Capítulo Cinquenta e Cinco

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Khione

Levando-me depressa assim que acordo. Me dirijo até o banheiro do quarto e tomo um longo e relaxante banho. Troco minha roupa comum por uma das armaduras que Meliorne me deu e sigo até o pátio do castelo. Peço para que um dos serviçais de Kastian chame Lyssa e diga que é um assunto urgente, caso contrário a princesa irá enrolar na cama até que ache necessário vir. Também peço para que deixe bem claro que Khione a está chamando, o que provavelmente fará com que ela tenha um pouco mais de pressa. Meus ossos tremem de pura ansiedade, meus pensamentos estão a mil, tento me comunicar com Áster todavia como na noite anterior ela não me responde. Ando de um lado a outro esperando impacientemente a chegada da híbrida, até que por fim ouço seus passos, descendo as escadas, vindo em minha direção.

— Por que me chamas tão cedo? Há algo errado? — Seus sentidos ainda estão limitados por ter acabado de acordar. O rosto que deveria estar amassado está mais impecável que nunca e o hálito fresco com pequenos toques de canela exala pelo lugar.

— Quero lhe perguntar algo e a resposta tem que ser imediata.

— Uma proposta de casamento ainda não seria muito adequada, só saímos uma vez, quer dizer, nem saímos se formos levar ao lado literal da palavra. — Ela ri. Mesmo tendo sido acordada fora de seu horário o carisma ainda continua ali, totalmente ao contrário de mim que acordo tão ranzinza quanto Estella quando está mal humorada.

— Não é uma proposta de casamento. — Devolvo o sorriso.

— Me sinto levemente decepcionada. Mas então o que é?

— Vou até Faleias a procura do demônio feiticeiro que pode haver na pequena comunidade de demônios da floresta e não acho sensato ir sozinha devido as circunstâncias. Queria saber se gostaria de me acompanhar.

— Vejamos, ter a oportunidade de passar alguns dias com você, a sós, ou ficar em Elphia com o risco de Psyche e Yaza voltarem a qualquer minuto e cravarem uma estaca de ferro em meu peito? É realmente uma grande dúvida. — Diz colocando uma das mãos no queixo como se estivesse pensando em que resposta dar. — Por mais que ficar aqui e encarar a morte seja uma proposta muito tentadora, escolherei ir com você até Faleias. Mas não se sinta especial, só estou entediada. — Sorri piscando para mim. Eu me pergunto como consegue manter tão bom humor na situação em que nos encontramos, é uma qualidade que desejaria muito ter, mas infelizmente o pessimismo me consome cada dia mais.

— Ótimo. Avisarei um dos serviçais para dizer a todos quando acordarem que fomos a Faleias.

— Iremos agora? Nesse exato minuto?

— Sim, algum problema? — Pergunto fitando-a.

— Nenhum, só vou vestir algo mais adequado. — Somente agora percebo que ainda está com seu roupão, levemente aberto mostrando parte de seu abdômen junto a curva de sua cintura. Paro meus olhos por um segundo ali porém desvio quando vejo que ela percebe meu olhar. — Se bem que acho que para você essa roupa se adequa muito bem. Não é mesmo? — Solta uma pequena risada me fazendo ficar um tanto envergonhada.

— Estarei te esperando fora dos portões, não demore. Quanto mais rápido formos mais rápido voltaremos.

— Não tenho o mínimo de pressa quando se trata de passar tempo com você, então não me culpe se demorar mais tempo que o necessário.

— Não demore. — Repito de novo saindo pelos portões principais indo em direção a área exterior, deixando Lyssa para trás.

— Não vou. — Ela sobe os degraus rapidamente quase que correndo para seu quarto. Espero do lado de fora sentada em um dos bancos, penso no que irei dizer quando ver Áster pela primeira vez. Irei abraça-la? Contar sobre todo o caos em que estamos, mesmo que ela já saiba? Observo as árvores que balançam com o vento, a estação fria está chegando e por sorte as armaduras que tenho trazem calor suficiente para que não sinta frio e congele. Pequenos flocos de neve caem do céu, pouco diferentes dos que os da terra, o chão rapidamente fica coberto por uma fina camada deles, deixando a paisagem albina. — O melhor clima de Elphia. — Lyssa diz e eu me assusto pelo barulho de sua voz tão inesperado.

— Santos céus, que susto. — Digo colocando a mão sobre o peito em sinal de palpitação acelerada.

— Não seja exagerada. — Ela ri. — Vamos?

— Claro, já está mais que na hora. — Digo começando a andar.

— Onde você está indo?

— Andando para a trilha na floresta de Elphia que dá em Faleias.

— Acha mesmo que vamos andando até lá? Não mesmo, venha aqui. — Me chama apressadamente com as mãos. — Qual a lógica de podermos nos teletransportar até lá e ainda assim irmos andando? Não faz sentido algum. — Diz segurando meu braço nos envolvendo na fumaça verde de teletransporte. Quando abro os olhos novamente sinto o doce cheiro amadeirado da floresta. — Muito mais prático, não acha?

— Definitivamente. — Concordo.

— Agora, para onde vamos? — Ela pergunta e nesse momento reparo que não sei para onde vamos.

— Eu não faço ideia.

— O que? Só pode estar brincando.

— Não estou. — Dou um sorriso sem graça levando a mão até a nuca.

— Você não perguntou a Mykal onde ficava a comunidade? — Altera um pouco o tom de voz.

— Me esqueci completamente disso.

— Como se esqueceu da parte mais importante?

— Um ato falho.

— Me lembre de nunca mais aceitar seus convites.

— Fique tranquila, não deve ser tão difícil de acha-los.

— Claro que não, só temos uma floresta de oito quilômetros de extensão para procurar.

— Podemos voltar a Elphia e perguntar a Mykal onde exatamente eles estão.

— Daria um imenso trabalho e me cansaria mais. — Ela diz se teletransportando até o alto de uma árvore. — Me agradeça. — Fala quando volta, andando na direção oposta a que estamos.

— O que?

— O acampamento é visível lá de cima. Se não fosse por mim teríamos que voltar a Elphia.

— Sabe que eu posso voar, não sabe? — Indago rindo.

— Me deixe estar com a razão para compensar o fato de ter me trago para o meio de uma floresta sem ao menos saber para onde ia. — Diz batendo em meu ombro com uma força considerável.

— Se me recordo certamente você escolheu vir comigo, e gostou bastante da ideia. — Dou uma risada.

— Realmente. — Ela concorda.

— Eles estão muito distantes?

— Não tanto. Para quem queria vir de Elphia até aqui caminhando, chegar até lá será bem fácil.

— Tem razão.

— O que pretende fazer para convencer o demônio a nos ajudar?

— Nem imagino. — Digo sinceramente.

— Por Elphia, você não pensa em nada? Estou começando a pensar que terei que andar com você sempre para lhe fazer ter sucesso no deseja.

— Eu não reclamaria disso.

— Eu muito menos, podemos estar tornando essa ideia realidade.

— Gosto disso.

— Mas depende do quanto você me importunar durante essa viagem. Então sugiro que tome cuidado para sempre ter minha companhia.

— Alguém já te disse que você é  extremamente convencida?

— Acredite não é a primeira vez que ouço isso. — Ela gargalha. Estar com Lyssa me faz rir a cada segundo, gosto do seu jeito, gosto de como trata a situação com leveza mesmo que ela seja ruim, tenho gostado de tudo nela.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora