Capítulo 19

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Dessa vez, o cocheiro sequer expressou repulsa com minha presença ao seu lado. Ele apenas guiou a carruagem em silêncio, mantendo o olhar fixo na estrada. E como não queria ninguém surtando pelas longas duas horas de viagem naquele ritmo agonizante, optei por ficar calada também. Para a minha sorte, Jonnathan não seguiu Christian nessa viagem, por mais que tenha insistido até o último minuto. Contudo, o loiro afirmou que precisava de um tempo sozinho e, como suspeitava de uma perseguição pessoal comigo, decidiu me levar. Em todo o instante em que o conselheiro esteve por perto, evitei encará-lo pois temia expressar alguma reação comprometedora. Se ele soubesse que eu o reconheci enquanto me interrogava naquela sala, não passaria um dia sequer viva em Velorum.

Às vezes, o silêncio é a melhor estratégia.

A viagem foi tranquila e a estrada estava em uma condição aceitável, tanto que a carruagem mal balançou. Como não estaria à serviço da coroa, usei a melhor roupa que tinha no momento e, ainda assim, era precária. A camisa branca possuía mangas compridas e folgadas. A saia roxa com um brilho semelhante à seda tocava o meu calcanhar e possuía um babado verde escuro na região do quadril. Um espartilho lilás estava envolto da minha cintura, mas não deixei apertado como a maioria das damas da época. Particularmente, não há roupa nessa ou em outra realidade que consiga me deixar bonita.

O meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto e usei um par sapatilhas marrons, provavelmente feita do couro de algum animal. Diane só possuía dois pares de sapatos e três vestidos inteiros, sem rasgos ou marcas de mordidas das traças.

A carruagem parou bruscamente e quase sou lançada para frente. Ouço uma reclamação do cocheiro sobre a minha presença, mas decido ignorar saltando para longe dele. Christian já havia descido também e agradeceu o "doce" homem com um sorriso cordial. Quando a carruagem sumiu na estrada, o loiro virou o corpo em minha direção.

— Perdoe-me pelos inconvenientes da viagem.

Apenas gesticulei com desdém. Antes de sair do palácio, Christian havia me avisado que era aconselhável não ir dentro da carruagem com ele, pois podiam especular mais do que já estavam. E eu não queria tornar a minha vida pior, principalmente quando sabia o quão cruéis as pessoas dessa época podiam ser.

Ao analisar o ambiente, descubro que estamos na entrada de uma densa floresta.

— Ora, não deveria ser aqui a base militar?

— Lorcan a construiu do outro lado da floresta, longe do olhar do inimigo. Assim, ninguém veria o seu treinamento e sequer cogitaria um ataque, já que o território é desconhecido.

— Uau! Isso é incrível!

Ele concorda com um leve balançar da cabeça, envolvendo o seu braço no meu e dando início à caminhada. Nós seguimos pela pequena estrada improvisada cortando a floresta, onde podemos apreciar um pouco da paz do ambiente.

— Eu pensei que essa base fosse antiga, Christian.

Quando escrevi Velorum, descrevi uma base militar perto do palácio real onde o duque e o próprio príncipe treinaram na sua adolescência.

— Ela é relativamente nova. Lorcan treina o exército da coroa na sua base antiga, mas essa é para o seu próprio exército.

— Você não se assusta com isso? O senhor De'Ath está treinando às escondidas, isso me parece suspeito.

Christian abre um sorriso terno enquanto a brisa brincava com as mechas de seu cabelo. No meio da natureza sob o cântico dos pássaros, ele parece um anjo perdido na Terra.

— Ele não ganharia nada com isso. Além do mais, nós crescemos juntos e, mesmo que ele não admita, eu o considero o meu amigo.

Christian, Christian. Não sei se louvo sua gentileza ou se a considero um carma.

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