Capítulo Setenta e Um

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Devin está em uma de suas noites mais escuras, por sorte Cyrius e eu temos a capacidade de usar o poder dos vampiros para ver através da noite. A fronteira com o inferno está calma, sem nenhum vigia ou guardião.

— Temos que ser rápidos por aqui, a qualquer minuto algum demônio ou vampiro pode aparecer. — Mais rápido que nunca ele ergue as mãos mas dessa vez nada acontece, não sinto nada, até um certo momento em que todos meus pensamentos começam a ecoar em minha cabeça repetidamente, todas as coisas ruins que já pensei, todos os desastres que coloquei a culpa sob meus ombros, todo vem a minha mente de uma única vez em alto e bom som. Isso irá me enlouquecer. Seguro meu crânio com as mãos tentando de alguma forma parar tudo que está sendo dito em minha mente, mas não consigo, as palavras ficam cada vez mais claras e mais altas, cada vez mais insistentes. A dor de cabeça aumenta ainda mais, tenho a certeza de que irei morrer, vou sucumbir no fim, não consigo mais lutar contra isso, porém preciso, tento desviar meus pensamentos para momentos bons e lembranças que gosto, por um tempo isso realmente funciona todavia as vozes de meus problemas irresolvidos falam mais alto.

— Está completo. — Fala olhando para Áster que já consegue mexer pequenas partes do corpo. — Precisamos somente da última parte, e ela estará livre. — Estou exausta, tanto fisicamente quanto mentalmente, só preciso de uma última força e isso terá acabado, para sempre.

— Será difícil ficar no inferno, milhares de guardas espalhados por todo lugar. Com quase cem porcento de certeza seremos apanhados.

— Não seremos, Psyche deve estar ocupada com seus guardas comemorando a destruição de Elphia ainda ou arquitetando mais um plano de ataque, não temos com o que nos preocupar. E obviamente iremos a uma parte remota do inferno, minha antiga casa. — Dessa vez não pergunta se estou pronta ou não, simplesmente desloca até o local e começa o último processo. — Você vai precisar de muita concentração Khione, todos os poderes serão usados em você agora. Tudo pode acontecer. — Ele pega o fragmento nas mãos o escondendo e depois o soltando do ar, uma brisa sopra contra meu rosto, ficando cada vez mais forte, me envolvendo e me fazendo levitar, meus cabelos ruivos ficando em chamas e meu corpo da mesma forma. A dor das feridas e a dor psicológica que estava sentindo a segundos atrás se esvai como se estivesse me renovando assim como uma fênix. Meus olhos ficam reluzentes e mais azuis que nunca, meu corpo queima nas chamas porém não me dói.

— Você está bem? — Grita Cyrius.

— Melhor que nunca. — Respondo com uma voz que não é a minha. Nesse exato momento a pedra central explode inesperadamente, entretanto Cyrius não perde os poderes dela. Sinto algo crescendo dentro de mim, poder que irradia de todo meu ser.

— Chamem a general, temos intrusos! — Um demônio branda e eu imediatamente o destruo, apenas com um olhar, sem sequer mexer músculo algum.

— Khione tente se controlar, o estrago que pode causar é gigantesco.

— Do que está falando?  — Me viro para olhá-lo mas ele cobre o rosto.

— Em todos os meus milênios de vida nunca vi alguém tão forte quanto você. Em todos os reinos coloquei a magia em seu máximo, qualquer outro ser teria sucumbido a ela e morrido imediatamente, mas você não, você sobreviveu a magias ancestrais, a poderes inenarráveis, a coisas que nenhum outro ser jamais sobreviveu. Khione, você está controlando as mais altas magias que demorariam no mínimo duas vidas minhas para aprender, tens todos os poderes em suas mãos, emanando sem que precise de algo para obtê-los, você não rouba poder das pedras centrais, você é poder, é feita de magia, cada parte sua é algo que não consigo explicar. De certa forma agora entendo o motivo de tanto temerem a você, sua irmã e suas mães, se elas forem como és poderiam acabar com todos os reinos em menos de um dia. Se usarem seus poderes para destruição estaríamos perdidos. — Diz. Ele está com medo, está com medo de mim, do que posso fazer caso queira. 

— Ali estão eles! — Um soldado exclama, apontando para que os outros venham em minha direção. Sem nenhum esforço derrubo cada um deles, matando um por um sem ar.

— Essa é minha filha, estou orgulhosa de você. — Ouço a voz familiar que até então somente soava em minha mente.

— Áster? — Viro-me e lá está ela, de pé arrumando os cabelos ruivos ondulados, exatamente iguais aos meus.

— A própria e única. — Seu corpo erguido é mais alto do que imaginei, ela vem em minha direção e me abraça, tão forte que quase prendo a respiração. — Como senti sua falta, pelos Céus e pelo Inferno, você era apenas um bebê da última vez que pude toca-la. — Passa as mãos por meu rosto, contornando as linhas de minha boca. — Agora entendo o motivo de tantas mulheres ficarem aos seus pés, realmente é muito bela.

— Áster, eu sou idêntica a você. — Digo dando uma risada.

— Exatamente por isso.— Ri, piscando para mim.

— Sua modéstia me admira.

— Você teve a quem tirar esse traço de personalidade, obviamente a constante falta de juízo foi de sua mãe, você é exatamente como Lilith nesse ponto. Também tem a inconsequência dela.

— Com certeza sabemos quem será minha mãe preferida. — Dou uma gargalhada.

— Você não ouse, ainda posso te dar um bela dor de cabeça e umas boas horas de discurso. — Gargalha também.

— Como se sente estando de volta? Sem estar presa a mim?

— Livre. Livre principalmente de saber seus pensamentos e saber as sensações que está sentindo, isso estava me enlouquecendo no último ano. — Fala retorcendo o rosto, sei do que ela está falando e meu rosto fica vermelho.

— Não tenha vergonha querida. Mas eu definitivamente não preciso saber desses detalhes de sua vida.

— Não mesmo.

— Não quero estragar o momento, porém, vamos para casa? — Cyrius indaga.

— Vamos para casa. — Afirmo.

— Para casa. — Áster repete. — Aliás tenho uma nora, uma filha para conhecer e um irmão para rever. — Da um largo sorriso, ela está feliz. E enfim me sinto completa, me sinto genuinamente feliz.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora