Capítulo 70

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Tudo aconteceu em câmera lenta.

Em um momento Lorcan vinha correndo em minha direção para um abraço caloroso, em outro havia uma espada atravessando o seu peito. Lentamente, ele descia o olhar para a lâmina antes de cair de joelhos, cuspindo sangue.

Corro o mais rápido que minhas pernas permitem, pegando a adaga dele no chão e a lançando no maldito guerreiro de Velstand. Graças aos treinos de pontaria com Raven, acerto o peitoral do oponente que recua um pouco. Katlyn, que está por perto, finaliza com uma flecha certeira em seu crânio.

A gratidão é deixada de lado diante do desespero ao ver a minha alma gêmea caída no chão. Ajoelho-me diante de Lorcan, erguendo levemente o seu corpo. Os olhos azuis encaravam-me de maneira fraca e quase sem vida. A sua pele estava começando a ficar gelada enquanto, por outro lado, a minha fervia em um misto de desespero e raiva.

Se tivesse demorado um pouco mais, a sua morte poderia ser evitada. Eu poderia ter feito aquele sacrifício e tudo ficaria bem.

— Por favor, fica comigo! Meu amor, não durma! Estávamos tão perto de ter Velorum finalmente em paz, então, por favor, não desista!

— Na... Natasha...

A simples menção ao meu nome o faz vomitar sangue.

Trêmula, seguro o seu rosto mal conseguindo respirar. Estava tão ofegante e desesperada que todo o combate ao redor sumiu. Não ouvia nada além da respiração fraca do Lorcan. Não via nada além do seu corpo perdendo a vida aos poucos.

— Eu imploro, estrelas, não deixem a minha alma gêmea ir embora. — murmuro segurando sua cabeça, encostando nossas testas enquanto sentia as lágrimas ardendo em meus olhos. — Ele precisa viver.

A mão de Lorcan toca o meu rosto. É um toque tão sutil e fraco, significando que tinha pouco tempo ao seu lado.

— Eu detesto... Vê-la... Chorar...

O meu peito subia e descia de forma constante enquanto o apertava contra mim. A visão do horizonte totalmente embaçada por causa das lágrimas.

— Temos tanto a realizar ainda, Lorcan. Não me abandone, você prometeu! Você prometeu!

Os seus lábios trêmulos formam um sorriso de tristeza. Lentamente, a mão dele perdia as forças até cair na grama.

— Desculpa... Desculpa, minha Natasha...

A sua respiração estava tão fraca ou inexistente. Não sabia definir devido ao desespero. Abraço fortemente Lorcan enquanto ergo o olhar para o céu, vendo as nuvens cinzas sumirem dando espaço para o crepúsculo. Um prelúdio da fria noite que se iniciaria.

Então, grito com toda a força dos meus pulmões. Sinto a garganta rasgar com o segundo grito, mas não paro. Deixo toda a dor extravasar em meios aos prantos. As lágrimas me afogavam em um mar de tristeza, o desespero dava um abraço sufocante. Enquanto os guerreiros distantes de Velorum comemoravam a vitória, brando à plenos pulmões.

Eu estava perdendo a minha alma gêmea.

— Diane, olhe para mim! — exclama Katlyn ajoelhando-se à minha frente. Ela segura meu rosto com seus dedos calejados e quentes, forçando-me a encará-la. Por instinto, puxo minha cabeça de volta e encaro Lorcan que permanecia de olhos fechados. — Não, não. Ele vai ficar bem, eu prometo! Mas não se deixe levar pelo desespero, seja forte!

Tarde demais. Todo ao ambiente ao meu redor escurece e sou abraçada por uma sensação gélida e profunda.

***

Quatro dias depois, capital de Velorum.

Os gritos de comemoração não são capazes de abafar meus pensamentos. Apresso os passos pelas ruas, passando entre a dança e a música. Em outra circunstância, também comemoraria pela vitória de Velorum mas me vejo incapaz de sorrir. Por isso, chego ao palácio sem dar a devida atenção para a festa na rua.

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