Capítulo Cinquenta e Seis

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— Oferecer um acordo. — Digo de repente depois de alguns segundos de silêncio.

— Ah? — Arqueia as sobrancelhas.

— Perguntou como convenceria o demônio a nos ajudar, pois bem, oferecendo um acordo.

— Que tipo de acordo? — Aparenta interesse no que tenho a dizer.

— Psyche não irá gostar de saber que existe uma comunidade de demônios que não se juntou a ela. — Nem termino minhas palavras e ela me interrompe.

— O acordo será ele nos ajudar e em troca você não contará a localização deles, estou certa?

— Absolutamente certa. Os outros moradores também correram risco e o pressionarão para fazer o que queremos.

— Até que enfim algo inteligente vindo de você. — Ri em tom de brincadeira.

— Você realmente subestima minha capacidade Lyssa.

— Algumas vezes. E você merece, veio para uma floresta sem saber para onde ia. — Repete pela terceira vez em um curto período de tempo.

— Vai ficar lembrando disso a todo momento? — Pergunto forçando um tom irritado.

— Ah, me desculpe. — Diz com arrependimento. — Mas você merece. — Sussurra e consigo ouvir.

— Eu ouvi isso. — Alerto lhe dando um pequeno tapa no topo da cabeça.

— Se fizer isso novamente perderá seu braço. — Avisa olhando no fundo de meus olhos. No momento aparentamos ser duas crianças, repletas de brincadeiras, e é a primeira vez em tempos que me divirto tanto assim com alguém.

— Não parecemos duas crianças. Ok, talvez pareçamos. Fico feliz de estar se divertindo, esse era o objetivo, tirar alguns bons sorrisos de seu rosto sério. — Diz e tenho certeza de que acabou de ler meus pensamentos.

— Consegue se manter fora de minha cabeça por um segundo sequer?

— Infelizmente não, aparentemente você pensa bastante em mim, e quem sou eu para impedi-la disso. — Fala tentando fugir do que acabara de fazer.

— Tem o costume de ler mentes assim? Constantemente e sem a permissão das pessoas? — Indago tentando repreênde-la, em vão claro.

— Um velho costume que não será você a me fazer deixar. — Responde piscando.

— Veremos. — A desafio.

— Fumaça. Estamos perto. — Aponta para um pequena nuvem acinzentada no céu.

— Espero que Mykal esteja certa e que realmente haja um feiticeiro aqui em algum lugar, se não todo esse esforço terá sido um completa perda de tempo. — Digo olhando para os cantos da flores ao ouvir alguns galhos se partindo.

— Seja positiva Khione, ele vai estar lá.

— Lyssa. — Chamo e ela vira seu rosto em minha direção. Faço sinal para que fique quieta e ouça o mesmo que eu. O som de folhas se remexendo e galhos sendo esmagados se aproxima cada vez mais de nós. Puxo Lyssa pela manga de sua blusa até uma pequena caverna escondida perto de onde estamos, nos agachamos e  logo em seguida pessoas aparecem exatamente no mesmo lugar onde estávamos.

— General, sem mais pegadas, elas devem ter desistido de procurar.

— Creio que não, Khione não desistiria da possibilidade de ter sua mãe de volta tão fácil. Khione, Khione, onde você se escondeu? Está com medo de mim ruivinha? Lembro que a um tempo atrás te despertava outros sentimentos, não medo.

— Maldita. — Dou um sussurro quase inaudível.

— Como ela poderia saber que estávamos vindo para Faleias? — Lyssa indaga intrigada.

— Não sei, talvez um espião, pode ter colocado algum equipamento de escuta no castelo, são inúmeras coisas que pode ter feito.

— Ou Mykal pode ter alguma relação com isso.

— Certamente não, ela está do nosso lado. — Minha voz sai um pouco mais alta e alterada do que devia, e Psyche com certeza a escuta pois olha diretamente para onde estamos.

— Não é muito sábio de sua parte falar enquanto se esconde Khione, reconheceria seu timbre em qualquer lugar. Estão ali. — Fala para os soldados que marcham rapidamente até nós.

— Segure-se em mim! — Lyssa exclama pronunciando um feitiço. — Não fale uma palavra e saia o mais rápido que você conseguir.

— Os soldados? Eles irão me ver, nos teletranportar seria mais seguro.

— Sim, seria, mas não consigo fazer isso no momento, a distância de Faleias e Elphia esgotaram quase toda minha energia mística. Apenas confie em mim e saia. Rápido! — Fala com impaciência e eu obedeço. Corro para fora da caverna e assim que passo por cada soldado sem ser vista me dou conta de que feitiço fez, invisibilidade. Muito bem agora vamos continuar seguindo o sinal de... — Ela emudece olhando para céu procurando novamente a nuvem de fumaça que estava ali minutos antes.— Isso é um ótimo e um péssimo sinal. — Suspira dizendo.

— Como isso pode ser um bom sinal?

— Um sinal de fumaça não some do nada no meio do céu, isso demora horas. Então se a dez minutos atrás ele estava ali e agora não está mais significa que foi ocultado, e se ele foi ocultado só pode ter sido por fadas ou demônios feiticeiros, os únicos que podem fazer o feitiço de invisibilidade. Como esse que estamos usando no momento. Estamos em Faleias poderia ser uma fada facilmente se todas elas não estivessem em Elphia, o que significa que nessa cidade clandestina há realmente um demônio feiticeiro. O único problema será achar esse lugar agora que está invisível.

— O benefício é que Psyche e seus soldados também não a encontrarão.

— De fato, entretanto acho melhor continuarmos nos afastando dela, ainda estamos muito perto. — Corre por entre as árvores sem encostar um fio de cabelo em nenhuma delas. Seu reflexo me surpreende, mas não deveria, elfos tem essa incrível habilidade.

— Pode ir mais devagar por favor? — Falo respirando pesadamente por tentar acompanhar seu ritmo.

— Claro, me esqueço que anjos não tem o físico tão bom para correr, vocês são acostumados demais a só andar ou voar. — Fala diminuindo os passos ficando ao meu lado para se certificar que não está indo rápido demais.

— No meu caso acostumada somente a andar mesmo, descobri minhas asas a apenas uma ou duas semanas.

— Você é quase uma terráquea. — Ri.

— É mesmo? — Jogo uma flecha de água contra seu rosto a molhando por completo. — Ainda acha que sou quase uma terráquea?

— Você não fez isso. — Olha para mim como se quiser me assassinar ali mesmo.

— Se acalme, nada que um bom vento não resolva. — Faço com que uma brisa forte sopre contra ela para seca-la.

— Muito melhor. — Diz com ar debochado, consertando o cabelo que agora está completamente bagunçado. — Está deixando rastros de para onde estamos indo, mas não esperava menos de você. — Ri. É visível que debochar e fazer piadas em cima de minha pessoa é uma diversão e tentativa de flerte estranha de Lyssa.

— Acho que chegamos. — Fala olhando para mim.

— Como pode ter certeza? — Pergunto pois não estou vendo e muito menos sentindo nada a nossa frente.

— A não ser que as fadas tenham colocado uma enorme parede de vidro no meio da floresta, isso aqui é a redoma de invisibilidade. — Bate com um dos dedos na camada transparente que parece dar continuidade a floresta.

— Isso é ótimo! — Exclamo com animação.

— Agora só precisamos entrar. — Ela diz declamando outro feitiço que abre uma pequena passagem na redoma. — Problema resolvido. — Sorri passando para dentro e puxando-me pela mão.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora