Capítulo Sessenta e Nove

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Os raios de luz entram pelas vidraças do quarto, não me lembro de ter chegado até aqui. Lyssa não está na cama e logo vejo o motivo. Ela entra pela porta com uma bandeja de coisas para comermos, a maioria delas reconheço a primeira vista, comidas terrestres. Deve ter sido difícil encontrá-las aqui, me recordo de ter que me acostumar com o alimento nativo de Elphia pois se não passaria fome. Para minha sorte elfos são incrivelmente bons no cultivo e no preparo de alimentos, o que tornou toda minha adaptação mais fácil.

— Ah, já acordou. — Diz colocando o objeto no criado mudo. — Você é mais leve do que eu pensava. — Beija meu rosto me estendendo um croissant com uvas.

— O que? — Dou uma mordida e o gosto é delicioso, exatamente como me lembrava.

— Ontem no barco, você dormiu e tive que carrega-la até aqui. No meio do caminho me arrependi um pouco, deveria ter te deixado a deriva no mar. — Ri.

— Obrigada por não me deixar. — Rio de volta.

— Só me lembre de não te deixar me convencer a sair com você quando estiver alcoolizada. Por Elphia. — Morde uma torrada e se levanta indo até o guarda-roupa, buscando algo em meio as vestimentas, desarrumando todas elas.

— O que está procurando? — Pergunto curiosa.

— Já vai ver. — Passa sua procura para as gavetas revirando uma por uma. —  Se eu encontrar. — Murmura.

— Pode dizer o que é? Posso te ajudar a encontrar. — Digo ainda mais intrigada.

— Achei! — Dá um grito de exclamação me assustando um pouco. Ela esconde o objeto entre as mãos sem revelá-lo até se aproximar de mim. — Faltou algo no pedido de casamento, você é uma noiva sem um anel e isto não está certo. — Abre a pequena caixa e fico surpresa pois esperava um anel comum, como os que noivas na terra usam, feitos de algum metal valioso com diamantes ou algo assim, mas no lugar disso um líquido azul está contido pelo veludo ao seu redor. Lyssa pega minha mão e passa um pouco do fluido em meu dedo anelar, em alguns segundos ele toma a forma de uma argola em volta de meu dedo, fechando-se com um clique. Ela aponta para que faça o mesmo em sua mão e então eu faço. — Estamos seladas.

— Como assim?

— Isso é uma aliança de fadas. Uma aliança de destino. Mesmo que o seu destino seja desligado do meu, eu e você ainda seremos ligadas por essa aliança, dessa forma você sempre terá um pouco de mim e eu um pouco de você. Ela não pode ser tirada, apenas com com nossa permissão, se ambas quiserem isso. — Não sei o que lhe dizer em resposta então somente a beijo até sermos interrompidas pelas batidas de Estella a porta.

— Khione, Cyrius está lhe chamando para que comecem o ritual. — Fala empurrando a porta para entrar. — Ele disse que tem que ser agora. — Olho para Lyssa e me levanto a fim de seguir Estella.

— Em breve estarei de volta novamente. — Dou-lhe um último beijo antes de partir.

— Tome cuidado, por favor, por mim. — Assinto com a cabeça e saio do quarto.

— Quero fazer o desaprisionamento.

— Não. — Respondo curtamente.

— Você não pode dizer o que vou ou não fazer Khione.

— Não vai fazer o desaprisionamento antes que eu o teste, em hipótese alguma.

— Lilith está em mim, por que que não me deixa fazer o mesmo que você?

— Estella, tem uma alta chance de isso não dar certo, da magia me consumir e me reduzir a pó. Não irei permitir que você faça algo perigoso desnecessariamente. Caso funcione poderá fazê-lo. — Faço uma pausa assimilando que posso não mais existir daqui a poucas horas. —  Mas caso não, certifique-se que Lyssa seja feliz, diga a Mykal o que sabe que eu diria e vença a Psyche, mate-a.

— Tudo bem, tome cuidado. — Me abraça e me deixa junto a Cyrius.

— Está pronta? — Pergunta com o corpo de Áster ao seu lado.

— Sim.

— Já que estamos em Niran começaremos por aqui mesmo. — Levanta as mãos fazendo com que Áster flutue em círculos ao meu redor. Uma coluna de fogo arroxeada sobe do chão formando um cilindro, as mãos de Cyrius se movimentam rapidamente de um lado para o outro manipulando o fraguimento com todas as magias. Meu corpo começa a ficar levemente dormente e meus olhos ardem, o demônio fala palavras que não consigo entender e uma pontada de dor irradia de meu peito, como se estivessem tirando todos os meus órgãos de dentro de mim.

— Se concentre Khione, estamos quase concluindo a primeira parte. — O corpo de minha mãe se choca contra o meu e ele está em chamas ardentes, fogo angelical. Anjos controlam todos os elementos naturais, mesmo que com pouco domínio. O elemento que mais temos força e poder sobre é o fogo. Posso ouvir os gritos de Áster, isso está doendo tanto para ela quanto para mim, mas valerá a pena. Minhas pernas estam fracas e não sei se consigo me manter de pé por muito mais tempo. — Primeira parte do processo concluída. — O demônio diz desfazendo a coluna de fogo no mesmo instante em que caio no chão. — Está bem? Tentei ser o mais delicado possível para que não ficasse tão exausta, ainda temos mais cinco partes e não podemos demorar entre uma e outra, se não o feitiço perde seu efeito e teremos que recomeçar tudo.

— Estou bem. — Uso toda a energia que me resta para me erguer. — Qual o próximo destino? — Tento parecer estável.

— Faleias e os Céus são os reinos mais próximos, cabe a você escolher.

— Céus, quanto mais fizermos o processo mais fraca ficarei, então é melhor irmos aos lugares mais difíceis primeiro, se precisar me defender terei ao menos condição.

— Segure em mim. — Pede para nos teletransportar até os céus, já que não faz sentido entrarmos escondidos se vamos fazer magias dentro do reino, saberão que estamos lá de qualquer forma.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora