Capítulo Cinquenta e Quatro

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Ficamos em silêncio durante um tempo, abraçadas, apenas pensando no futuro.

— Está ficando frio, acho melhor entrarmos. — Ela diz levantando do banco. A sigo entrando pelos portões do castelo novamente e nos separamos cada uma para um lado.

— Depois me conte as desculpas e lamentações de Demir. — Pisca sumindo corredor a dentro. Ando pelo pátio interno esperando que Demir apareça, mas ele não aparece. Decido então ir até seu quarto, subindo pelo lance de escadas que dá acesso ao segundo andar. Passo os três primeiros quartos e bato na porta que está trancada. Ouço os passos pesados vindo em direção a fechadura e o ranger da chave girando para abri-la. A porta se abre e vejo o rosto desanimado e inchado de Demir, ele estava chorando. Não preciso dizer uma palavra para que ele se afaste deixando espaço o suficiente para que eu entre.

— Khione me disse que queria falar comigo.

— Brigamos. De novo. — Começa.

— A doce vida de casal de vocês me encanta.

— Não somos um casal. — Diz sentando no chão.

— Fico imaginando se fossem. Qual o motivo dessa briga? A última soube que foi por você ter completamente desagradável, irracional e patético. — Digo e ele mal se ofende pois sabe que estou certa. — Você foi um idiota Demir, um completo idiota.

— Ele me deu um ultimato. Tenho que resolver o que quero, se é ter um compromisso com ele ou se é perdê-lo. — Fala com os olhos vermelhos ainda derramando lágrimas.

— E você sabe o híbrido está certo, vocês estão nesse caso a quanto tempo? Quatro ou cinco décadas? Já está mais que na hora de você decidir o que quer com ele.

— Eu sei. Tenho medo de magoa-lo mais ainda caso tenhamos uma relação fixa.

— Te garanto que não vai, ele sabe onde está se jogando, já teve tempo o suficiente de te conhecer, e se insiste até hoje em ter algo com você é por que realmente quer, e aceita as suas condições.

— Meliorne diz que não se importa com o fato de eu dormir com outras pessoas, mas o conheço, e sei que no fundo isso o machuca.

— Vocês são tão complicados. Precisam conversar como dois adultos que são, falarem suas opiniões a respeito e o que estão dispostos a ceder para ficar um com o outro. Ficar somente correndo para mim e para Khione pedindo conselhos não irá funcionar.

— Sempre que tentamos conversar a respeito disso um dos dois acaba magoado.

— Então eu te pergunto Demir, será que realmente vale a pena ficarem juntos se os dois só se machucam? Por mais bela que seja uma rosa e por mais que a ame se você tocá-la diretamente sem nada para lhe proteger dos espinhos ela irá lhe machucar. E não seria justo você cortar os espinhos da rosa para que ela fique mais agradável a você. Se quer ficar com a rosa você deve aprender uma forma onde ela não lhe machuque com seus espinhos e que você não a machuque cortando uma parte dela para que ela se adapte a você.

— Precisamos arrumar essa forma. Porque eu amo essa rosa, quero ficar tanto com ela.

— Não é o que me parece, nem de sua parte e nem da de Meliorne, nenhum dos dois abre mão de nada pelo outro, e não é assim que as coisas funcionam em um relacionamento. As duas pessoas devem se doar uma a outra, se uma está e a outra não, algo está errado, e se as duas não estão algo está pior ainda.

— Temos que decidir o que iremos fazer. Por que da forma que estamos está péssimo para ambos. Há mais brigas do que tempo juntos, a cada duas palavras que falamos três estamos gritando um com o outro, não está fazendo bem a nenhum dos dois.

— Vá atrás dele amanhã, sentem, conversem calmamente e vejam qual a melhor opção. Ficar juntos ou cada um seguir por um caminho diferente que lhe faça feliz.

— Não quero perdê-lo Estella, não quero mesmo. — Ele se aconchega em meu colo quando sento ao seu lado.

— E não vai Demir. Só precisa se esforçar para fazer com que ele volte a te amar como antes.

— E se eu não conseguir? — Ele olha para mim como uma criança assustada, ele realmente ama o híbrido.

— Você vai, Meliorne te ama. Porém as coisas que estão acontecendo entre vocês tem feito esse amor se desgastar.

— Faço qualquer coisa para tê-lo de volta, sinto seu afastamento e é terrível. Faço de tudo para que seja como na primeira década novamente.

— Você não deveria estar dizendo isso pra mim, sim para ele.

— Eu diria, se soubesse onde ele está, pelo que sei saiu de Elphia pela manhã e não voltou até agora.

— O que? Sabe o quanto isso é perigoso no momento?

— Sei, até tentei impedi-lo mas a única coisa que consegui foram gritos e esses arranhões por segurar seu braço. — Mostra as marcas de unha sobre a pele.

— Certeza que ele tem mesmo um milênio de existência? Já deveria ter aprendido a lidar corretamente com problemas amorosos, vendo que definitivamente você não foi o primeiro que ele teve. Sinceramente, como posso eu ter trezentos anos e ser melhor resolvida do que vocês com seus séculos a mais de vida?

— Isso é uma excelente pergunta. Você está a frente de seu tempo Estella. — Consigo tirar a primeira risada de seu rosto. — Deveria ser como Khione e como nós, mas ao invés disso nos dá conselhos. Muito bons por sinal.

— Só não quero que me culpem se fizerem escolhas erradas. — Digo em tom de brincadeira como mais cedo com Khione.

— Espero que ele volte logo e que volte bem.

— Amanhã já deve estar de volta. E se você não for até ele eu o trago até você. Estou sendo clara?

— Mais que isso é impossível.

— Certo. — As lágrimas de seu rosto já secaram e ele agora se levanta para deitar na confortável cama ao nosso lado.

— Já tomei muito de seu tempo Estella, deve estar exausta de tanto ouvir sobre problemas. Vá descansar, nos vemos amanhã. — Sorri para mim como em sinal de agradecimento. — Obrigada. — Diz quando já estou fora do quarto seguindo rumo a meus aposentos. Tudo está escuro, abro a porta lentamente por saber que Kastian deve estar dormindo. Acendo a pequena lâmpada de cabeceira e ela está com o cabelo preso em um rabo de cavalo prestes a se desmanchar, os olhos fechados em um sono profundo, linda como sempre. Beijo seu rosto e deito ao seu lado, seus braços enlaçam meu corpo mesmo dormindo e sinto sua respiração leve contra meu pescoço. Sinto-me feliz.

— Boa noite meu amor. — Fecho meus olhos e durmo em questão de segundos, ali, nos braços do meu lugar seguro.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora