Capítulo Oitenta

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Olho para os céus e vejo o motivo do estrondo, milhares de luzes estão no ar, fogo celestial. Anjos.

- Psyche. É um ataque! Me leve até lá.

- Khione você não está em condição de fazer muita coisa, mal conseguirá se proteger.

- Me leve até lá!

- Tudo bem. - Ela me pega em seus braços e ativa sua velocidade chegando até o palácio em menos de um minuto. Anjos, demônios e vampiros lutam contra nossos soldados. Uma fenda enorme está aberta no meio do chão.

- Procure Lyssa. A leve para um lugar seguro.

- Não vou te deixar aqui sozinha.

- Ande logo! Leve-a para algum lugar seguro. - Ela obedece o que digo e sai procurando por Lyssa.

- Encontrei quem vim procurar. - Ouço a voz rouca familiar.

- Psyche. - Me viro com certa dificuldade por conta do álcool, péssima escolha de dia para me embriagar.

- Mais uma vez não esperava por isso. Você tem que começar a colocar barreiras para que meus soldados não consigam atacá-la com tanta facilidade.

- Não vai vencer, como nunca venceu em nenhuma das vezes.

- Claro que vou, dessa vez vou. - Está vendo isso? - Estende as mãos mostrando um pequeno fraco com um líquido branco. - É a droga que você me ajudou a desenvolver. Irônico não? - Gargalha. - Ao contrário da sua falha tentativa que durava apenas meia hora esse líquido pode neutralizar poderes de místicos até que um antídoto seja dado. E não existe um. - Assim que eu aplicar isso em sua corrente sanguínea nenhum de seus poderes irá funcionar, assim como o de todos seus amigos, que inclusive já estão a minha mercê. - Estella, Kastian, Meliorne e todos os outros estão sendo alguemados com fios de luz, são inofensivos sem seus poderes. - A vitória é algo lindo e grandioso Khione, uma pena você não poder conhecê-la. Eu avisei para se render a mim, se tivesse feito isso teria evitado muitas mortes, inclusive a sua. Porém como sou misericordiosa deixarei que morra com o mínimo de dignidade, com seus poderes intactos, eles não me atrapalharão de qualquer forma. Ela lança um raio contra mim e meus reflexos não são rápidos o bastante para desviar, fecho os olhos e espero a onda de energia se chocar contra meu corpo, mas ela não vem, abro os olhos e entendo por quê. Lá está ela no chão, seu corpo se debatendo, sangue viscoso saindo por sua boca e nariz, os olhos sem o brilho que costumavam ter, e sei que sua morte é iminente. - Não! - Grito fazendo uma barreira protetora entre Psyche e nós, me agacho pegando Lyssa nos braços, colocando sua cabeça em meu colo olhando fixamente em seus olhos. - Lyssa! Lys! - Chamo procurando resposta, todavia ela não atende meu chamado, seu rosto pálido pela quantidade de sangue que está perdendo, o choque do raio deixou várias partes de seu corpo profundamente expostas e o cheiro de carne queimada exala no ar. - Por favor Lys, está me ouvindo, pode me compreender? - Me dou conta de que estou chorando, depois de tantas mortes achei já ter me acostumado, mas percebo que não.

- Khione? - Sua voz fraca e falhada me chama.

- Sim, estou aqui. - Digo a ela a segurando firme como se fosse um recém nascido. A aperto contra meu peito molhando seu rosto com minhas lágrimas que insistem em cair ainda mais.

- Khione, você está bem? Consegui evitar o raio? - Ela pergunta olhando para mim, seu olhar corta minha alma como uma faca afiada, é como se um demônio rasgasse meu peito e arrancasse meu coração dele, não somente por que sei que irá morrer mas também por saber que nossa filha irá junto com ela.

- Conseguiu Lys, você conseguiu. - Respondo olhando para seu belo rosto, tentando decorar mais uma vez cada detalhe dele, pois sei que é a última vez que o verei. Não entendo porquê fez isso, ela não deveria estar aqui, se estivesse com ela isso não haveria acontecido, se não houvesse beijado Mykal aquela noite certamente estaria ao seu lado e a protegeria, não estaria bêbada ao ponto de não conseguir salvar minha própria vida.

