"Qual é essa forma alternativa?
"Não vou lhe dizer, você é tão teimosa quanto eu mesmo com os riscos tentaria."
"Parece que me conhece melhor do que imaginei." — Dou uma risada.
"Bem melhor."
"Mas sabe tão bem quanto eu que tentar trazer você de volta ao mundo normal é importante. Agora que o Arwen não está mais aqui, você e Lilith são as únicas que sabem com precisão como fazer esses fragmentos especiais."
"Khione o passo a passo com todos os detalhes está escrito, só precisam seguir os comandos a risca, não necessitam de mim ou de Lilith."
"Mãe." — A chamo assim pela primeira vez desde que passei a ouvi-la. Ela se cala e eu continuo. — "Você nunca pode me segurar em seus braços, nunca conseguiu me levantar quando eu caí, não me ensinou as tradições de nossa família e tão pouco os feitiços que mais gosta. Não me defendeu quando aquelas crianças jogaram pedras em mim, não pode fazer nada que uma mãe faria, isso tudo por estar presa em meu interior. E se permanecer você também não poderá estar comigo no dia em que eu decidir me casar, não poderá segurar seus netos assim como não pode me segurar, nunca vai conseguir me tocar, nem enxugar minhas lágrimas quando eu acreditar que tudo que faço nunca dá certo, você nunca vai estar aqui comigo de verdade se continuar presa aqui dentro." — Aponto para meu corpo quando termino as palavras. Áster permanece quieta, sei que está pensativa.
"Abrirei mão de tudo isso se for para te ver segura. Posso nunca ter te ninado, nunca ter te feito cochilar em meu peito, mas sei cada coisa que te acalma, sei também que é tão talentosa que será o anjo mais forte de nosso reino. Posso não estar com você fisicamente Khione, mas continuo todos os dias aqui para você, tentando ser a melhor mãe que consigo em minhas condições. Saiba que nunca esteve sozinha, eu sempre estive bem aqui, sempre com você.
"Eu sei, Áster, eu sei. — Fico em silêncio para encerrar nossa conversa mas ela se pronuncia.
"Vai precisar de todas as pedras centrais."
"Como?" — Digo confusa.
"A segunda forma de me tirar de dentro de você, exige todas as pedras centrais, todas as magias e de um demônio feiticeiro."
"Onde raios eu vou encontar um demônio que queira me ajudar?"
"Avisei que seria perigoso e também difícil."
"Mais alguma coisa?"
"O processo tem que ser feito em todos os seis reinos, começando no seu de origem. O demônio feiticeiro terá que descobrir que feitiço de aprisionamento foi usado em nós, conjura-lo ao contrário e liberar todo o poder de todas as pedras centrais em você."
"E por que isso seria perigoso? Já emano poder, estou acostumada."
"A magia que você emana não é nem de perto a quantidade que existe em uma pedra central, até nós não conseguimos suportar tamanha magia. Seu corpo sucumbiria e você morreria, justamente por isso não irá fazer."
"Se eu suportasse isso você seria livre?"
"Segundo meus estudos e conhecimentos sobre aprisionamentos, sim. Mas não ouse fazer isso."
"Áster é uma chance, tanto para mim e para você, quanto para Lilith e Estella. Já viu como sua filha fica com as crises das drogas?"
"Isso não é culpa do aprisionamento Khione."
"Eu sei, mas você poderia ajudá-la se estivesse aqui. Você é basicamente uma cientista, poderia criar uma droga reversa a de Psyche."
— Khione? Seu grupo já está a sua espera. — Kastian diz aparecendo de repente. — Espero que tenha dormido bem, pois hoje vamos ensina-los a usar nossas armas. — Me levanto e visto minhas roupas de treinamento. Uma calça de couro, um colete metálico, botas lustrosas e um coque frouxo que provavelmente se soltará com o primeiro feitiço que lançar. Desço até o pátio e lá está a pequena multidão me esperando.
— Bom dia. — Digo cumprimentando a todos. — Hoje vocês irão aprender a usar as armas de seus determinados reinos, por favor se dividam por espécies em filas únicas. — Eles se separam e esperam pelos próximos comandos. — Elfos vocês usarão arcos e flechas, fadas adagas, sereianos usem seus tridentes lanças. As espadas são de uso livre para todas as espécies, podem escolher quais querem. — Cada um se aproxima da grande pilha de armamentos e escolhe um, quando todos já pegaram o que queriam sigo em frente com minhas palavras. — Além de seus poderes sempre é bom saber usar armas para luta corpo a corpo. O treinamento de hoje é um combate em grupos. Cinco místicos em cada, vocês podem escolher quem querem em seus grupos. Os vencedores poderão passar a noite no castelo real ao invés de dormirem nessas espécies de barracas. Então, se esforcem. — Os grupos são formados e eles começam a disputar entre si. Qualquer machucado que seja feito pode ser curado pelas fadas, então não há riscos ferimentos graves. A luta está acirrada entre dois grupos, ambos estão feridos mas não desistem da vitória.
— Treinando? Por que não se rendem de uma vez, seria muito melhor. — Ouço a voz familiar do demônio, Psyche. Ela está com uma legião de anjos e outra de demônios, certamente não veio aqui só para ter uma boa conversa. — Então o que ouvi é verdade, Faleias e Niran resolveram se juntar aos perdedores. Uma pena, vocês poderiam ser bons aliados para mim, assim teria que aniquilar somente um reino.
— Psyche. — Digo a encarando.
— Khione, sinto muito em estragar sua tentativa de comando e treinamento de um exército, mas já está mais que na hora de eu acabar com essa imensa palhaçada. — Ela da ordem e as legiões descem ao nosso encontro na terra.
— Usem o que sabem e tentem sobreviver! Isso é o começo do que estamos treinando para combater. — Todos os demais grupos se juntam a nós, Kastian, Demir, Meliorne, Alexander, Mykal e Estella. Estamos em maior número, mas eles são um exército e nós uma mera tentativa. Psyche está no alto do castelo élfico observando a batalha, para ela isso é uma diversão, é como se gostasse de ver sangue sendo derramado, e acho que gosta. Abro minhas asas e tento usá-las pela primeira vez, dou um impulso para cima e é como se eu as usasse todos os dias. Em segundos alcanço a general que me espera sem medo algum.
— Por que não desiste logo de uma vez? Sabe que não tem chances de vitória. — Diz desviando de meu golpe.
— Você é realmente muito convencida Psyche, isso levará a sua queda. — Miro um soco em seu rosto e acerto.
— Acredite, não levará. — Ela lança uma esfera de espinhos contra meus pés, furando-os.
— Por que? — Pergunto desembainhando a espada que estava em minhas costas.
— Não tenho que te dar motivos. — Responde também pegando sua espada.
— Mas você deve ter um bom motivo.
— A parte que meus pais e minha irmã foram mortos era verdade, mas o motivo não. — Diz e quase consigo ver uma tristeza em seus olhos.
— Está fazendo isso por eles? É uma vingança? — Avanço em sua direção quase a acertando com a lâmina.
— Sim, de certo modo é por eles, mas não é uma vingança. — Fala devolvendo o golpe, cravando a espada no chão em um movimento falho. Aproveito o movimento errôneo e a acerto nas costas. Ela urra de dor mas mesmo assim consegue me prender entre uma parede de água por alguns minutos.
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Seis Mundos: Novas Origens
Fantasia(LGBTQA+) Khione é uma mulher de vinte anos, com muitos traumas e um passado doloroso que acaba de se mudar para New York, deixando para trás o avô, a mãe e uma história toda da qual ela ainda não sabe que faz parte, heranças passadas de pai para fi...