Capítulo 27

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O labirinto de arbustos era assustadoramente gigante e sem iluminação alguma, apenas a luz da Lua como guia. Mesmo sendo perigoso enfrentá-lo sozinha, não havia outra opção. O duque conhecia cada parte do labirinto por ter brincado nele junto com Christian quando era uma criança. Optei por não pensar muito nas chances de se perder e avancei apressadamente para a única entrada presente. À partir de então, estava contando com a sorte e o meu senso de direção — dois fatores que nunca foram ao meu favor.

As minhas pernas ainda doíam por causa da luta contra o espião, mas me recusei a parar quando as consequências eram piores. Os malditos sapatos afundavam na grama macia e, vez ou outra, tropeçava nos próprios pés mantendo o equilíbrio com muito custo. Graças ao breve treino com Lorcan, aprendi a manter meu corpo de pé quando algum fator externo tentava me levar ao chão.

Segurei as bordas do vestido até os joelhos para facilitar a movimentação. A brisa morna do verão acariciava a minha pele mas, infelizmente, não me ajudava a recuperar o fôlego que perdia à cada passo. Era difícil respirar com o espartilho apertando o meu busto, mas continuei a correr mesmo com tantos impasses.

Ao virar rapidamente a curva, perdi o controle do próprio corpo e me choquei contra os arbustos. Os seus galhos finos e retorcidos se enroscaram em meu cabelo e vestido. Inutilmente, tentei me desvencilhar dos galhos sem nenhum machucado mas acabei saindo com cortes superficiais nos braços. O belo penteado feito por Martha já havia sido desfeito e as longas mechas repletas de folhas desciam por meus ombros.

— Puta que pariu! — resmungo puxando o vestido com força, rasgando uma parte considerável da roupa. — Apenas uma vez, eu preciso de sorte! — exclamo olhando para as estrelas como se elas pudessem me ouvir. — Malditas!

Fiz um gesto vulgar em direção ao céu e continuei a correr. A ardência latente dos cortes logo foi ignorada pela adrenalina passeando pelo meu corpo. A música do salão estava alta e deduzo que Christian encontrou uma nobre para acompanhá-lo na última dança. Mas eu não me permiti pensar demais sobre o assunto. Não quando a prioridade, no momento, era outra.

Novamente o meu lado desastrado e a falta de sorte conspiraram para tudo dar errado. Em meio ao gramado espesso, o salto afundou fazendo-me perder por completo o equilíbrio do corpo e, consequentemente, cair de cara no chão. A areia sujou o meu vestido e parte do meu rosto, o qual limpei com as costas das mãos.

Irritada, retirei os sapatos e os joguei para longe lançando um xingamento para o objeto inanimado. Então, apoiei os joelhos na grama erguendo parte do corpo sentindo todos os meus músculos formigarem de dor. As lágrimas já se formaram em meus olhos, mesmo sem entender o real motivo por estar chorando.

Queria que Alene tivesse se perdido no labirinto também, mas como protagonista ela tem o dom de conseguir fazer qualquer coisa com precisão.

Ainda assim, arrastei o meu corpo com o olhar focado nas mãos sujas de terra. A coroa havia rolado para longe por causa da queda. A minha noite como princesa acabou mais rápido do que o esperado, pois retornei como a gata borralheira que era.

Ao erguer o olhar, a minha garganta secou — e não foi por causa do gosto de terra na boca — diante da figura trajando suas típicas roupas pretas há poucos metros à minha frente. O duque ajeitava a manga da camisa antes de lançar um olhar impaciente em direção ao horizonte.

Alene não chegou. Eu ainda tenho esperança de evitar que esse encontro aconteça.

A minha voz saiu arrastada e baixa.

— Lorcan...

Imediatamente, o homem virou o rosto em minha direção e arregalou os olhos por breves segundos. Com dificuldade, fiquei de pé apoiando-me em uma das paredes de arbustos indo em direção ao centro do jardim que consistia em uma área oval sem nenhum obstáculo.

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