- Isso significa que não temos muito tempo. - Diz olhando para os pés que já desaparecem como poeira ao vento, levando consigo a pele queimada e possivelmente a dor que sentia.

- Não temos. - Choro incessantemente, quero controlar mas não consigo, vou perdê-la e dessa vez será permanentemente.

- Ei, não chore. - Ela estende sua mão e seca as lágrimas de minha bochecha. - Você vai ficar bem, eu sei que vai. - Sorri o máximo que consegue mas arfa de dor. - A ame, a ame com todas as suas forças. - Essas são as palavras que ouço.

- O que? - Indago confusa.

- Mykal. A ame, a ame assim em todos os momentos, não saia de seu lado, seja dela e somente dela, entregue e todo seu ser a essa mulher. A ame tanto que não sinta seu coração bater se não a tiver do seu lado. A ame tanto que se sinta consumida pelo desejo de tê-la. A ame como se o mundo não existisse além dela. Só não cometa o mesmo engano que eu, pois não posso chamar o que tivemos de erro, mas não cometa jamais esse engano. Não ame com tanta intensidade, com tanto calor, com tantos sentimentos incapazes de se descrever, alguém que jamais amará do mesmo jeito você. Não ame jamais alguém como eu amei você. - Assim que a última palavra sai de sua boca, seus olhos se fecham, e o restante de seu corpo se dissolve no ar, sinto vontade de gritar, de destruir esse sentimento que habita em mim, essa tremenda culpa, porém esse é um fardo que carregarei até minha morte, saber que ela se entregou por mim mesmo quando eu a traí da forma mais cruel que alguém poderia fazer, mentindo, dizendo que a amava com todas as forças de meu ser. Assim que o corpo de Lyssa desaparece completamente posso ver Psyche sorrir da forma mais satisfeita que poderia existir, uma chama queima dentro de mim, algo que não posso controlar, me levanto do chão lentamente, cerrando os punhos. A barreira de proteção é quebrada e ela se prepara para dessa vez acertar o raio mas seus poderes falham, ela parece não entender o porquê, mas eu sei o motivo. Meu corpo levita no ar assim como no desaprisionamento, meus olhos ficam de cores distintas, um totalmente branco como a neve e um negro como a noite.

- Sou filha das trevas e da luz, nascida entre todas as magias, controlo todos os poderes místicos já existentes, como ousa me desafiar? - Minha voz saí com superioridade e eu a fito de uma forma torturante. Seus soldados vem para ajudá-la pois sabem que a matarei. Porém seus esforços são completamente em vão, ao chegarem perto de mim cada um deles cai por terra, agonizando de dor, estou fazendo isso, estou os matando. Legiões e mais legiões vem para me atacar, contudo uma por uma são dizimadas com apenas um toque ou olhar. - Seus soldados se foram, você não tem mais nenhuma alternativa, aceite sua morte. - Digo me virando novamente para Psyche mas ela já não está mais ali. Somente um recado feito com os restos de Lyssa.

"Uma excelente tentativa, porém falha, não fez o que tanto desejava e jamais conseguirá fazer, você nunca será capaz de me matar."

Solto um grito tão agudo que quebra todas as vidraças do castelo de Niran, volto a minha consciência e meus olhos ficam normais novamente, caio em choro vendo que Lyssa realmente se foi. Me sento perto de suas cinzas e minhas lágrimas as transformam em lama. É quando Mykal se aproxima me abraçando por traz.

- Ela se foi raio de sol, ela se foi. - Me abraça o mais forte que pode.

- Vou encontrá-la e terei o prazer de cortar seu corpo com minhas próprias mãos, lhe dar a morte mais dolorosa que algum místico já sofreu. Sangue só se paga com sangue e a vida de milhares cairão sobre o seu.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora