Capítulo Cinquenta e Oito

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— Deve estar enganada, a filha de Lilith foi morta na guerra angelical e ela deu a luz somente a uma única criança.

— Venha conosco até o reino dos elfos, explicaremos tudo a você.

— Se permitir que eles venham junto, irei com prazer.

— Mas é claro. Todos terão seu devido lugar em Elphia.

— Cyrius, Cyrius. — O mesmo menino que nos trouxe até aqui chama o velho demônio. — Eles chegaram, estão na cidade! — Exclama.

— Se tudo der certo pensarão que foram vocês que destruíram a cidade. E Psyche não procuraria no mesmo lugar duas vezes. Poderão continuar a viver em paz no mesmo lugar, só terão que reconstruir suas casas. Sinto muito por isso, a ideia de destruí-la foi minha.

— Senhor Demir, você foi quem nos ajudou a construir toda aquela vila, não deve se desculpar por nada, se não fosse sua ajuda, ainda estaríamos em nossos antigos trapos e a essa altura seríamos apenas cadáveres que morreram de fome.

— Pegadas general, os que sobraram foram por aqui! Devemos segui-los? — Uma mulher grita na superfície.

— O que Khione veio fazer aqui se não foi procurar um demônio feiticeiro? Não faria sentido ela destruir o lugar onde alguma pessoa poderia ajudá-la. — Diz andando até a porta de onde entramos para o subterrâneo.

— Devemos segui-los senhora?

— Não vale a pena perdemos nosso tempo com isso, de uma forma ou de outra irão morrer, seja por minhas mãos, por falta de suprimentos ou até mesmo pelo clima que está começando a congelar nessas florestas.

— Devemos nos retirar senhora?

— Sim, Núria nos espera no inferno com um novo plano de ataque. — A marcha pesada se afasta de onde estamos e um tempo depois decidimos que é seguro sair.

— Ela não está totalmente errada, o clima das florestas está ficando extremamente frio nos últimos dias, em breve a neve começará a cair em Faleias. — Um dos demônios fala abraçando seu filho que está agarrado em uma de suas pernas.

— O que estão esperando? Nos levem até Elphia. — Cyrius diz, e fico feliz por tê-lo convencido. Mesmo que não saiba se meu plano irá funcionar, ao menos já o terei por perto se conseguir encontrar os corpos de minhas mães.

— Agora mesmo. — Respondo olhando para Lyssa, que dá um sorriso aliviado. Seguimos pela trilha até certo ponto, onde já estamos perto o bastante de Elphia para que os demônios se teletransportem sem que esgotem suas forças. — Isso foi surpreendentemente mais rápido do que imaginei.

— Uma lástima. — A princesa élfica responde com certo desapontamento em sua face.

— Lástima? Isso é muito bom! — Exclamo com felicidade.

— Esperava passar mais tempo junto a você.

— Estarmos voltando para Elphia não significa que não possamos passar tempo juntas Lyssa.

— Em meio a todo esse caos é exatamente o que isso significa. — Ela diz mirando o chão.

— Fique tranquila, arrumarei tempo para você, mesmo em meio a todo esse caos.

— Duvido muito Khione. — Fala com um ar sério, percebo que não acredita em minhas palavras e não a culpo.

— Você verá. — Ela toca em meu braço novamente com o objetivo de nos teletransportar como todos os outros estão fazendo. — Espero profundamente que isso seja verdade. — Em um piscar de olhos estamos novamente no chão coberto por neve de Elphia.

— Acompanhem Lyssa, ela mostrará onde ficarão. — Essas palavras me fazem lembrar o primeiro dia que estive nesse reino. O rosto intimidador de Kastian quando me viu junto a Psyche, e minha primeira noite no quarto que me deu aqui.

— Venham por aqui e por favor não façam barulho, está tarde e todos já devem estar dormindo. — Diz como se realmente acreditasse nisso. Meliorne está a um passo de ir junto a eles mas eu o impeço.

— Você não. Fique aqui. — Digo e ele da meia volta.

— Se for pelo fato de não ter lhe contado que conhecia os moradores da vila de demônios, sinto muito, queria averiguar a história antes para não lhe passar informações erradas.

— Não, não é por isso.

— Não? Então porquê é?

— Demir. — Na mesmo hora que digo o nome ele foge de mim. — Volte aqui, vamos falar sobre.

— Não, eu me recuso.

— Meliorne, ignorar o fato só irá piorar a situação.

— Não, não irá, faço isso a décadas, com o Demir sempre funcionou, ele erra, eu fico bravo, o ignoro por um tempo e depois voltamos como se nada tivesse acontecido.

— Uma relação muito saudável pelo visto.

— Pode não ser a melhor que você já viu, mas tem funcionado até hoje.

— Tem mesmo? Ou vocês tem se magoado até hoje por falta de diálogo? — O silêncio impera em nosso meio, e ele parece envergonhado ao perceber que estou certa.

— Tudo bem, admito não tem dado muito certo, entretanto é como nós nos resolvemos.

— Pois agora não será mais, vá até o quarto dele e saia quando tiverem conversado a respeito. Me entendeu? — Falo com um tom autoritário.

— Claro querida. — Abaixa a cabeça indo em direção a entrada do palácio.

— E me conte o que decidiram no final. — Termino me afastando deixando com que entre. Fico ao lado de fora, sentada onde até ontem era a relva, mas agora é uma camada espessa de neve.

"Áster?" — Tento mais um contato. 

"Estou aqui."

"Até que enfim resolveu me responder"

"É por causa dos corpos, não é?"

"Sim, sabe onde os colocaram?"

"Tenho uma ideia." — Fala. Ela não está interessada no assunto como de costume, e não entendo o que está acontecendo.

"O que houve Áster?"

"Como assim?" — Pergunta como se não soubesse do que estou falando.

"Sabe do que estou me referindo. Você não parece tão interessada como normalmente é com o assunto."

"Quer saber a verdade?"

"Claro que quero."

"Estou com medo filha. Estou com medo de você morrer no processo, estou com medo de morrer no processo, também estou com medo do que irá acontecer se tudo ocorrer bem." — Fico em silêncio pois compartilho dos mesmos medos que ela.

"Onde acha que seus corpos estão?" — Digo quebrando o pequeno silêncio.

"Provavelmente nos céus, já que foi o último lugar onde estivemos. O demônio que nos aprisionou deve ter nos descartado."

"Isso dificulta muito o processo de reverter essa situação."

"Sei disso, mas ainda tenho esperanças."

"Como faremos para entrar nos céus?"

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora