Capítulo Sessenta e Oito

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- Consegue subir sem tropeçar e cair com o rosto na água? - Pergunta mesmo sabendo a resposta. Eu a fito com um olhar que diz exatamente não. - Certo. - Ela me ergue com os braços me colocando em um dos assentos. A lua ou algo que se aparenta com ela está brilhante no céu, redonda e luminosa. É fácil distinguir a silhueta de Lyssa em meio ao resto da escuridão. Suas mãos seguram remos que nos tiram da costa levando o pequeno barco até o meio do mar.

- Lyssa. - Chamo esperando que ela me olhe.

- Sim? - Para de remar por já estarmos a uma boa distância e me encara.

- Por que insistiu em mim? Mesmo sabendo que naquela época ainda haviam milhares de pedaços meus que estavam presos a Mykal. - Digo. E pelos céus, se não estivesse com uma boa quantidade de álcool no sangue jamais teria perguntado isso, pois provavelmente ela me perguntará algo que não quero responder em seguida.

- Já se perguntou porquê todo mundo se apaixona por você Khione? - Fala me surpreendendo.

- Pela minha beleza? - Dou um riso. Por mais que na verdade acredite fielmente nisso.

- Nem tanto por isso.

- Não?

- Não. Vou te falar por que me apaixonei por você. Quando cheguei ao castelo você foi gentil comigo, até certo ponto, claro, mas devido ao seu alerta em relação a inimigos. Quando voltou de Devin sem conseguir conquistá-la estava arrasada por isso, mas deixou sua dor de lado para me amparar e ver o que estava acontecendo e porquê eu estava em estado de pânico. Quando pensou que sua irmã havia morrido no ataque não me culpou por não protegê-la. Embora se caso houvessem acontecido seria minha responsabilidade. Você é determinada. Se preocupa com as pessoas que ama mais do que se preocupa consigo mesma. Tenta ajudar a todos e está lutando diariamente pela paz residir novamente em nossos mundos. Existem muitas coisas interessantes e atraentes em você além de sua beleza, por mais que ela também seja um fator incrível, porém não o principal para me fazer insistir em você. Sim, sabia que parte de você ainda era de Mykal e não minha, contudo acreditei que com o tempo você poderia esquecê-la comigo, mesmo que sempre haja uma parte dela em seu coração, acreditei que a maior parte dele seria meu. E pelo que vejo valeu a pena esperar e insistir. - Sorri. Odeio pensar que isso não seja totalmente verdade.

- Você ainda pode me perder, não sabe? - Mudo o assunto.

- Como assim? - Indaga confusa.

- Amanhã começa o processo de desaprisionamento, posso morrer de várias formas. Por não suportar a magia ou por um ataque demoníaco enquanto estiver em Devin ou no inferno.

- Mas não irá, Cyrus tem poder suficiente para lhe proteger quando estiver vulnerável. E ele te considera sua rainha, então creio que daria a vida por você. Tudo dará certo e teremos sua mãe em nosso casamento. Espero que ela goste de mim, aliás ter a aprovação da rainha dos Céus é uma coisa um pouco importante, ainda mais se ela for minha sogra. - Diz se aproximando de mim.

- Ela já te conhece Lyssa, Áster está com você em literalmente todos os minutos em que eu estou, nesse momento inclusive.

- Lembro vagamente de como ela era, a última vez que foi a Elphia Kastian e eu éramos crianças, devíamos ter uns cem anos.

- Ainda estou me acostumando com o conceito de crianças de vocês místicos. Cem anos na terra é muita coisa.

- Cem anos para quem vive mais de um milênio não é quase nada. Estou me casando com alguém que tenho o triplo da idade e mais cem anos.

- Santo inferno, quantos anos você tem? - Pergunto, já que nunca achei essa informação muito importante.

- Mil anos e duzentos e trinta e três dias.

- Com toda certeza sou uma criança em relação a sua idade.

- Só não é considerada pois a vivência de sua espécie e o amadurecimento é completamente diferente da minha. Elfos são considerados crianças até duzentos e cinquenta anos. Fadas são consideradas crianças até os primeiros mil anos. Os anjos tem uma média de vida diferente e os demônios também, como você tem o sangue dos dois, deve viver em média uns sete ou oito milênios, ainda tem muito tempo de existência.

- Isso é muito tempo. - Afirmo, pois se for comparar aos dias terrestres viverei eternamente.

- Não necessariamente, minha média de vida é entre vinte e trinta e cinco milênios, fadas são imortais se não forem mortas por outras fadas, mas meu sangue elfo enfraquece minha vida.

- É a primeira vez que você se casa? Em um milênio já deve ter tido mais alguém. - Pergunto não sabendo se quero realmente ouvir a resposta.

- Primeira vez, fiquei aprisionada nós últimos trezentos anos, desde que você nasceu praticamente. Antes Psyche e eu tínhamos um relacionamento, porém não chegou ao nível de casamento, ela jamais permitiria que chegasse.

- Então eu sou a primeira? - Digo surpresa.

- E provavelmente a única. - Responde em um sorriso.

- Pela nossa diferença gritante de expectativa de vida acho que não serei. - Dou uma gargalhada.

- Talvez eu morra primeiro que você Khione, me aproveite enquanto me tem. - Brinca. - Tem que me prometer que não irá morrer no processo de desaprisionamento. - Diz olhando em meus olhos.

- Não posso controlar isso Lyssa, é um risco a se correr.

- Me prometa, não posso ficar viúva antes mesmo de me casar. Eu amo você Khione e não penso mais em nenhum dia que não seja ao seu lado, então por favor me prometa que ficará bem e viva. - Seu rosto se contorce, ela está quase chorando. Mesmo que não saiba o que me aguarda prometo o que ela me pede.

- Eu prometo. Vou voltar para você, como sempre volto. - A beijo. Lyssa, ah Lyssa, se você soubesse tudo que se passa em minha mente e toda confusão que nunca deixei de ser tenho certeza que fugiria o mais rápido possível para longe de mim. Ou talvez mesmo assim ficasse e tentasse me ajudar a arrumar todo esse caos.

- Não fugiria de você em hipótese alguma, sei que você é uma completa confusão, mas isso não me impede e jamais me impediria de ficar aqui com você. Posso tentar ajudá-la a arrumar tudo isso e colocar cada coisa no lugar, seu caos não me importa se estivermos juntas. - Fala e mais uma vez está lendo meus pensamentos.

- Estou quase me arrependendo de ser noiva de uma telepata. - Gargalho alto.

- Tem alguma coisa a me esconder? - Ri junto a mim.

- Não, entretanto isso é uma completa invasão de privacidade. - Digo forçando um tom sério.

- Você faria o mesmo se pudesse.

- Eu posso, começarei a utilizar isso.

- Continue sendo uma híbrida angelical e demoníaca, já está ótimo, ter que me preocupar com você usando todos os poderes que é capaz não é algo que está em minha lista por enquanto. - Ela fala. Meus olhos estão pesados e quase se fechando, o sono está tomando meu corpo, mais um dos efeitos da bebida em mim.

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