Capítulo 41 parte I

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Atenção: Gatilho de violência.

Todos no enorme salão batiam palmas. O garotinho terminava de tocar, ajeitando-se diante do piano. O seu sorriso crescia ao ver a aprovação ao seu redor. Em seguida, descia do banquinho com um salto e ficava no centro da plateia de nobres, apoiando a mão sobre o peito e curvando-se.

Em um canto do salão, um homem de roupa militar preta aplaudia com um olhar de poucos amigos. Ao seu lado, uma mulher de longo cabelo preto, preso em um coque alto, e vestido vermelho de seda, comenta:

— Não é grande coisa. Ele errou muitas notas.

— Mas é surpreendente para uma criança de cinco anos, Charlotte.

— Ora, Sirius. Nosso filho pode fazer algo mais útil do que tocar piano.

Simultaneamente, os dois desviam a atenção para o garotinho do assento ao lado. Ele mal podia tocar o chão por causa do tamanho e estava totalmente encolhido, cobrindo as orelhas com as mãos. O barulho ao seu redor o incomodava, fechando os olhos com força. Antes do pai poder fazer algo à respeito, todos no salão se levantam diante da presença do rei. Erick cumprimentava os nobres, um por um, até chegar no homem de fardamento militar.

— Olá, Sirius. — cumprimenta com cordialidade, recebendo uma breve reverência em resposta. Logo, o olhar do rei volta-se para o garotinho que o encarava ainda cobrindo os ouvidos. — Seu filho?

O casal assente à contragosto.

— Que adorável. — comenta o rei, inclinando levemente o corpo para baixo. — Qual seu nome, pequeno?

Porém, o garotinho se escondia atrás do vestido da mãe, tremendo de medo. Os murmúrios entre os nobres se iniciam diante da atitude da criança. Sirius e sua esposa, Charlotte, trocam olhares consideráveis entre si antes de se desculparem para o rei Erick. O seu filho, Christian, observava tudo de longe com certa curiosidade, mas sequer teve tempo de pensar muito pois pediram outra música no piano.

Após retornarem para a sua mansão em Icarus, o garotinho dava o primeiro passo em direção ao quarto mas recebia um forte tapa do pai, caindo no chão.

— Que tipo de comportamento foi esse, Lorcan?! O rei é a autoridade máxima, você deve se curvar perante ele!

Lorcan apoiava a mão sobre a bochecha, onde se encontrava vermelha e ardendo. Nada disse, começando a chorar.

— Era só essa que me faltava! Um filho inútil que não consegue nem falar. Não podemos deixar que o filho do rei se sobressaia. Ele já vem chamando atenção demais na sociedade.

O garotinho recebia outro tapa do seu pai, ficando tonto. Então, Sirius segurava as mechas pretas e lisas do cabelo dele arrastando-o pelo corredor. Lorcan se debatia gritando e chorando alto enquanto Charlotte observava a cena com desdém, retirando os brincos. Ele era jogado dentro da uma cela no subterrâneo, arrastando-se até tocar as grades com as pequenas mãos trêmulas.

— Papai... N-Não... Eu estou com medo...

— Em menos de um minuto nessa cela, você já está falando, sua aberração. Creio que teremos um bom resultado na primeira noite. — comenta antes de sair do subterrâneo, deixando o menor sozinho.

Ele gritava até sua garganta doer, chamando por seus pais. O eco retornava aos seus ouvidos, como uma melodia solitária. Então, Lorcan se encolhia no canto da cela, abraçando as pernas enquanto chorava.

***

O garoto escrevia as anotações no livro, mas recebia chicotadas nos dedos sempre que a letra saía minimamente torta. E os golpes eram dados com mais força se começasse a chorar. O sangue da mão misturava-se com algumas páginas e, ainda assim, ele continuou a escrever mesmo que as lágrimas embaçassem a sua visão.

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