Capítulo Cinquenta e Um

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— Você está bem? — Ela se aproxima me examinando de cima a baixo procurando algum ferimento. — Está machucada! — Conclui quando olha para meus pés. — Não está com dor? Por Elphia o feitiço que lancei em você está funcionando bem.

— Você lançou um feitiço de proteção para mim? — Dou uma risada alegre e ela fica envergonhada por ter revelado algo que não deveria ser descoberto.

— Isso não importa. — Diz agachando passando a mão pelos furos dos espinhos.

— Não precisa fazer isso, não estou com dor, é como se nem existissem. — Falo olhando para ela.

— Ainda não está, mas assim que o efeito do feitiço passar você irá me agradecer por ter curado todos esses buracos em sua pele. — Continua passando as lisas e sedosas mãos nos ferimentos até que eles não mais existam. — Está melhor assim.

— Por que?

— O que? — Fica confusa com minha pergunta.

— Por que lançou um feitiço de proteção em mim? Por que se preocupa com meu bem estar?

— Eu, bem, não sei. Mas me preocupo com você. Não sei lhe dizer o motivo, mas te quero bem. — Seu rosto enrubesce ao dizer isso. Ela sabe que o motivo foi revelado na noite passada, mas ainda assim não quer admitir mais de uma única vez. — Acho que devemos ir, lá fora ainda deve haver muitos outros deles. — Aponta para um demônio no chão. Eu concordo e nós saímos rapidamente do palácio em direção ao pátio esterno. Por algum mistério desconhecido estamos ganhando, há corpos espalhados por toda parte mas nosso povo ainda é o maior número. Vejo a preocupação e indignação estampadas no rosto de Psyche enquanto ela luta contra Mykal, que por sua vez está aos berros com o demônio.

— Nunca tive tanto prazer em matar alguém quanto terei quem cortar sua cabeça fora. Você me fez perdê-la, tudo isso é culpa sua! — Grita e imediatamente sei do que está falando.

— Eu? Pelas informações que sei foi você quem transformou o avô da mulher com quem dormiu. Perdão, você não dormiu com ela. — Lança um sorriso sarcástico.

— Farei questão de transformar a você também. — Mykal se joga contra o corpo de Psyche e ambas caem no chão. Os caninos afiados da princesa dos vampiros quase perfuram a carne da general, mas em um deslize ela perde o controle da luta e passa a ser dominada pelo demônio.

— Acho que não será hoje. — Solta uma de suas risadas aterrorizantes. — Mykal usa toda sua força para se afastar das mãos de Psyche que contornam seu pescoço a sufocando e finalmente consegue. Agora livre, ela usa sua velocidade para deixar a general desorientada fazendo com que tenha vantagem. — Recuar! Soldados em retirada! — Grita se teletransportando, sendo seguida por todos os outros.

— Todos estão bem? — Pergunto procurando Estella em meio as pessoas.

— Claro que estamos, conseguimos vencer! — Alexander diz eufórico.

— Ganhamos a batalha, mas não a guerra. — Mykal fala.

— Ela está certa, temos um problema, um grande problema! — Exclamo.

— Maior do que a possível extinção de três dos seis reinos místicos?

— Lyssa matou Abbadon, o único filho de Yaza. — O silêncio se instaura.

— Isso é péssimo, isso realmente é péssimo. — Mykal fala.

— Por que não matou os dois juntos? Assim não teríamos um pai furioso! — Kastian dá um pequeno grito.

— Foi um impulso.

— Espero que tenha feito isso para salvar sua vida.

— A minha não, mas a de Khione sim.

— Certo, a relevância não está nisso e sim em nos prepararmos duas vezes mais rápido e três vezes melhor do que até agora, pois Yaza e Psyche virão com anjos, demônios, vampiros e qualquer coisa capaz de matar para cima de nós. Lyssa tem um alvo a mais nas costas, e todos que estão com ela também.

— Vinte e oito. — Demir se pronuncia de repente.

— Vinte oito? — Todos repetimos sem entender.

— A quantidade de mortos que tivemos. Se formos levar em conta o número em que estamos não chegou a ser nem um por cento. Não posso dizer o mesmo das legiões de Psyche. — Observo ao redor, anjos e demônios estão caídos, mortos no chão. A terra de Elphia já deve estar acostumada com sangue pois ela o absorve em uma velocidade absurda.

— Eles vão voltar com muito mais soldados do que vieram dessa vez, não vão? — Uma fada nos pergunta.

— Sim, virão. — Digo em resposta e ela se afasta procurando a mãe.

— Precisamos estar preparados, Psyche pode voltar a qualquer minuto. — Meliorne diz visivelmente preocupado com a situação.

— Áster e Lilith.

— Como? — Mais uma vez uma fala gera total confusão.

— Precisamos delas.

— Isso é impossível, você sabe Khione.

— Não, não é. — Respondo a minha irmã que faz uma expressão surpresa.

— Por que nunca disse isso antes?

— Áster me contou essa possibilidade a menos de dois dias. E me alertou de que não deveria fazê-la por ser extremamente perigosa e difícil. Precisamos de um de um demônio feiticeiro e de todas as pedras centrais que já temos.

— Onde iremos encontrar um demônio feiticeiro? Essa ramificação da espécie é praticamente inexistente. Melhor dizendo, onde encontraremos um demônio que esteja disposto a nos ajudar?

— Isso é uma ótima pergunta.

— É verdade? Elas realmente podem voltar?

— Podem. — Dou um sorriso.

— Existem alguns demônios que não estão lutando ao lado de Psyche e Yaza. — Mykal começa a falar. — Eles vivem em uma pequena comunidade na floresta das fadas. Posso ver se há algum demônio feiticeiro por lá.

— Temos outro empecilho além disso. O ritual deve ser feito em todos os seis reinos, um pouco em cada.

— Você só pode estar de brincadeira! — Kastian exclama frustrada. — Três de seis reinos estão impossibilitados de serem "visitados."

— Sabemos disso Kastian, só precisamos ficar cerca de uma hora em cada reino, não deverá ser tão difícil.

— Os conhecimentos de Lilith e Áster nos ajudariam imensamente.

— De fato, são mais duas místicas que emanam poder.

— Seria ótimo tê-las aqui conosco. — Os olhos de Estella brilham ao saber da chance.

— Sim, seria maravilhoso. — Concordo. A animação a respeito disso toma conta de meu ser, quero poder toca-las, conversar cara a cara, contar sobre meus desastres amorosos, pedir conselhos. Quero conhecê-las.

Essa noite Kastian reforça a segurança do reino, não sabemos quando e nem com quantos Psyche virá. Deito em minha cama e tento chamar Áster, porém em vão, ela não aparece. Fico observando as estrelas até que o sono toma conta de mim e finalmente adormeço, um sono profundo e restaurador.

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