Capítulo Sessenta e Cinco

66 18 0
                                    

Khione

Me afasto delas, seguindo até o baú que Lyssa e eu trouxemos, coisas de nosso laboratório.
Levar a pedra central com todos os poderes será a forma mais sensata de me proteger e ao mesmo tempo a coisa mais arriscada que farei, pois uma vez que Psyche souber da existência dessa pedra irá querê-la.
Pego-a e sigo até onde pretendo ir, a localização da estátua me possibilita chegar por dois ângulos diferentes, pela encosta ou por uma trilha. Decido pelo caminho da encosta, pois posso voar com facilidade até o topo, chegando muito mais rápido do que se fosse caminhando.

"Te desejo boa sorte minha filha."

"Áster?"

"Quem mais poderia estar falando em sua cabeça? Existe mais alguém aprisionada em você que eu não saiba?" — Ri, está contente.

"Se tudo ocorrer como o planejado você estará em terra em uma ou duas semanas."

"Tenho noção disso e me alegro imensamente com essa notícia."

"Com vocês podemos conseguir acabar com essa guerra, recuperar nossos reinos e trazer a paz novamente."

"Assim espero, confesso que sinto falta do palácio real e todas as regalias que tinha, me acostumei com o título de rainha e princesa. Sem ofensas mas ficar presa a você não é a coisa mais agradável dos mundos."

"Vejo que está bem carismática hoje, até não parece a Áster que conheço, ranzinza e pessimista de sempre."

"Sabe que continuo sendo sua mãe, não sabe? Mesmo que esteja aqui ainda posso te dar uma ótima dor de cabeça como punição. Mas estou com um bom pressentimento em relação a isso."

"Também estou, sinto que dessa vez ao menos algo dará certo." — Chego até a estátua, vendo a pequena fresta que Lilith havia me falado. É apertada até para que eu passe, me contorço tentando achar a posição mais fácil para adentrar e enfim encontro. Ando em direção ao escuro e o chão parece desaparecer sob meus pés, mas ainda assim não caio. Atravesso até me chocar contra o chão de madeira do que de acordo com Lilith é o quarto real. Está vazio, arrumado e empoeirado, sei que há muito tempo ninguém dorme aqui.

"Está exatamente da mesma forma que há trezentos anos atrás, você nasceu bem ali." — Fala e eu tento identificar onde.

"Onde?" — Pergunto curiosa.

"Ao lado da cama, perto daquele criado mudo e a tela de combate." _ Olho para o local e me aproximo. O chão é arranhado e ainda está com manchas que acredito ser de sangue.

"Isso já faz trezentos anos. Tem certeza que essa realmente é minha idade?"

"Não esqueceria o seu aniversário por nada em todos os mundos, foi o dia mais feliz da minha vida, ver o seu rostinho rosado e o cabelo ralo ruivo, idêntico ao meu, seus olhos azuis como duas turquesas. Você era um bebê deslumbrante. Não é atoa que se tornou essa mulher de beleza estonteante." — Algumas lágrimas quase caem de meus olhos, porém sou desligada das palavras de Áster pelo som de passos e vozes.

— Por que ainda insistem em nos deixar tomando conta dos céus? Nossos inimigos não têm a mínima condição de nos atacar, isso é uma perda de tempo.

— Não chame eles de inimigos, a filha de nossa rainha está entre eles, tenha mais respeito.

— Nossa rainha é a general Psyche, Áster está morta ou fugiu com a amante, não merece mais nosso respeito.

— As vezes acho que nunca nos contaram a verdade. Por que perseguiram a filha de Áster quando ela veio até aqui? Deveriam tê-la coroado.

— Ela é uma híbrida Leandres, é perigosa para nós. Por isso não era permitido a realeza ter filhos com outras espécies. Não deveriam ter permitido até hoje aliás, esses híbridos podem nos exterminar se quiserem e se juntarem, nosso dever é extermina-los primeiro.

— Não acho isso correto.

— Está de que lado afinal? Se quiser pode se juntar a eles e morrer como morrerão ou pode calar a boca e fazer esse trabalho tedioso que nos deram. — Os passos de afastam. Espero alguns minutos até que acho seguro sair.

"Me diga que você ainda se lembra onde ficam as armaduras. Vou precisar de uma."

"No andar de baixo, segunda sala."

"Que o inferno me ajude, por que pelo visto tem alguns guardas." — Abro a porta suavemente para não fazer barulho, desço a escada batendo minhas asas para não pisar nos degraus e chego até a sala. Há apenas duas armaduras, muitas espadas e algumas esferas espinhosas. Pego uma das armaduras e uma espada. O elmo tampa meu rosto e me identificar visualmente será quase que impossível. Passo pelo primeiro par de soldados e eles me cumprimentam com uma saudação, como se eu fosse um deles. Saio do castelo indo até a área externa, tudo está silencioso e deserto, isso é muito bom para mim.

"Onde você foi aprisionada em mim, exatamente?"

"Onde você está agora."

"E onde é o tal penhasco onde Arwen me encontrou?"

"No fim dos céus."

"Caso não saiba eu não faço ideia de onde seja isso."

"Ah, claro, voe mais ou menos um quilômetro para frente, pode usar sua velocidade total das asas, deve chegar em dez ou doze segundos, olhe para baixo e vai ver o limite de uma parte dos céus." — Faço o que ela me diz e chego até o penhasco. Ele é gigantesco e mal consigo enxergar seu fim, desço até a parte em que encontro o chão, observo o redor mas não há nada. Ando pela extensão da cratera, uma caverna está escondida em uma das paredes. Entro pela passagem formando uma tocha de fogo em minhas mãos para iluminar o local, ando lentamente até o fundo da caverna e lá estão elas, os dois corpos sem almas com as expressões assustadas e os olhos abertos. Chego mais perto para pegá-las e tirá-las daqui, consigo ouvir seus corações batendo, não entendo como já que suas donas não estão presentes neles.

"O corpo não morre, só nossa alma que é retirada dele." — Áster diz enquanto uso a pedra central para usar os poderes de telecinese das fadas. Levanto os dois corpos no ar o que exige uma força mental extrema de minha parte, voar de volta até a área externa dos céus vai ser algo exaustivo, seria uma excelente ideia ter alguém aqui agora. Saio da caverna voando mais devagar do que anteriormente, com os dois corpos levitando ao meu redor. Para minha sorte o pátio continua vazio, só preciso lidar com os guardas na parte de dentro. Entro sorrateiramente pela porta e subo as escadas o mais rápido possível, em questão de segundos já estou de volta ao quarto real, pronta para voltar a Niran.

— Você ouviu isso? — Ouço a voz do mesmo guarda de quando cheguei. — Entre aí e veja se tem algo. — O maldito barulho da armadura sendo tirada. A porta é aberta e vejo um guarda entrar, não consigo visualizar seu rosto pois está usando o mesmo elmo que eu estava a minutos atrás. Ele me observa e vejo que me reconhece, mas ao invés de chamar reforço ou de lutar comigo, faz sinal para que eu vá, sorri e sai pela porta.

— Não tem nada aqui, devem ser os outros guardas trocando de turno no andar de baixo. — Aproveito enquanto não decidem voltar novamente para conferir e sigo de volta para Niran, mal acredito que tudo ocorreu bem. Cyrius só precisa fazer sua parte do acordo agora, trazê-las de volta a seus corpos, separando nossas almas.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora