Capítulo Setenta

68 19 0
                                    

Cyrius nos leva a uma parte remota dos céus, não há ninguém, somente uma paisagem vazia quase como um deserto.

- Creio que nenhum soldado vira até aqui. Se prepare, a alma de Áster pode começar a sair de você a partir de agora, e isso não será muito confortável. - Ele profere mais palavras e desse vez todo meu corpo é enrolado em um manto de água, minha respiração fica impossibilitada e com os minutos se passando meus pulmões queimam pela falta de ar, por fim uma fumaça espeça começa a sair por meu corpo. - Ela está retornando! - Estou a um ponto de desmaiar todavia aguento firme até o último segundo dessa parte. O corpo de Áster já parece mais vivo, está dando certo, mas também está me matando aos poucos. A água se esvai pelo chão me deixando puxar o ar novamente. - Está se saindo bem, aguente mais um pouco e tudo dará certo. - Olho para minhas mãos e estão trêmulas, minha garganta está seca e estou pálida como o branco de minha esclera.

- Só mais quatro. - Digo ofegante.

- Queria poder deixá-la descansar um pouco, mas você sabe que não é possível. - Em poucos minutos estamos em Faleias, no meio da floresta, Cyrius invoca animais e faz árvores crescerem juntando tudo em um redemoinho e o atirando em mim, os galhos batem em meus braços abrindo cortes por onde um líquido verde escorre ao invés de meu sangue, magia élfica. Mais da alma de Áster deixa meu corpo, ainda posso ouvi-la. Seu grito é agoniante de se ouvir tento para-la mas não consigo. A magia verde flui de todos os lugares vindo até mim como milhões de facas me perfurando, a dor está cada vez mais forte e sinto meu estômago revirar a cada momento como se fosse vomitar todo o café da manhã que comi. Sei que o terceiro processo já está em seu fim pois o redemoinho começa a ficar mais fraco, os raios de magia élfica também e a alma de Áster já não mais sai de mim. Quando termina estou com com feridas expostas por todo corpo. Cortes grandes e profundos que sangram encharcando minha roupa.

- Elphia. - Diz somente.

- Cyrius, todo o processo não levaria sete dias? Um em cada reino?

- Em teoria sim, na verdade deveria demorar sete dias. - Fala se preparando para outro teletranporte.

- E por que em menos de de quinze horas já passamos por três reinos?

- Lhe explicarei ao fim do desaprisionamento, pois agora devemos ir a Elphia. - Encerra o assunto nos levando a antiga cidade agora em ruínas. - A magia dos demônios será usada agora, pode ser um pouco mais forte que as outras pois nesse fragmento possuo acesso as magias ancestrais.

- Vamos logo com isso. Não posso ficar pior do que já estou. - Digo e me engano, pois quando ele começa o quarto processo sinto minha pele queimando e senso arrancada do resto de meu corpo, as feridas se abrem rasgando mais ainda minha derme, dou um grito em razão da dor que estou sentindo, não sei se aguento isso por muito mais tempo, e nem sei se aguentarei os últimos dois processos, contudo estou tão perto de tê-la novamente, não irei desistir agora.

- Certo. - Segura em uma de minhas mãos e novamente nos transporta. - Posso usar menos magia se quiser, lhe machucará bem mesmo mas o processo pode demorar muito mais ou até mesmo não funcionar.

- Coloque a quantidade de magia necessária para que acabe logo, da forma que você está usando em todos os reinos.

- Tem certeza disso? - Pergunta, ele está seriamente preocupado.

- Tenho. - Digo mesmo não tendo.

- Tudo bem. - Dessa vez sombras negras me rodeiam, dançando em volta de mim, parecem belas até a hora em que entram em minha cabeça. Já não estou mais em Elphia e sim em Niran, o mar está vermelho e há corpos por todos os lugares, como no dia do ataque a Elphia, mas dessa vez não somente os soldados foram mortos, todos foram mortos. Olho procurando Estella desejando não há encontrar mas infelizmente ela está ali, a garganta cortada, marca registrada de demônios, a lateral do pescoço mordida por dois caninos afiados, vampiros. Me abaixo para olhá-la, quero gritar mas não consigo, quero chorar mas as lágrimas não vem, e então só existe um aperto em meu peito tão agoniante que poderia matar-me a qualquer minuto. Continuo passando meus olhos pelos corpos até que encontro Lyssa, minha doce Lyssa, ela está cortada em pedaços, isso parte mais ainda meu coração, quero pegá-la e ressuscitá-la mas infelizmente não sou um anjo da vida, como adoraria ter um aqui para obrigá-lo a juntar os pedaços da elfo e trazê-la de volta a vida. Passo minhas mãos por seu rosto gelado e fecho seus olhos que ainda estão abertos. Logo ao seu lado está Mykal, a vampira estava tentando protegê-la, pela posição que está provavelmente se jogou na frente de um raio que atingiria a Lyssa, infelizmente tarde demais. Ver Mykal ali, caída como todos os outros faz com que a primeira lágrima consiga cair e partir desse momento desabo completamente. O choro e o soluço se misturam com a voz de Áster em minha cabeça dizendo-me que tudo isso é minha culpa, que se estivesse na terra até hoje todos os místicos seriam mais felizes e estariam vivos, tudo que trouxe aos mundos foi o caos e a desarmonia. Se não houvesse aparecido Kastian ainda teria seu reino, belo e maravilhoso como sempre foi desde o princípio dos místicos. A rainha de Niran não haveria morrido. Cyrius não teria que ter queimado sua própria vila, Demir não precisaria ver Arwen morrer, e nenhum deles estariam mortos agora. Tudo isso é minha responsabilidade, é por minha causa que toda essa destruição aconteceu, não me resta mais nada, minha família está morta e a única coisa que posso fazer é me juntar a eles. Pego uma espada embanhada em minhas costas e a aproximo de meu coração, e é quando uma sombra negra passa por mim, nesse momento percebo que tudo isso é ilusão, demônios são conhecidos pela manipulação psicológica. Como não pude perceber? Tudo não passa do processo com magia demoníaca. Assim que percebo isso a realidade alternativa se desfaz diante de meus olhos e volto novamente a Elphia para junto de Cyrius que está me olhando com os olhos arregalados.

- Pelo inferno, você estava quase cravando uma espada no próprio corpo, estava tentando impedi-la mas uma barreira energética não me deixava atravessar. Me perdoe é a primeira vez em muito tempo que uso magia ancestral, se soubesse que quase lhe levaria a morte jamais teria a usado. - Está decepcionado consigo mesmo e é possível ver claramente em seu rosto.

- Você não tinha como saber Cyrius, não se culpe, estou bem. - Minto, pois a dor em minha cabeça está a um ponto de trazer meu cérebro ao chão.

- Devemos parar já é noite e o próximo reino seria Devin, vampiros são criaturas noturnas, visitá-los a noite não seria a melhor opção.

- Você mesmo disse que não podemos demorar entre um processo e outro pois corre o risco de que no fim ele não tenha resultado.

- Está certo o que disse, no entanto seria muito arriscado ir até Devin.

- Também é muito arriscado perdermos todo nosso progresso tão perto do fim. Precisamos ir até lá nesse exato momento. - Digo seriamente.

- Como quiser minha rainha. As fronteiras devem estar sendo vigiadas a todo momento, o castelo também, porém a fronteira do inferno não deve ter observação, seria o lugar mais adequado para conseguirmos concluir o reino sem sermos pegos.

- Então nos leve até lá.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora