Velorum

Capítulo 45

Eu estava assustada.

A verdade é que não queria ter dito aquelas coisas ao duque. Por causa do vinho, o meu medo havia sido exposto da pior forma possível. Depois de vê-lo derrubar um rei com crueldade, estava apavorada do que poderia fazer comigo. Sinceramente, reconhecia suas boas ações mas uma parte de mim estava insegura. Por que alguém ficaria ao meu lado? Por que alguém olharia para mim como se eu tivesse valor?

Christian, com toda a sua gentileza, ignorou a minha existência diante de Alene. Esperar que Lorcan fosse o ser mais compreensivo do mundo estava fora de cogitação. Em alguns momentos em Icarus, realmente acreditei que ele havia se tornado uma versão melhor de si mesmo depois que nos aproximamos. Contudo, para a minha decepção, Lorcan continuou sendo uma pessoa cruel e manipuladora. Ele não desistiu do seu sonho de matar a família real e tomar o poder de Velorum.

O meu esforço não foi capaz de mudá-lo.

E uma voz em meu interior dizia: Se ele continua seguindo o papel que foi designado no livro, então nada o fará ser uma pessoa melhor.

Eu odiava questionar as atitudes de alguém, principalmente quando sentia sinceridade nelas. Mas deveria confiar no vilão da obra? Não quero ser iludida por outro personagem meu.

Porém, no fundo, a questão principal é: Por que eu me importo tanto se Lorcan vai melhorar ou não?

Após uma péssima noite de sono, fiz minha higiene matinal e voltei para a cama, encolhendo-me nas cobertas. Minutos depois, ouvi batidas na porta e sequer tive tempo de responder. A silhueta da rainha sugou todas as minhas palavras.

— Era tudo fingimento? Porque, pelo visto, você gosta do rei Christian. — comenta apoiando as mãos na cintura. — Não conseguiram me enganar com toda a atuação barata no meio da noite. Só um tolo não perceberia que estavam pulando na cama. Eu quase acreditei naquele momento no jardim e no jantar, mas logo as máscaras caíram. Estou realmente decepcionada com você, Diane, porque pensei que me mostraria o que é o amor. Mas, no final, vocês guerreiros só pensam em si mesmos e em seus objetivos fúteis.

Ela batia a porta com força ao perceber que não ouviria nenhuma resposta minha. Estava tão acabada mentalmente que apenas abracei as pernas, suspirando. Ao ouvir novamente as batidas na porta, já preparo o meu pior palavrão para Iris. Foda-se o seu desejo idiota de ver um casal apaixonado, vou meter a adaga na sua cara.

Porém, estou estática diante da presença de Katlyn no cômodo. Ela estica a mão para frente, impedindo-me de falar.

— Você é uma vadia burra.

— Bom dia para você também. — respondo irônica.

— Cala a boca e me escuta. Se eu pudesse, enfiaria uma flecha no meio da sua testa mas você é a única pessoa que pode fazer o Lorcan mudar de ideia.

Pisco os olhos, confusa.

— Como assim?

— A doida da rainha realmente quer executá-los, sabia? Óbvio que sem o consentimento do marido. Mas Lorcan se dispôs a ser o único a arcar com a punição.

Salto da cama cobrindo o curto pijama com um robe branco de seda.

— Ele ficou maluco?!

— E desde quando ele tem a cabeça no lugar? Mas não nego que acho essa impulsividade sexy. Enfim, você quer uma prova de bondade? Acabou de encontrar.

Abro a boca para responder, mas Katlyn se aproxima rapidamente e segurava meu rosto, pressionando minhas bochechas com força.

— Quando ele te resgatou e retornou para o ducado, eu estava no castelo. Eu nunca o vi tão desesperado. Lorcan atravessou o salão como uma flecha enquanto a segurava em seus braços. Ele ordenou que os melhores médicos de Icarus fossem mandados imediatamente para curá-la. Eu fiquei tão curiosa para saber quem o deixou nesse estado que perguntei ao cocheiro sobre sua identidade. O miserável não sabia responder, mas ele me disse uma coisa. — comenta apertando mais ainda meu rosto, fuzilando-me com o olhar. — "Essa moça deve ser importante. Vossa Graça a colocou em seu colo e a abraçou forte durante toda a viagem. Quando abri a porta da carruagem, encontrei o duque a apertando como se fosse o tesouro mais precioso do mundo."