Capítulo Vinte Dois

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Khione

Abro os olhos e a claridade me faz fecha-los imediatamente. Tento outra vez e em poucos segundos eles se adaptam a iluminação presente. Sinto um corpo encostar-se ao meu o que me surpreende. Não lembro muitas coisas da noite anterior, apenas flashes de algo que posso ter acontecido. Viro-me para ver a quem pertence o corpo ao meu lado e vejo Mykal que dorme um sono profundo e aparentemente perturbado, pois se move bruscamente pela cama, penso rapidamente se devo ou não acorda-la e decido sair do quarto. Ando delicadamente até a porta para não fazer sons altos que possam iminentemente acordar a rainha, mas mesmo com todos meus cuidados esbarro em um criado mudo fazendo com que o crânio que julgo ser um enfeite horripilante caia no chão fazendo um forte ruído.

— Pretendia sair sem me acordar? — Ela abre os belos olhos avermelhados que agora me fitam.

— Pensei que quisesse dormir um pouco mais. — Digo um pouco envergonhada pois sei que para estar em seu quarto devo ter dito ou feito algo noite passada.

— Já dormi tempo demais. — Levanta-se e vem em minha direção. — Se lembra de algo sobre ontem? — Indaga rindo.

— Não muito. — E com sua voz imediatamente lembro do beijo, o nosso beijo, me recordo da sensação, me recordo do toque.

— Imaginei que isso aconteceria, avisei para ir com calma.

— Nos beijamos? Nos beijamos. — Pergunto e logo em seguida respondo minha própria pergunta.

— Sim, mas entendo que você não agia por si mesma, então está tudo bem. E acredite isso não foi o pior que você fez. — Ela continua rindo.

— Não?

— Não, mas não te lembrarei e assim fingiremos que nada aconteceu.

— Isso é realmente bom.

— O álcool libera o que já queremos, espero que você queira o mesmo que queria ontem.

— Nos beijamos e foi isso. 

— E você gostou não é mesmo? Para só lembrar-se disso. — Diz se aproximando.

— Creio que sim. — Me aproximo também selando nossas bocas.

— Vejo que realmente apreciou meus lábios. — Sorri.

— Creio que sim. — Repito beijando-a mais uma vez.

— Mykal… — Um homem surge com papéis nas mãos, em primeiro momento não nos olha mas logo em seguida ergue a cabeça e seu rosto se contorce. — Outra? É a quinta em dois meses, dois meses, por favor pode parar com isso?

— Alexander cale a boca antes que eu mesma te faça calar.

— E por quanto tempo durará seu mais novo brinquedo? Um, dois, três, quatro dias já que é o máximo que você as deixa aqui?

— Novo brinquedo? — Pergunto mas não obtenho resposta.

— Um mês.

— Um mês? Você perdeu o juízo? 

— Alexander!

— Me perdoe, me esqueço que não é possível se perder o que nunca se teve.

— Pode por favor ficar quieto por um instante? — O homem acata a ordem e se emudece. — Obrigada, e meu novo brinquedo, como você diz atende por um nome, Khione este é o Alexander meu administrador e melhor amigo.

— Diria que é um prazer te conhecer, é claro se a expressão de nojo no seu rosto fosse menos visível.

— Me desculpe, onde estão meus modos, com toda a agitação que tive hoje e com mais uma das… Não sei como devo chamar todas as mulheres que Mykal já trouxe aqui, fiquei atordoado.

— Sem problemas. — Digo forçando gentileza.

— Minha belíssima Mykal, sei que se acostumou em reinar e que provavelmente esqueceu da existência de seus pais mas eles chegam pela manhã do próximo dia, e não sei o que vão achar dela. — Diz apontando o dedo indicador em minha direção.

— Amanhã? Não seriam seis meses de viajem?

— Os acordos com o reino demoníaco foram efetuados antes do previsto o que fez com que o regresso de vossas majestades acontecesse mais cedo.

— Vossas majestades? Mas a própria rainha não está aqui? — Indago olhando para o lado.

— Majestade? Mykal como rainha? — Ele ri até seu rosto ficar tão vermelho quanto uma pedra de rubi.

— Princesa Mykal ao seu dispor raio de sol. — Ela se curva pegando minha mão.

— Como só vim para avisar-te disso irei me retirar pois ainda tenho muitas coisas para resolver ainda hoje.

— Obrigada pelas informações não solicitadas Alexandre, muito obrigada.

— Por nada meu bem. — Diz ironicamente e sai do quarto.

— Algo mais que eu deva saber? — Questiono.

— Tenho setecentos e vinte e cinco anos, serei a futura rainha deste reino, sou dona de um corpo impecável mais isso você certamente já notou e por último porém não menos importante meus pais não vão gostar de te ver aqui.

— Então por que simplesmente não me deixa ir?

— Antes do prazo do nosso acordo? Jamais. 

— Então o que pretende fazer? Me manter presa nesse seu quarto?

— Uma excelente ideia, claro que ficarei com você, e podemos sair pela madrugada.

— Mykal me diga, só me diga que essa não é a mulher em chamas que os anjos estão procurando em todos os reinos. — Alexander diz empurrando a porta com toda força.

— A própria.

— Você tem noção do que está fazendo? 

— Tentando conquistá-la?

— Colocando nosso reino em perigo! É isso que você está fazendo. Entende que se os anjos descobrirem isso atacarão Devin?

— Mas eles não vão, em primeiro lugar por que você não irá contar nada e por que eu também não irei.

— A rainha Núria e o rei Octavian a entregarão a eles e sabe disso.

— Não irão, ela ficará aqui, neste quarto e ninguém saberá da existência dela nesse reino. Certo Alexandre? Isso não sairá daqui.

— Uma loucura, uma tremenda loucura, se algo acontecer a ela ou a nosso povo saiba que a culpa é toda sua. — Ele cospe as palavras.

— Consigo conviver com isso.

— Acho bom pois se algo der errado eu mesmo me encarrego de te punir. Agora pode ser um pouco responsável e cuidar das suas tarefas reais?

— Minha tarefa real está bem aqui.

— As tarefas reais que realmente deveria estar fazendo, não a tarefa que você mesma conseguiu. Mas como tenho certeza de que mesmo se me jogar aos seus pés implorando você não irá fazer eu mesmo me encarrego disso, e as duas por obséquio não saiam desse quarto em hipótese alguma.

— Certamente Alexander. — Ele sai novamente e para garantir que não sairemos tranca a porta.

— Ele não é sempre assim, consegue dar menos ordens as vezes.

— Vejo que ele está mais próximo de ser rei do que você rainha. — Começo a gargalhar e ela me joga contra a cama.

— Já que estamos aqui sozinhas e sem possibilidade de sair posso lhe mostrar uma das coisas mais belas do reino.

— E o que seria? 

— A sua futura rainha.

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