Capítulo 26

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Os ferimentos foram tratados imediatamente. Martha avisou a minha localização para os guardas e, após ser conduzida para a ala médica, tive o devido tratamento. Cherly e boa parte dos empregados pareciam não crer que uma simples servente conseguiu enfrentar um espião. Ninguém sabia a origem daquele homem e, sabiamente, guardei para mim o envolvimento do ducado de Icarus. Da pior forma, percebi que Christian não faria nada à respeito por temer uma reprimenda do duque. Então, era inútil dedurar o vilão. Pelo menos, nessas circunstâncias desvantajosas.

Como um agradecimento por proteger o reino, tive uma semana longa de folga. Não ergui um dedo sequer permanecendo na cama e ignorando as diversas perguntas de alguns empregados curiosos que ousavam entrar em meu quarto. Com uma vassoura, Cherly expulsou todos eles.

— Da próxima vez, vou acertá-los na cabeça. — comenta e acabo rindo. — Sente-se melhor?

— Sim, foram apenas hematomas superficiais. Amanhã, poderei ir ao baile.

— Ainda não acredito que o rei a convidou para acompanhá-lo. Já sabe o que vestir?

Assinto com a cabeça.

— Christian disse que me daria um vestido.

— Você o chama pelo nome, que fofo! — exclama sentando-se ao meu lado e acariciando meu longo cabelo solto. Desde que decidi ficar em repouso, passei maior parte do tempo na cama. — Divirta-se muito, tá bem?

— Eu irei. E você? Não pensa em aproveitar um pouco o baile?

— Sabe que estou à serviço, Diane.

— Mas isso não a impede de dançar com um guarda bonitinho. Eu percebi que alguns olham para você quando passa pelos corredores.

Cherly encarou um ponto qualquer da janela. O olhar tão distante como se a mente vagasse pelo mar de seus pensamentos.

— Não tenho interesse... Não de dançar com nenhum homem.

Entendi o sentido de suas palavras nas entrelinhas. Cherly guardava para si esse segredo mas, de certa forma, confiava em mim para dizê-lo indiretamente. Apoiei a minha mão sobre a dela ganhando mais uma vez a sua atenção.

— Irei apoiá-la. Não se preocupe.

O seu sorriso acolhedor foi breve, sem mostrar os dentes, mas sabia que havia sinceridade. Cherly inclinou o corpo para depositar um beijo no topo da minha cabeça.

— Durma e recupere suas energias. Amanhã, você será o centro das atenções.

— Acho que já virei o centro das atenções por ter enfrentando um espião de outro reino. — resmungo com uma careta de desagrado.

A risada estridente da minha amiga ecoou pelo cômodo.

— Mas não é tão satisfatório quanto a presença do rei gostoso ao seu lado.

— Devo confessar que temos aqui um motivo mais louvável para atrair olhares. — comento ironicamente.

— Vejo que já está recuperada. Poderia me ajudar a lavar os pratos.

Solto um resmungo fingido de dor, virando-me de costas para a jovem e puxando a coberta até os meus ombros.

— Do nada, sinto meus ossos doerem.

Ela ria novamente enquanto lançava um xingamento nada delicado e, em seguida, saía do quarto deixando-me descansar. Desta vez, um descanso sincero para os meus músculos que ainda se recordavam da luta contra o espião.

***

O vestido foi deixado na manhã do dia seguinte.

O tecido rosado possuía um tom tão delicado e um sutil brilho por causa da seda. Ele possuía duas camadas, a primeira de uma seda rosa estendendo-se até os calcanhares. A segunda camada abria uma cortina de tonalidade marfim com bordados dourados. O vestido era de mangas compridas que cobriam os pulsos com mais bordados semelhantes ao mais puro ouro. O decote sutil estava rodeado de bordados de flores rosas e douradas. As sapatilhas rosa-bebê formavam uma combinação perfeita junto o conjunto de brincos e o colar prateado com uma pedrinha rosa no meio.

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