Capítulo Setenta e Cinco

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Khione

- Lyssa, você está bem? - Entro no quarto depressa. Ela está a beira da janela chorando. - Lys. - A abraço por trás, enlaçando seu corpo ao meu.

- Estou bem. - Diz secando as lágrimas.

- O que houve? Por que está chorando? - Me sinto culpada por não estar ali antes e sim por estar procurando Mykal.

- Nada, estou bem. Mas quero lhe perguntar. Já que provavelmente Lilith estará aqui em breve, no máximo em dois dias, quando iremos realizar nosso casamento? - Foge do assunto e eu sigo seu rumo.

- Se quiser podemos fazê-lo nesta semana ainda. - Falo ainda preocupada pelo motivo que a fez chorar. Conheço Lyssa bem o suficiente para saber que se alguma coisa lhe custou lágrimas deve ser um assunto muito importante.

- Seria ótimo. - A perna treme enquanto senta na cama.

- Tem algo para me contar? - Indago. Ela tem estado cada dia mais estranha e inquieta, sei quando esconde alguma informação e posso dizer que está fazendo isso no momento.

- Não. - Fita meus olhos e sei que está mentindo.

- Lyssa...

- Só esqueça isso, ok? - Coloca o rosto entre as mãos e desaba em lágrimas novamente.

- Ok. - Deito-me na cama, puxando-a para ficar em meu peito, sua respiração é cortada por soluços e tosses. - Está tudo bem, eu estou aqui com você. - Sussurro baixo em seu ouvido e ela me agarra como se pudesse escapar ou sumir a qualquer momento. Em poucos minutos já está dormindo, queria poder fazer o mesmo mas minhas preocupações não permitem. Estella passará pelo mesmo processo que eu amanhã, meu casamento está tão próximo quanto nunca, minha noiva chora por um motivo que desconheço e a guerra ainda está ativa. Tiro meus braços lentamente do corpo de Lyssa para conseguir sair da cama sem acorda-la, dou passos lentos fechando a porta delicadamente, saindo em direção aos portões do palácio.

A noite está clara pela luz do luar, refletindo nas densas águas de Niran. Me sento a beira da água admirando os céus e os vagalumes que por ali passam, olho para meu colar que tilinta ao soprar do vento e as lembranças vem a tona.

- Aquela noite se repete. - Ouço a voz e a risada familiar. - Posso me sentar aqui? - Fala e eu assinto.

- O que está fazendo aqui a essa hora?

- Poderia lhe fazer a mesma pergunta, não acha?

- Certo.

- Estava te procurando mais cedo e quando a vi passar pelos portões deduzi que estava sem sono como de costume, uma brecha para falar com você.

- E o que queria?

- Não fui eu. - Afirma respirando fundo.

- Não foi você? - Pergunto mas imediatamente sei do que está falando. - Mykal, já tivemos essa conversa.

- Tenho como provar, não fui eu. - Diz e posso ver um fio esperança em seus olhos.

- Como sabe e tem tanta certeza?

- Demir e Arwen estavam no calabouço do Inferno, todo aquele lugar é monitorado por câmeras, precisei de alguns esforços e consegui os vídeos daquele dia.

- Você foi ao Inferno? - Digo em um quase grito. - Mykal, perdeu completamente o juízo? Podiam facilmente ter te capturado.

- O inferno não é nada comparado até onde iria para obter seu perdão. - Diz retirando uma pequena fita de um dos bolsos da calça de couro. - Isso prova de que não matei o Arwen. Espero que me perdoe depois de ver o que contém aqui. - Fala apertando um botão minúsculo em um dos lados da fita fazendo com que um vídeo apareça em nossa frente. Demir e Arwen estão presos em uma cela até que Núria e Psyche retiram meu avô da companhia do elfo. O levam até a sala ao lado e o trancam com um vampiro ao qual não faço ideia de quem seja.

- Tem certeza que realmente é Khione que está em seu reino? Pelo histórico que sua filha tem pode ser qualquer mulher ruiva de todos os seus reinos.

- Tenho certeza.

- Qual é seu propósito com isso? Não vejo os benefícios que nos traria. - Psyche desdenha.

- Por mais que odeie admitir Mykal é poderosa, uma boa guerreira, e seria ótimo tê-la em nosso lado. Pelo que tenho visto está caindo nos encantos da herdeira angelical, conheço minha filha quando se apaixona, caso isso aconteça fará qualquer coisa por Khione, até ficar em seu lado na batalha. E a tortura psicológica que irá sofrer por ser rejeitada pela mulher que está amando será ótima de se ver. - Dá uma gargalhada. - Só precisamos fazer com que ela pense que matou Arwen, do resto eu própria me encarrego.

- Tudo bem. Faça o que achar melhor. - O vídeo se encerra e a fita cai no oceano, afundando como uma pedra.

- Foi uma armadilha, tudo planejado por Núria. - Os nós de seus dedos ficam mais brancos que sua pele pela força com que os aperta, existe raiva, ódio em sua face. - Fui enganada. - Diz por fim olhando pra mim.

- Nós fomos. - Digo por não saber como reagir a essa informação, todo o quadro da situação muda agora, não foi ela, Mykal não foi a responsável pela morte do homem que cuidou de mim desde meu nascimento, ela é inocente e eu a perdi sem motivos. - Não foi você. - A aperto com toda força que consigo tentando recuperar o último ano sem quase vê-la ou toca-la.

- Eu disse que esperaria pelo dia em que iria me perdoar, disse que esperaria por você. - Fala em meu ouvido.

- Mykal...

- Eu sei Khione, não posso fazer isso com você. Tem uma vida, uma noiva, uma realidade sem mim inclusa nela e devo aceitar isso. Talvez não seja nesse universo, nem nessa realidade ou nessa vida, mas você com certeza ainda será minha. - Sorri de canto encostando sua testa na minha.

- Em outra realidade...

- Você a ama? Ama mesmo a Lys?

- Não sei.

- E por que ainda está com ela e aceitou seu pedido se não sabe?

- Não sei.

- Acha que vai conseguir amá-la verdadeiramente algum dia?

- Talvez, porém não como você. E me sinto horrível por dizer isso.

- Ela é uma ótima mulher Khione, merece o seu melhor, dê tudo que tem a ela.

- Vou tentar. - Inspiro o ar úmido da praia de olhos fechados tentando imaginar o futuro. - Sabe que grande parte de mim sempre será sua, não sabe?

- Grande parte não é o suficiente para te ter por completo.

- Eu te amei Mykal. Te amo até hoje.

- Eu também Khione, eu também.

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