Capítulo 47

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Um longo minuto de silêncio se sucedeu. O olhar surpreso de Lorcan focado inteiramente no meu e nenhuma palavra dita, como se aquela troca significativa de olhares fosse o suficiente para transparecer todas as nossas emoções. O duque inclinou levemente a cabeça para o lado, franzindo o cenho e murmurando um "tem certeza?". Em resposta, assinto positivamente, vendo-o mover os dedos de forma inquieta. Ele dava um passo ao mesmo tempo que segurava minha mão, entrelaçando nossos dedos antes de seguirmos para o centro do salão.

Os olhares eram julgadores, afiados, maldosos. Mas Lorcan já estava acostumado a ser visto dessa forma e eu... Bem, estava pegando o jeito da coisa. Quando paramos no centro do salão, os outros casais já dançavam com ânimo mas ainda estávamos em êxtase pelo momento. Não posso negar que uma parte da minha decisão se deu por meu lado impulsivo. Porém, decidi seguir uma voz interior que vibrava em meu coração, dando-me coragem para agir sem receio. Por isso, não poderia recuar diante dessa escolha.

Não recuaria diante do meu maior desejo no momento.

Eu quero dançar com Lorcan.

A mão dele contorna a minha cintura e a outra continua entrelaçada à minha, erguendo ambas um pouco acima dos nossos ombros.

— Sabe dançar? — murmuro apreensiva.

Ele se aproximava um pouco mais, quase colando nossos corpos. A sua respiração pesada batia em minha face e o seu olhar intenso fazia borboletas rodopiarem em minha barriga.

— Sim. Era uma das lições que aprendi na infância.

Ergo ambas as sobrancelhas em sinal de descrença. O duque respira fundo antes de apertar com certa firmeza minha cintura, conduzindo os primeiros passos. Os seus pés deslizaram com suavidade para a direita, conforme guiava-me sutilmente para acompanhá-lo. Retribuo pressionando os dedos em seu ombro enquanto inclinava o meu corpo em direção ao seu. Estava tão presa em seu olhar que esqueci das inúmeras pessoas ao nosso redor.

Lorcan dava outro passo, desta vez para a direção contrária. E como se estivesse em sincronia, acompanho seu movimento no mesmo instante.

A música iniciava-se em um ritmo lento, suave e calmo, assemelhando-se à melodia dos seres celestiais através do violoncelo e violino. Logo após, os demais da orquestra o acompanham com seus instrumentos e a música ganha uma proporção maior. As notas musicais pairam pelo ambiente, indo além daquele enorme salão.

Enquanto isso, estou girando agilmente junto com o duque. Íamos de um lado para o outro sem perder a postura ou o ritmo. Mesmo não tendo ensaiado juntos, tínhamos uma sincronia impecável. Lorcan puxava-me mais ainda contra seu corpo e, por um momento, perco o fôlego quando nossos rostos estão muito próximos. Ele é o homem que o reino inteiro evita e repudia. Porém, só consigo pensar em seu cheiro inebriante, o calor de sua voz, a sensação de proteção do seu abraço e a intensidade do seu olhar.

Lorcan não é um monstro como muitos o acusam. Ele é uma pessoa comum, como qualquer um de nós. É alguém com tantas cicatrizes que perdeu a esperança em si mesmo. Alguém incapaz de se amar por quem realmente é. Mas tenho certeza que mudaria de ideia se o visse com os meus olhos. Se ao menos pudesse ver o quão incrível estava sendo, conduzindo uma valsa em meio ao salão, demonstrando ser um príncipe encantado.

Um príncipe encantado sombrio.

Em determinado momento, afasto o meu corpo ainda segurando a sua mão enquanto dançávamos. Então, Lorcan me puxava de volta para si apertando firmemente minha cintura. Os nossos olhares se encontram mais uma vez. As mechas do meu cabelo se movem graciosamente conforme era guiada de volta ao meu companheiro de dança. A expressão do duque era tão serena quanto um anjo que acabou de encontrar o seu Paraíso. Suas íris reluziam a luz alaranjada do ambiente, bem como a sua pele que possuía um leve brilho dourado.

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