Capítulo Quinze

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- Não consigo fazer isso, ela ficaria devastada.

- Ela ficará pior caso te veja com outro alguém, alguém que você esteja realmente apaixonada. - Olho para Khione ao lado de fora pelo vidro da imensa janela.

- Ela?

- Você sabe, eu sei, nós sabemos, e está tudo bem. Só seja sincera com a rainha.

- Estella você se equivocou um pouco. - Psyche ri afrouxando a gola da blusa.

- Seja franca consigo mesma, você deixou de dormir no quarto real que é milhares de vezes mais confortável para dormir no nosso, somente por ser ao lado dela.

- Não estava com sono o suficiente para dormir, e também nem um pouco afim de olhar Kastian enquanto ela dormia.

- Acaba de provar que está realmente apaixonada. Vi você observando Khione dormir com um sorriso nos lábios.

- Você viu? - Ela cobre o rosto em sinal de vergonha.

- Não, mas agora eu sei que realmente fez isso. - Digo rindo.

- Já te disse que não gosto de você? - Diz fechando o rosto.

- Não contarei a ela, será nosso o segredo. Mas te incentivaria a contar, é claro se eu soubesse de algo, mas como eu não tenho ideia do que se passa pela cabeça de minha querida companheira não posso lhe influenciar a algo.

- Khione te disse algo a respeito?

- Com palavras não, porém é notável, até alguém desprovido de visão veria como olha para você, como ela repara em seu corpo, como ela nota você.

- Tens razão, noite passada pude perceber isso.

- Vocês fizeram algo noite passada?

- Não, por que a pergunta?

- Hoje pela manhã quando a acordei notei um certo atordoamento, como se estivesse em um sono muito profundo e com sonhos bons.

- Certo. Me de um minuto. - Diz saindo da sala.

Khione

Saio da sala junto a Kastian, que logo em seguida sobe o enorme lance de escadas até seu quarto, imagino. Reparo Psyche e Estella conversando, coisa que nunca havia visto antes, de repente Psyche se levanta vindo em direção a porta com rapidez.

- Quer treinar mais? Está precisando, perdeu para Estella.

- Obrigada pelo apoio, você é uma excelente amiga. - Digo ironicamente.

- Quem te disse que sou uma amiga?

- Desde quando se virou contra mim para ser uma inimiga?

- Não sou ambos.

- Não estou te entendendo.

- Posso ser algo a mais para você, algo além de uma amiga. - Ela diz e minha reação é sorrir.

- Temos três segundos antes que Kastian apareça e separe minha cabeça do corpo.

- Preocupa-se demais com o que Kastian fará ou deixará de fazer conosco... - Se aproxima passando as mãos por meus ombros subindo por meu pescoço até tocar minha boca. - Se isso acontecer. - Completa a frase beijando meus lábios. Seu beijo é quente assim como em meu sonho, sua língua desbrava minha boca como imaginei.

- É por ela? - Uma risada ecoa e a reconheço imediatamente, a rainha está aqui. - Por ela Psyche? Eu imaginava. Mas descer seu nível a esse ponto? Não pensei que seria capaz. Por um anjo? Uma fugitiva, me trocar por uma fugitiva, meus parabéns. - Diz batendo uma mão contra outra como palmas irônicas. - Vocês se merecem. Uma traidora e uma fugitiva, o casal perfeito. Guardas!

- Kastian.

- Eu dei tudo a você, tudo era seu, me tinha em suas mãos e sabe muito bem disso.

- Eu não...

- Não ouse dizer que não tinha a intenção, sabia que não me amava, mas pensei que com o tempo isso poderia mudar, que algum dia você acordaria e magicamente perceberia que eu sempre estive aqui por você, que te amava, que te queria mais que tudo e assim também me amasse e me quisesse mais que qualquer coisa. Mas vejo que só retardei algo que sabia que aconteceria.

- Pode me dar ao menos a chance de explicar a situação?

- Como explicar o que meus próprios olhos viram?

- Não isso. Explicar o que houve entre nós.

- Me poupe do seu forçado discurso. Esperançoso para que não as expulse daqui acredito. Não adiantaria. - Esbraveja virando-se.

- Eu tentei, te juro, tentei ama-la com todo meu coração, de todo o meu ser, de corpo e alma. Nossa conexão sempre foi maravilhosa, mas confundimos as coisas, lembra quando éramos somente boas amigas? Quando não havia as complicações amorosas ligadas a nossa relação, quando o fato de dormirmos juntas não interferia em nossa amizade. Olha onde estamos agora? Vale mesmo a pena?

- Belo discurso, como previ que faria. Sim eu me lembro, não éramos boas amigas, você era minha amiga, e eu, bom, eu era a pessoa apaixonada por você, sem ser correspondida. Sabe o que eu senti quando me beijou pela primeira vez? - Diz com lágrimas escorrendo pelo rosto. - Você sabe? Sabe como meu coração ficou quando te vi beijando outra boca que não era a minha? Quando disse pela primeira vez que era minha, quando me tocou pela primeira vez? Você não sabe e muito provavelmente nem se lembra, você aparecia quando precisava de algo ou quando queria meu corpo. Então não venha me dizer que tentou, só dessa vez, dessa única vez, fale a verdade pra mim, você nunca nem pensou em me amar. - Ela diz enxugando as lágrimas. - Guardas por favor tirem elas daqui.

- Não, vamos conversar.

- Agora você quer conversar? Ótimo, por que não veio conversar ontem depois que transamos? A desculpe você estava em outro quarto, nem se quer me dirigiu a palavra antes de sair.

- Admito, não fui boa para você, mas podemos conversar? Sabe que nos colocar para fora seria o mesmo que dar nossa sentença de morte, nosso sangue estaria em suas mãos.

- Claro, precisam do meu reino ainda. Não expulsarei vocês, por mais que tivesse motivos o suficiente para isso.

- Obrigada vossa alteza. - Arrisco dizer.

- Não me diga um palavra nunca mais, me entendeu?

- Sim majestade. - Digo olhando em seus olhos, a vejo sair pela porta principal indo até os jardins do palácio. Psyche está ainda em choque mas ouço suas palavras ao fundo.

- Me desculpe.

- Não precisa...

- Preciso sim, quase acabamos de ir em direção a morte, se sairmos daqui com toda certeza seremos mortas.

- Mas ainda estamos aqui, e por ora acho melhor isso. - Aponto para nós. - Não acontecer.

- Certo, como quiser. - Ela diz e sai para meu quarto e o de Estella, que acredito agora ser o dela também. Enquanto isso me sinto ainda anestesiada pela situação, tanto que não penso e somente vou atrás da mortal rainha.

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