Capítulo Vinte e Nove

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— Liberte-a Lilith! — A antiga comandante diz firmemente.

— Quem você pensa que é para me dar ordens? — Sinto a raiva que arde dentro de meu corpo comandado pela destronada rainha demoníaca. 

— Você está possuindo uma inocente. — Ela chega mais perto.

— Possuindo? — Meus lábios abrem um sorriso. Mesmo que eu tente não consigo fazer com que pare de me controlar. 

— Sim, faria total sentido você e Áster terem desaparecido, foram viver suas vidinhas tranquilamente sem nenhuma preocupação.

— Pelo inferno Psyche, não toque no nome dela, não quero pensar no que pode ter lhe acontecido.

— Não seja tão sínica Lilith. — os lábios de Psyche estão trêmulos, imagino que seja por causa da esfera azulada que se forma em minhas mãos.

— Não fico surpresa por não saber o que ouve, resolveu fugir ao invés de lutar ao meu lado. — A esfera cresce cada vez mais, sua luz forte ilumina o quarto e imagino os efeitos que isso pode causar caso seja disparada. — Soube que dominou o inferno por um curto período de tempo, foi por essa causa que não apoiou sua rainha na guerra?

— Deveria me agradecer por ter resgatado sua filha, caso contrário ela estaria morta.

— Agradece-la? Certo, agradeço por ter feito com que ela passasse por diversos experimentos, inúmeras drogas e substâncias desconhecidas sendo injetadas em seu corpo, por cada perda de memória, por cada hematoma.

— Como sabe? — Os olhos de Psyche estão arregalados um nó se forma em sua garganta e me pergunto se ela está conseguindo respirar. Ao mesmo tempo absorvo o que Lilith disse e me sinto confusa, não faço ideia do que está acontecendo.

— Ao contrário do que pensa não estou possuindo esse corpo, e sim resido nele há trezentos anos.

— Aprisionamento, você também. — Quero gritar, perguntar o que isso significa, o que é um aprisionamento, por que não estou no controle de meu corpo, mas não consigo fazer nada, nem sequer mover um fio de cabelo.

— Sim, eu vi tudo que fizeram com ela até hoje, todos os testes, todas as vezes que quase morreu, eu senti sua dor. — E nesse instante noto que a filha resgatada sou eu. As palavras se encaixam, a perda de memória, acordar em um galpão que relembrando parecia algum tipo de laboratório, não há ninguém a minha procura, em nenhum mundo. Sou simplesmente um rato de laboratório, Yaza estava certo.

— Lilith, deixe que Estella retome o corpo dela.

— Não enquanto eu não destruir você. — A esfera azul em minhas mãos é lançada com toda força em Psyche, que quase não consegue desviar.

"Lilith pare!" — Grito internamente e sei que ela me ouve pois desfaz a próxima esfera.

— Por quê? — Ouço sua voz vacilar.

"Precisamos dela viva." — Ela se emudece e segundos depois sinto meu corpo responder aos meus comandos.

— Você tem muito para me responder Psyche, muito. — Meus olhos se estreitam e então vejo seus lábios se abrirem na tentativa de dizer algo, mas o som não saí.

— Me desculpe. — Por fim consegue falar.

— Você me resgatou? De onde?

— Dos céus. — Ela diz cabisbaixa.

— Como? Sou um demônio, não posso ter nascido nos céus.

— E não nasceu, Samael te levou até lá.

— O que você quis dizer com você também?

— Khione também tem alguém aprisionado dentro dela, e juntando todos os fatos acredito que seja Áster.

"Áster? Khione?" — Lilith pergunta para mim.

"Sim, existe essa possibilidade."

— Então se Áster está nela e Lilith está em mim, existe uma chance de sermos irmãs. 

— Aparentemente sim. — Psyche diz também espantada com a probabilidade.

"Minha filha? Ela está aqui? Me leve até ela!" _ Lilith grita em minha cabeça.

— Preciso vê-la. — Saio do quarto em disparada, corro pelos corredores esbarrando em um dos guardas, vejo sua cara fechada mas ele não se atreveria a adverter alguém que sua rainha tanto preza. Chego a porta de meu quarto e fico relutante para abri-la, quando enfim tomo coragem me deparo com as camas arrumadas e a luz apagada, ela não está aqui. Desço as escadas quase tropeçando em meus próprios pés, ignorando metade das coisas que ouvi, Psyche pode esperar para que eu a confronte sobre o que Lilith disse a seu respeito. A ansiedade corrói meus pensamentos e a euforia e o medo me sufocam. Quando chego ao salão principal lá está ela, junto a Mykal, com quem grita.

— Não quero você se desculpando somente para tirar o peso da culpa de seus ombros, você o matou sem nem hesitar, você fez isso. — Khione bate a mão contra o peito de Mykal com mais força do que esperava, fazendo com que caia para trás.

— Khione, preciso falar com você. — Digo timidamente enquanto Mykal se levanta.

— Khione, por favor, me escute só uma vez, não te pedirei mais nada, se não quiser me ver pelo resto de sua vida respeitarei essa decisão, mas me ouça uma única vez.

— Uma única vez, me encontre nos jardins a noite. — Ela diz vindo em minha direção.

— O que queria me dizer Estella? — Sua expressão revela raiva e dor, não sei se é o momento adequado para lhe perguntar isso mas já vi como fica quando lhe escondem algo. 

— Acho melhor irmos para nosso quarto. — Andamos em silêncio até o andar a cima, quando adentramos o quarto tranco a porta atrás de mim e começo a falar. — Você tem alguém aprisionada em você? Estou certa?

— Sim, como sabe? — Sua testa se enruga mostrando sua curiosidade.

— Aparentemente tenho alguém também.

— Suponho que sua pessoa seja Áster.

— Tem me espionado? — Diz.

— É filha dela? 

— Definitivamente você tem me espionado.

— Bom, Khione eu sei que pode ser difícil de acreditar mas podemos ser irmãs. — Ao final de minha frase sua boca está aberta e sua face confusa.

— Como? É impossível, sei que tenho uma irmã entretanto ela provavelmente estaria morta.

— Acho que estou viva, não concorda? — Dou um sorriso.

— Por que acha isso?

— Digamos que exatos dez minutos atrás Lilith estava controlando meu corpo. Nesse tempo me chamou de filha.

— Lilith? Pelos céus, controlando seu corpo?

— Sim. — Digo com medo de que ela não acredite, mas ela me abraça.

— Não acredito. — Dá um sorriso largo. — Você é ela.

— Sou. — A abraço mais forte, estive procurando minha família e ela estava aqui, bem na minha frente. Khione desfaz o abraço e segura meu rosto com as duas mãos deslizando os dedos por minha pele, e seu rosto começa a ficar preocupado.

— Você está bem? — Minha visão perde a cor e ouço ao longe a pergunta de Khione. — Estella? — Sinto suas mãos me sacudindo e logo após me segurando para que não caia contra o chão. — Estella! — Seu grito é tudo que ouço antes de meus olhos se fecharem e de meus sentidos pararem por completo.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora