Capítulo 50

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Christian alternava o olhar entre Lorcan e mim. Ainda estou em choque com a carta em minhas mãos mas, como uma guerreira, permaneço atenta à tudo ao meu redor.

— Eu preciso de um voto de fidelidade sua, por tudo o que houve. — comenta o rei. — Soube de uma aproximação do reino Velstand. O seu exército ficará na linha de frente em uma possível guerra.

Lorcan erguia o olhar enquanto levava a xícara de café aos lábios. A expressão tão séria e mortal que, seja lá o que se passe em sua mente, até mesmo o diabo teria medo.

— Então, o meu exército será mandado para a morte como uma garantia da minha lealdade, Vossa Majestade?

Pelo tom de deboche usado, não queria estar por perto quando o duque "explodisse". Mas volto o meu foco à carta, retirando o selo dourado e já gasto por cima do envelope.

— Sabe que é o mínimo depois do que você tentou fazer. — Christian dizia de forma repreensiva, como um pai castigando o seu filho. — E eles são fortes, tenho certeza que ficarão bem.

— Não ficarão. Você não sabe disso porque não está em um campo de batalha há anos, e não imagina como é angustiante ver cada soldado, que treinou e deu tudo de si, perder sua vida. Sabe o que dizem pelas ruas da capital quando um dos meus morre? "Menos uma praga em Velorum". — Lorcan respondia com acidez, depositando a xícara em cima da mesa. Ele apoia os cotovelos sobre as coxas, inclinando o rosto em direção ao loiro. — Se quer dizer quem deve ou não estar na linha de frente, coloque-se no lugar deles primeiramente.

A minha risada breve interrompe uma possível resposta do Christian. Em termos de argumento, o loiro deveria ficar calado e aceitar o seu erro. Ignoro o seu olhar confuso para retirar a folha de papel do envelope. Pelo visto, os dois estão presos a esse momento de tensão para perceber o que eu estou fazendo.

— E preciso de um segundo líder protegendo a área interior de Icarus. — o duque completa, respirando fundo. — É uma garantia de manter a ordem em minhas terras.

Antes de começar a ler a carta, viro-me em direção aos dois, dizendo:

— Eu posso cuidar dessa parte.

Christian arqueia a sobrancelha de maneira descrente, deixando escapar uma risada de deboche.

— Mulheres não ocupam lugares de liderança, Diane. Devia saber disso.

Uma raiva inexplicável toma cada parte do meu corpo e o encaro como se pudesse lançar raios dos olhos. Lorcan cruzava os braços com um semblante de reprovação. Mas ele permaneceu em silêncio, lançando um olhar significativo em minha direção, permitindo que eu me defendesse sozinha.

— Eu te garanto, Majestade, que mulheres podem ocupar qualquer cargo. O que define a competência de um soldado não é o que há entre suas pernas, e sim a força de vontade em seu coração. Pensei que tivesse aprendido isso enquanto estava no exército. Ou esteve ocupado demais garantindo que todos observassem seus golpes perfeitinhos? — debocho.

Ele encarava-me com os olhos levemente arregalados. Lorcan levava novamente a xícara aos lábios para ocultar o sorriso orgulhoso. Logo, volto a atenção para a carta, apoiando-me na mesa de costas para os dois homens, que retornavam à conversa após uma ameaça nada discreta do duque para se focar no que realmente importava.

"Majestade, creio que se lembre de mim. Eu fui enviada à força pelo senhor Sirius para servir à sua família. Mesmo à contragosto, dei o meu melhor para ser útil ao Palácio, mas era difícil suportar tudo o que fazia nas sombras da sociedade. O que o senhor obrigava outras empregadas a fazerem, eu ainda lembro de suas súplicas para pararem. Vossa Majestade as corrompia contra a sua vontade e ainda ameaçava matar suas famílias caso contassem à alguém. Sei que é a realidade, pois fez o mesmo comigo, ameaçou machucar a minha Diane se eu contasse para alguém sobre o monstro que governa Velorum."

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