Durante toda a viagem de volta à capital, digeria as novas informações. O trote lento do cavalo garantiu um longo caminho de lamentações. Às vezes, lágrimas formavam-se em meus olhos ao lembrar do destino cruel ao qual havia amarrado meus personagens.
Não. Eles não eram personagens, eram pessoas com vidas reais. E eu me sentia um monstro por acreditar, em algum momento onde escrevia sobre Velorum, presa naquele apartamento minúsculo em Londres, que essas pessoas mereciam morrer para alavancar a trama.
Ao retornar para o palácio, deixando o cavalo nos estábulos, segui direto para o interior do castelo sendo recepcionada por um abraço forte de Cherly. Ela afirmou estar preocupada com minha ausência repentina e, em resposta, dei leves tapinhas em seus ombros antes de subir os degraus cobertos pelo tapete vermelho.
Estava devastada demais para uma conversa.
Quando chego no segundo andar, ouço passos firmes aproximando-se com rapidez. Parte de mim torceu para ser um soldado ou criado, mas eu já reconhecia os seus passos. Lorcan parou à minha frente, segurando delicadamente meu queixo e o erguendo. Seus dedos calejados e repletos de cicatrizes roçavam em minha pele, livres das luvas de couro. No exato momento em que fui alvo de seus amáveis olhos azuis, senti reviravoltas no estômago.
O homem diante de mim iria morrer. Os seus dias estavam contatos e não havia nada que pudesse ser feito.
Ainda em silêncio, segurei seu pulso com força deixando que um soluço escapasse do meu interior. Fechei os olhos permitindo que as lágrimas rolassem por minhas bochechas. Outro soluço escapa. E mais outro.
Ele não merecia morrer. Lorcan havia evoluído tanto, conquistado tanto. E sem perceber, arrancaria tudo isso em um piscar de olhos.
— Tenho certeza que sua amiga encontrou um lugar agradável ao lado das estrelas, Natasha. — dizia puxando-me para um abraço, onde apoiava a mão em minha cabeça.
Sofria por Martha, uma das poucas amigas verdadeiras que realmente tive. Mas também chorava pela morte inevitável do duque. Eram tantos sentimentos sufocantes em meu peito que estava sendo afogada pelos meus próprios pensamentos.
Nada disse. Apenas afundei mais ainda o rosto no peito dele, inspirando o seu aroma agradável. Os dedos de Lorcan desciam pelo meu longo cabelo emaranhado da recente cavalgada.
— Lorcan, eu gostaria de pedir algo.
Ele afastava-se um pouco, assentindo silenciosamente.
— Não saía do meu lado a semana inteira.
Mesmo sendo uma máscara constante de indiferença, o duque franziu o cenho. Mas não ousou questionar, apenas depositou um beijo no topo da minha cabeça.
— Desmarcarei todo e qualquer compromisso imediatamente.
***
Apesar da sua disposição em desmarcar sua agenda, impedi que cometesse tal erro. Não queria atrapalhar sua rotina, apenas estar presente. Por isso, segui o Lorcan durante o dia inteiro. Era difícil acompanhar seus passos largos, mas suspeito que ele diminuía o ritmo propositadamente quando notava minha respiração pesada. As reuniões eram extensas e chatas, sempre rendendo em uma alteração drástica de humor do duque. Nos momentos em que ele batia forte na mesa ameaçando desmembrar algum nobre, segurava o máximo a risada.
Ele era visto como aberração para alguns, mas eu sabia do seu coração amável.
Lorcan aproveitou para pedir minha opinião nas reuniões. No começo, os nobres demonstraram repulsa com a presença feminina, mas ninguém ousou questionar. Era difícil contrariar a vontade de um homem capaz de arrancar os dentes de cada um, usando as próprias mãos.
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Velorum
RomanceUm pedido. Duas almas conectadas. Uma nova realidade. Natasha Martin é uma escritora que perdeu o seu ânimo após seu livro, Velorum, ser alvo de críticas negativas. Depois de retornar para o apartamento, decepcionada com uma descoberta do seu namora...