Capítulo 6

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O meu café da manhã quase voltou naquele momento. Os dois guardas do portão ergueram o homem que se encontrava inconsciente. O jardineiro passava pelo local e, ao avistar a cena, correu para o interior do Palácio a fim de comunicar os demais. Enquanto isso, eu permaneço estática no mesmo lugar observando os machucados do coitado.

Com toda certeza, Lorcan não brinca quando o assunto é tortura.

Quando recuperei um pouco da coragem, corri até o portão e o abri permitindo que os três entrassem no castelo.

— Ele está perdendo muito sangue. — anuncia um dos guardas.

O conhecimento deles em medicina era restrito porque a obra se passava na Era Medieval. Contudo, tenho conhecimento o suficiente para ajudá-lo nesse momento. Por isso, ignorando o medo latente em cada veia do meu corpo, digo:

— Eu posso ajudar mas, primeiro, vamos leva-lo para dentro.

Os dois assentem e se dirigem para o interior do palácio, mais especificamente em uma sala que servia como a enfermaria real. Conforme avançávamos pelo corredor, os serviçais e os outros guardas interrompiam suas funções para encarar a cena. As minhas pernas tremiam tanto que apenas uma força divina seria capaz de me manter em pé. Provavelmente, a notícia já chegou aos ouvidos do príncipe mas não podia pensar nesse detalhe. Não agora com uma vida em risco.

Por ter uma mãe ausente, eu precisei aprender a me virar sozinha desde os meus dez anos de idade. Eu tinha uma tia distante, Beatrice, enfermeira chefe de um dos maiores hospitais de Londres. Às vezes, ela cuidava de mim e me ensinava tudo o que sabia sobre primeiros socorros. Então, sempre que uma das minhas travessuras na árvore do quintal rendia em um machucado, já sabia o que fazer.

Os guardas depositaram o homem em uma das macas e, assim, dei a minha primeira ordem.

— Peçam para uma das empregadas trazer uma bacia com água fervendo, linha, um anzol de pesca, panos limpos e uma garrafa de rum.

Eles assentem e saem do quarto em um piscar de olhos. A minha respiração torna-se cada vez mais pesada como se eu estivesse me afogando no fundo do oceano. Era difícil respirar quando se tem um ataque de pânico e, para piorar, a mente não funciona da mesma forma. Por sorte, a chegada dos guardas e outras três empregadas serviu para me distrair.

— Coloque a linha e o anzol na água fervendo. — ordeno para uma empregada e o meu olhar recai sobre as outras duas. — Rasguem a camisa dele e limpem seus ferimentos.

— E o rum? — questiona um guarda erguendo a garrafa.

— Criar coragem. — respondo pegando a garrafa de sua mão e dando um longo gole. — Alguém vai ter que costurar o ferimento, mas eu não faço a mínima ideia de como e-...

— Eu consigo. — dizia uma empregada ao se aproximar. — Eu trabalho costurando roupas, acho que não é tão diferente.

— Ótimo. Mas quanto a perna...

— Um primo meu quebrou o braço e usamos um apoio de madeira. — comenta outra serviçal. — Eu sei fazer.

Suspiro aliviada e gesticulo para que elas continuem suas funções. Então, ouso me aproximar dando as instruções para que não corrêssemos o perigo de infeccionar as feridas. O homem acordou alguns minutos depois, gritando de dor e foi preciso os dois guardas o segurando para que a sutura fosse realizada.

Após duas longas horas de tratamento dos ferimentos, as empregadas e os guardas se retiraram quando ele se encontrava dormindo. A sua respiração estava mais calma apesar do suor escorrendo pelo corpo. Um manto foi depositado sobre o homem e, pelo menos, tratamos à tempo de evitar uma morte por hemorragia.

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