— Respondam, quem são vocês?
— Me trouxe para a terra? — Sussurro para Mykal.
— No momento essa informação não é relevante.
— Digam! Não me façam atirar em vocês.
— Segure em mim. — Ela diz antes de começar a correr. Momentos depois ouço ao longe sons de tiros e percebo que usou sua velocidade.
— Tentar fazer qualquer coisa com você acaba em desastre. — Digo dando risadas.
— Me perdoe por ser um ímã de más situações. — Brinca.
— E agora? Iremos para casa? — O sol aparece no horizonte enquanto caminhamos pela trilha.
— Iremos?
— Me lembro da rainha sendo bem clara sobre querer te dizer coisas importantes ao amanhecer.
— Núria? Os assuntos importantes da rainha incluem me usar como aliança.
— Aliança?
— Sim, o herdeiro demoníaco, Leviatã. Ela quer que me case com ele para que nosso reino não sofra nenhuma ameaça.
— Pensei que herdeiros reais não pudessem se misturar, não deveria ser um casamento puro?
— Eram costumes antigos. Depois da guerra entre anjos e demônios creio que param de pensar assim, ou somente visão o que é melhor para eles. Os anjos ainda seguem essa lei, creio eu, pois em trezentos anos que sua rainha desapareceu nunca colocaram outra em seu lugar, estão vivendo em um sistema diferente da monarquia costumeira.
— Então sua mãe quer lhe dar como oferta de paz aos demônios?
— Sim, por esses e mais motivos não iremos para casa.
— Então o que faremos? Já que fomos expulsas a tiros daquele belíssimo campo, e já que você me trouxe para o mundo humano sem nenhuma razão aparente. — Digo parando e me apoiando em uma árvore.
— A qualquer lugar, podemos simplesmente caminhar pela floresta, há coisas incríveis aqui, inexploradas por esses seres.
— Eu imagino que seja melhor seguir o conselho de sua hóspede e voltar para casa Mykal. — Núria aparece por detrás da filha com uma expressão enraivecida. — Disse que tinha coisas importantes a tratar com você pela manhã. Por que insiste em ter tamanha falta de responsabilidade?
— Conheço seus assuntos e pela milésima vez, não, eu não irei ser usada como uma forma de você conseguir o que quer, se quer tanto garantia de paz com os demônios case você mesma com Yaza ou com Leviatã.
— Pense bem no tom que usa comigo Mykal, pode ser minha filha mas não ouse pensar que não teria coragem de lhe fazer pagar por suas insolências.
— Me poupe do seu discurso de ameaças e caso já tenha terminado pode voltar para o seu trono.
— Você vem comigo. — Núria a pega pelo braço.
— Me solte! — Mykal levanta a mão livre em direção ao rosto de sua mãe fincando duas unhas afiadas nele. O sangue negro cai em gotas do rosto da rainha sujando sua roupa.
— Sendo agressiva novamente, terei que mandá-la outra vez para…
— Não se atreva a completar essa frase.
— Venha comigo antes que mude de ideia sobre ter te tirado de lá. — Ela diz limpando o rosto.
— Trinta minutos, te dou trinta minutos do meu tempo.
— Agora me diga o que ainda faz com ela? E melhor, por que a trouxe para terra? Você nunca sai com nenhuma delas, essa é especial? — Ela diz vindo em minha direção e passando as unhas pelos fios de meu cabelo.
— Não toque nela!
— Ora, ora, ela é especial, aprecio saber disso. Nos acompanhe senhorita Davis. — Mykal me puxa para perto afim de nos transportar rapidamente até o castelo. — Gostaria de participar de nossa pequena reunião? — Núria dirige a palavra a mim.
— Eu? — Pergunto gaguejando.
— Claramente, vê outra pessoa nesta sala? — Ela olha ao redor. — Pensei que como minha herdeira aparenta apreço por sua companhia a mesma gostaria de te ter por perto. — Olho para Mykal em busca de algum tipo de aprovação, aliás não sei se devo aceitar o convite.
— Pode vir conosco. — Diz fazendo um gesto com a cabeça.
— Mykal, tenho uma notícia que você adorará, já que tem uma imensa relutância em casar-se com o herdeiro demoníaco para nos fornecer uma aliança sólida.
— Diga, desistiu dessa ideia estúpida?
— Algo melhor, nossa aliança já está sólida com eles. O gesto de fidelidade que fez esta semana foi o ponto final para nosso acordo de paz e de aliamento.
— Gesto de fidelidade de sua parte, fui obrigada a fazer aquilo com o pobre homem, não entendo o motivo de terem usado torturas diferentes dessa vez, se queriam informações dele aquilo foi uma idiotice, a essa hora já deve estar morto.
— Me desculpe interromper mas pode me dizer o que fizeram a esse homem?
— Com prazer, o transformamos, não servia mais para o que eles queriam. — Um nó se forma em minha garganta pois lembro que Arwen e Demir se encontram presos no inferno.
— Pode descrever como era esse homem?
— Cabelos grisalhos, alto, e estava acompanhado de um rapaz. — Mykal diz.
— Está tentando saber se é seu avô Khione? — Núria me lança um sorriso.
— Avô? — Mykal pergunta.
— Saber que seu querido avô foi morto pela pessoa que com quem está dormindo, isso deve deixá-la péssima. — Meu estômago embrulha e olho para Mykal.
— Como pode?
— Eu não, eu não sabia. — Ela diz confusa vindo para me abraçar.
— Como você pode fazer isso? — Grito e seus braços me enlaçam.
— Khione eu não imaginava.
— Patéticas. — Núria gargalha.
— Você sabia? — Mykal a encara. — Óbvio que sabia, foi uma armadilha. Tinha conhecimento da entrada de Khione em nosso reino estava prestes a entregá-la mas viu que a fiz ficar aqui e sabia que isso seria pior, como pude ser tão ingênua.
— Me pergunto a mesma coisa, nem de longe parece ser minha filha. Sempre soube que não saberia governar mas agora tive certeza, nunca deixarei que você ocupe esse trono, não merece isso.
— Não pode me tirar isso, é meu direito por nascença.
— Só há uma forma de não ser, com a sua morte. — Ela afia as unhas e em milésimos de segundos está com elas no pescoço de Mykal.
— Você não teria coragem.
— Acha que não? — A rainha aperta as unhas contra a carne da filha e vejo o sangue surgir, nesse momento estendo minhas mãos formando um círculo de água e jogo contra ela, isso a distrai deixando uma brecha para que Mykal use sua velocidade ao nosso favor.
— Obrigada. — Ela diz quando paramos. — E me perdoe, não imaginava que…
— Não peça desculpas, não está tudo bem. Porém preciso de você pois não faço ideia de como voltar ao reino élfico, então, me leve até lá.
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Seis Mundos: Novas Origens
Fantasy(LGBTQA+) Khione é uma mulher de vinte anos, com muitos traumas e um passado doloroso que acaba de se mudar para New York, deixando para trás o avô, a mãe e uma história toda da qual ela ainda não sabe que faz parte, heranças passadas de pai para fi...