Quem você pensa que é pra brincar assim com a vida dos outros?

engoli o nó na minha garganta quando percebi que estava falando mais do que eu queria. Eu nem vi quando a Maju e a Dulce saíram da sala e deixaram nós dois sozinhos.

—Me perdoa, Pedro. —ele interrompeu o silêncio cortante que estava na sala. — Não tem um dia que eu não me arrependa de ter ido embora, mas eu tive que ir. Eu tinha planos de voltar em poucos meses, mas as coisas não aconteceram como eu havia planejado... Enfim, eu fui embora pro seu bem.

—Pro meu bem?! —ele assentiu e eu ri fraco, sem humor e inconscientemente soltei a porta que foi fechando devagar. —Você tem noção do que eu passei nos piores anos da minha vida pra vim aqui meter essa de que você sumiu pelo meu bem?

—Não. Eu não tenho! Mas você vai entender que essa é a verdade.

—A sua verdade!!! —frisei— E ela pra mim, depois de tanto tempo, pouco importa.— falei e fui me aproximando dele— Porque a minha verdade, Roberto, é que desde que você foi embora eu te esperava voltar todos os dias. Todos. Por dois anos eu peguei no sono aqui nesse sofá porque eu queria ser o primeiro a te ver quando você chegasse. —minha voz começou a embargar e ele desviou o olhar do meu por um minuto— Você nunca chegou, nunca mandou a porra de uma mensagem nem no meu aniversário, e você sabia como essa era uma data importante pra mim.

Ele fez menção pra falar algo, mas eu cortei e continuei falando porque eu tinha a necessidade de falar tudo de uma vez ou eu não falaria nunca mais.

—E mesmo assim eu não desisti de você. —continuei— eu era um moleque de catorze anos que fiz a Dulce rodar comigo atrás do melhor detetive particular pra encontrar você porque na minha inocência eu achava que você estava desaparecido e correndo algum perigo, sei lá. Mas pra minha surpresa você estava muito bem, Roberto. Você já tinha até outra família! Com direito a esposa grávida, e um enteado que pelas fotos e vídeos era muito apegado a você. —uma lágrima grossa pingou dos meus olhos no mesmo segundo em que eu as limpei— E partir daquele dia eu entendi que apesar de eu não ter desistido de você, você já tinha desistido de mim a muito tempo.

—Não era pra você saber desse jeito sobre meu casamento com a Laura... Mas ela é uma mulher incrível que me ajudou a sair do álcool e ser um homem responsável e bom marido.

Um riso sarcástico e nervoso me escapou pelos lábios ao ouvir aquilo.

—Eu deveria te dar os parabéns? Porque a minha mãe era uma mulher incrível que morreu tentando salvar o alcoólatra e infiel de merda que você era com ela.

Ele mais uma vez abaixou a cabeça e concordou. —Você tem razão. Eu não fui um bom marido pra sua mãe. E eu fui embora por medo de não conseguir continuar sendo um bom pai pra você, meu filho.

—Você foi embora porque é covarde! E para de me chamar de filho como se você não tivesse cagado pra mim por todos esses anos! Você deixou de ser meu pai a muito tempo. E a escolha foi totalmente sua.

—Eu tive medo!!! —ele disse mais alto—Eu me senti culpado pela morte da sua mãe e me matava por dentro te ver tão triste. Eu não queria causar em você o mal que eu causei a sua mãe.

—Ta satisfeito? Porque a única coisa que você conseguiu foi fazer mal a nós dois.

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