Capítulo Sessenta e Oito.

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G I U L I A

Passei a manhã toda com o Breno e ainda almocei com ele e o Felipe. Como hoje eu teria palestra, não iria trabalhar. Depois do almoço partir pra faculdade, dei sorte que tinha uma cadeira atrás da Mila.

- E aí, bebê. Tá melhorzinha? - perguntou.

- Tô tentando, amanhã já tenho o exame marcado de sangue. E aí vem todas as responsabilidades de uma mãe. Difícil, hein... - respondi revirando os olhos.

- Quer que eu vá com você?

- Vamos eu, você e o Breno. A May e a Manu vão estar trabalhando, não quero que elas percam o dia de trabalho.

Conversamos por mais um tempinho, mas a professora chegou falando pra caralho. Tu prestava atenção? Porque eu não. Totalmente alheia, o que me confortava era que a Mila tava anotando tudo, depois ela me mandava e pronto.

Passei a palestra toda comendo, dormindo e olhando pro nada. A Camila me chamava atenção nas partes mais importantes e logo depois eu voltava a dormir. Pelo visto os sintomas que já tinha aumentou com a gravidez, muito sono, cansaço e a fome já era normal na minha vida.

Encontrei com a Mayara e a Manu no refeitório, sentei já encostando no ombro da May.

- Carinha de morta, hein, amiga - falou e eu fiz bico.

- É a minha nova realidade, amou? Tá tudo aumentando, inclusive uma dor no peito quando encostam que só falto morrer. Que isso!

- Consequência, irmã, consequência... - Manu me deu um copo de água.

Aproveitamos que o Davi estava por ali com Breno e pedimos carona pra casa. Mas como eu tenho um karma chamado: Nathalie, ela me parou quando estava mais atrás do pessoal.

- Era como você mesmo que eu queria falar... - começou o inferno, a voz chata dela agora me irritava mil vezes mais.

- Ai garota, tô morta de cansaço, olha minhas olheiras, me deixa em paz! - tentei sair, mas ela puxou meu braço.

- Você sabe que a culpa do acidente do Felipe é sua não é? - arregalei os olhos.

- Minha? - perguntei quase sem voz com as memórias daquela época vindo fortes.

- Você expulsou ele, a culpa é toda sua, todo sofrimento foi por sua causa, ridícula.

- Me erra, Nathalia. Sério, tô sem paciência agora... - novamente tentei sair, porque sentir que aquela conversa ia dar merda.

- É NATHALIE! O tanto que a mãe dele sofreu pensando que o filho ia morrer, a única pessoa que ela tem, o sentimento dela de perda. Você mesmo viu como ela ficou, como os amigos se sentiram. Tudo isso seria evitado se você não tivesse expulsado o coitado do seu apartamento - o peso daquelas palavras bateu forte em mim, depois de tanto tempo, eu pensei que isso não me tocava mais. Até porque, eu conversei com a tia Lua e o Felipe sobre isso. Mas ver ela falar daquele jeito, me subiu um nervoso, fiquei tremendo e com uma pequena falta de ar.

Olhei para as minhas pernas olhando o sangue saindo, eu estava completamente nervosa, sem entender nada. Estava tão aérea que não conseguia ouvir nada, as lágrimas já desciam e eu não conseguia falar nada.

Na minha mente só se passava uma coisa "Perdi meu bebê". Só sentir o Breno me sacudindo e chamando por mim, tentava responder, mas não conseguia falar. Por mais que tentasse, não saía nada.

Mais uma vez o medo tomou conta de mim, de perder um bebê do Felipe, logo dele que sonha tanto com isso. Com essa notícia só iria deixar ele mais feliz e eu também. Minha cabeça deu um giro de 360º graus e veio a lembrança de quando isso acontecia pela primeira vez.

Flashback 🔃

- Me ajuda, Mayara. É meu primeiro filho, eu tô perdendo...

- Amiga, calma, tá quase chegando no hospital. Respira, se você ficar mais nervosa, vai ser pior - falou segurando minha mão com mais força.

- Eu sou uma inútil, nem um filho eu consigo segurar. Não aguento mais, May. Não consigo. Tá doendo, muito, olha o tanto de sangue que eu tô perdendo. É meu bebê, meu filho, um menino - falava chorando - Ô Deus, não tira ele de mim, por favor...

- Não vai, você vai criar essa criança, respira. É normal ter sangramento na gravidez, fica tranquila, Giu. Quanto mais você se altera, mais a situação se agrava.

O carro ia a mil, mas eu sentia que já não tinha mais bebê dentro de mim, eu já não gerava mais um serzinho. Acabou, minha vida acabou exatamente naquele momento. A culpa é minha, sempre é culpa minha, que ódio!

...

- Eu perdi não foi? Meu bebê morreu? FALA PRA MIM, MAYARA! - gritei aflita e ela não abria a boca.

- Sim...

Flashback 🔃

Quando o sol chegarOnde histórias criam vida. Descubra agora