Capítulo Seis

403 54 3
                                    

Khione

Meu coração palpita cada vez mais rápido, a cada batida na porta, e em um piscar de olhos ela vem ao chão, dou um passo para trás recuando, procurando alguma possível saída.

— Vocês teriam me poupado trabalho se tivessem aberto a primeira batida. — A voz feminina soa familiar, porém ainda não consigo destinguir seus traços da escuridão noturna, até que um feixe de luar atinge seu rosto, revelando sua identidade.

— Você! Quase nós matou de susto, como se já não bastasse tudo que aconteceu hoje.

— Como eu disse, poderiam simplesmente ter aberto a porta.

— Você está ciente de tudo que houve? O Demir, Arwen? — Estella esbraveja as palavras.

— Uma pergunta melhor a fazer, como nos encontrou? — Ela me olha com desprezo, como se acabasse de perguntar a coisa mais estúpida que já tivesse ouvido em toda sua vida. Ainda não consigo acreditar como em quarenta e oito horas descobri que meu avô não me contou a real verdade sobre nossa família, ou sequer sobre minha vida por inteiro, no que devo acreditar daqui para frente?

— O Arwen já previa que isto iria acontecer, Demir achou sábio levar a você, Khione, da beira da estrada até Cleveland conosco, e não deixá-la a própria sorte, acho que ele só não havia previsto ela. — Disse apontando para Estella.

— Pode nos contar o que está acontecendo então? — Pergunto esperançosa.

— Sim, porém não sei se tenho todas respostas que procuram, mas esses livros devem ter.

— Demoraremos uma eternidade até lermos esses livros por completo. — Ela sorri pegando um livro e o folheando rapidamente.

— Na verdade não, existe algumas vantagens em ser um demônio, mesmo que poucas. Uma delas é a rápida compreensão, ou seja, consigo ler isso — Aponta para todas as prateleiras — em menos de duas horas.

— Então veio até aqui para nos ajudar?

— Sim, sou uma amiga, e vim para ajudar.

— Ótimo, por que na situação em que estamos toda ajuda é bem-vinda.

— Agora pode nos contar o que sabe sobre tudo isso?

— Com toda certeza, mas antes devem se sentar, enquanto coloco esta porta no lugar novamente. — Ela se levanta, deixando tudo como anteriormente.

— Antes de começar, poderia dizer seu nome? Ainda não sabemos.

— Psyche. Mas deixe-me dar início ao que sei. — Ela respira fundo e prossegue. — Confesso que meu conhecimento a respeito de vocês não é extenso, muito provavelmente maior do que sabem sobre si mesmas, porém nada muito detalhado. Khione tudo que sei sobre você é que nasceu nos céus, informação que consegui graças a base de dados de Elphia, Arwen a tirou de lá com alguns dias de vida, desde então vocês estão aqui na terra, com a sua devida família até o momento. Não sei por que minha espécie estava atrás dele e do Demir, pelo fato de seu avô sempre ter sido extremamente reservado quando se tratava de sua vida pessoal, nunca soube muito sobre ele, somente que era um de nós. Estella, você por outro lado, não está na base élfica, mas sabemos que é uma de nós, pois demônios não sequestram humanos, ou ao menos nunca ocorreu até hoje, os humanos ficam totalmente isolados do nosso mundo, iria totalmente contra nossas normas nos conectar com eles, acredito que minha espécie não chegou ao ponto de desrespeitar uma lei tão importante.

— Existe alguma forma de chegarmos ao céu?

— Sim, mas demônios são estritamente proibidos por lá.

— A guerra no céu que os cristãos humanos tanto dizem é real?

— Não sei, bem, ninguém fala sobre o que aconteceu, a nova geração não faz muita ideia do que houve, só que anjos e demônios não coexistem mais em paz.

— Poderia nos levar ao menos até a entrada?

— Até os portões do céu? Claro, mas logo aviso que vocês teriam de fazer um teste antes de poder entrar. Ah, e claro, quase me esqueço,todos estes livros são de todas as seis culturas de nosso mundo, nossos seis povos, toda história até aqui, ou quase toda. O que será bem útil já que Demir não está conosco para nos teletransportar, algum desses feitiços de Faileas deve servir.

— Faileas? — Pergunto confusa.

— Me esqueço ainda que não conhecem todos os reinos, quando voltarmos dos céus lhes contarei a história de todos nossos povos, ou simplesmente farei com que leiam todos esses livros, já que é de extrema importância saber os costumes de cada um deles. Agora venham até aqui. — Ela diz com um livro entre as mãos. — Repitam as seguintes palavras, "Caelum videmus lumen tuum et claritas, et volunt gloria tua et decore tuo ostende nobis magis propinqua fortitudinem, et ubera tua invenies ius est." — As palavras ressoam em meus ouvidos como um doce som, mesmo que nunca as tivesse escutado. Meus lábios se movimentavam produzindo o som do feitiço, e ao final do último ponto, estávamos em nossos destino desejado, os céus.

— E aqui estamos, estarei esperando aqui quando voltarem.

— Prefiro que só a Khione vá, já que aqui é o seu lugar de nascença, não sei se estou pronta para mais seres místicos no momento.

— Esse é o seu mundo agora Estella, vai ter que se habituar a nós.

— E eu vou, mas não agora, te espero aqui Davis.

— Tudo bem. — Puxo o ar fortemente, o sentindo entrar em meus pulmões e logo depois sair por minha boca, não esperava encarar isso sozinha, mas sigo em frente até os portões. Eles são grandiosos, majestosos e reluzentes, dois seres que julgo serem anjos, já que estou no céu, estão juntos guardando a passagem, são completamente distintos da forma como são descritos pelos terrestres, não possuem cabelos loiros, nem ao menos são brancos de olhos azulados. Mas sim, os que vejo possuem asas, grandes asas que cobrem seus corpos, têm uma estatura esguia e seus cabelos são brancos como a neve, sua pele negra como a noite, estão vestidos por armaduras prateadas e carregam uma espada de fogo flamejante, seus olhos são arroxeados e aparentam ser gêmeos, não fazia ideia de que existia essa possibilidade entre anjos. Me aproximo e eles estendem as espadas em minha direção.

— De onde vens?

— Terra.

— Humanos não podem vir até aqui, quem a trouxe?

— Não sou humana, nasci aqui e estou a procura de respostas, podem fazer o teste. — Por mais que não faça ideia de que teste seja esse falo com toda convicção que tenho.

— Pois bem, estenda a mão. — Levo a mão direita a frente e um deles passa a lâmina de uma faca bem afiada em minha palma, um fio de dor atravessa meu corpo e o sangue vermelho jorra da ferida recém aberta, o outro recolhe a lâmina deixando-a submersa em um tipo de líquido escuro, alguns segundos depois a retira e abre um sorriso.

— Bem-vinda aos céus.









Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora