Capítulo 3

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A situação era constrangedora demais e eu queria me enfiar no primeiro buraco à vista. Christian gesticulou para abaixar o tom e, com muito esforço, atendi o seu pedido. Podia ouvir os passos apressados do outro lado e batidas incessantes na porta, junto com a pergunta de um dos guardas se o príncipe estava bem. Ele respondeu que sim e depois se voltou para mim, pressionando o indicador sobre os lábios em um pedido para fazer silêncio. Ainda nervosa e vermelha, assenti com a cabeça.

Os passos se tornaram distantes até cessarem e permiti que um suspiro de alívio escapasse de meus lábios, antes de voltar a refletir sobre a situação em que nos encontrávamos.

— D-Desculpa, alteza, eu... O senhor me chamou para cá e...

— Chamei há quase uma hora para limpar o quarto. — dizia em um tom levemente repreensivo, mas seus olhos expressavam a mesma calma de antes. — Como demorou, acreditei que não vinha, fui tomar banho ciente de que não seria incomodado.

— Perdão, alteza.

— Tudo bem.

— Se me permite perguntar, por que eu?

Os olhos dele cintilavam em sinal de divertimento e um sorriso se desenhou em seus lábios.

— Porque eu gostei de conversar com você, Diane.

— Você lembrou do meu nome!

Claro, sua idiota. Você criou um puta príncipe gostoso e não um cara com amnésia!

A risada de Christian ecoou pelo quarto e não pude deixar de admirar a naturalidade de seus gestos. Mesmo apenas de toalha com uma mera empregada, ele parecia bem à vontade e confortável.

— Por que não lembraria?

— De fato... Perdão por insinuar que Vossa Alteza tinha uma memória ruim.

— Não precisa se desculpar tanto. — comenta caminhando até o guarda roupa e pegando algumas peças. — Eu sou tão assustador assim?

Eu neguei com a cabeça tantas vezes que meu pescoço doeu. O loiro soltou outra gargalhada e, sem ao menos perceber, estava sorrindo feito uma boba. A presença dele era calma e reconfortante. Christian ocupava o segundo mais alto cargo — atrás apenas do próprio pai — e ainda conseguia demonstrar uma humildade surpreendente. O povo de Velorum é sortudo em tê-lo como futuro governante ao lado de Alene.

Sinto uma pontada incômoda no coração diante desse pensamento.

Então, lembro que não a vi desde que cheguei no reino, o que constata as minhas suspeitas. Pela forma que a trama está decorrendo, sem expor todos os personagens de uma vez, o livro ainda está em seu início onde a protagonista narra os seus dias na aldeia que vive antes de ser convocada para servir no palácio. Provavelmente, eu precisarei ficar afastada para não atrapalhar diretamente no romance dos dois.

Retornei à realidade antes que o rapaz notasse o meu devaneio.

— De forma alguma, alteza. Eu arrisco a dizer que sua presença é reconfortante até demais.

Mais uma vez a droga da minha língua solta se manifesta. Enquanto escrevia sobre Christian, perdia a noção de tempo narrando cada detalhe sobre ele. Quando nos dedicamos a uma obra, sempre há um personagem que rouba parte do nosso coração. Pois bem, eu poderia dizer que Christian o roubou por completo.

O sorriso dele faz com que borboletas surjam em minha barriga. Malditas borboletas.

O príncipe possui sutis covinhas em suas bochechas — bem mais discretas que as de Bryan — e os dentes brancos perfeitamente alinhados. O seu rosto é simetricamente perfeito e as bochechas levemente ruborizadas dão um certo charme, acentuando a benevolência de sua áurea.

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