Capítulo 57

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A expressão dos dois homens era de completa surpresa. Não me dou o luxo de analisá-los por muito tempo, pois logo estou avançando agressivamente contra o rei. Christian defende o primeiro golpe em um reflexo involuntário, mas é atingido por minha segunda espada em um movimento horizontal.

O sangue em seu braço torna-se evidente sobre o fardamento real.

Aqueles olhos, antes amáveis, avaliavam-me com uma frieza desconhecida. Christian impulsionava o corpo para frente, contra golpeando com agilidade. Em defesa, uso as duas espadas como bloqueio. Devido à esse movimento, nossos rostos estão próximos e sua respiração pesada bate contra minha face.

Era como se dançássemos uma valsa, mas usando espadas.

— Por que, Diane? — a sua voz não passava de um sussurro rouco, cortando o vento gélido do inverno. — Por que se uniu à ele? Por causa da carta?

— Antes mesmo de saber toda a verdade, já havia escolhido o Lorcan em meu coração. — respondo exercendo uma força absurda nos braços e, aos poucos, o corpo dele é impulsionado para trás. — Mas eu fui uma tola em não perceber desde o começo. Você nunca mudaria por mim e, muito menos, iria abrir mão do amor de Velorum para me aceitar como sua rainha.

O que era muito confuso, já que na obra ele escolheu a Alene. Mas a ruiva tinha seu charme natural e carisma, algo que nunca consegui por causa das minhas inseguranças.

— Quando percebi o quanto era importante para mim, você havia sido levada pelo Lorcan. Queria tanto salvá-la mas isso iniciaria uma guerra, o que seria...

—... desastroso para Velorum e a sua aprovação no reino. Eu sei.

A minha resposta o surpreendeu e aproveitei esse momento de guarda baixa para dar uma rasteira ágil nele. Christian caiu na neve e apontei a lâmina afiada contra sua garganta. Nós dois ofegávamos e nos encarávamos como guerreiros sedentos por luta.

Mas eu precisava acabar de uma vez por todas com o conflito.

No começo, pensei que apenas as habilidades de guerra do Lorcan impediriam o pior mas não era verdade. Nem o duque e nem Christian eram os vilões nesse mundo. Houve sim uma amizade verdadeira entre ambos, mas eles seguiram por caminhos diferentes e suas ideologias divergiram demais.

— Lorcan não é uma má pessoa. — digo quando regulo minha respiração. Podia sentir o olhar intenso do duque em minhas costas, mas não o encarei. O meu total foco era na expressão incrédula do loiro. — Ele foi uma vítima de dois homens gananciosos.

Christian nega com a cabeça.

— O meu pai o mandou para a propriedade do Sul para ser o meu guarda real. Ele queria um soldado de confiança.

— O rei o mandou para lá para torná-lo uma arma. Erick queria dominar todos os reinos ao redor de Velorum e precisava de alguém tão frio quanto Sirius. Os dois estiveram de acordo em mandar o Lorcan ao treinamento insano do duque de De'Ath. Mas Sirius o torturou dia após dia até que mudasse por completo.

Ouço um suspiro surpreso atrás de mim, seguido por passos firmes.

— Como você sabe...? — pergunta Lorcan.

— Eu tive uma visão sobre o seu passado. A xamã me mostrou o que houve.

O duque nada disse. Ele apenas abaixou o olhar para o chão, reflexivo.

— O meu pai não podia concordar com isso... Ele...

— Erick fez de tudo para manter Velorum segura, mas muitas vidas inocentes foram tomadas. Quando você o acusou de ter quebrado aquele vaso, na infância, deu o motivo necessário para o rei mandá-lo para longe. Todos veriam seu ato de treinar Lorcan como bondade, mas apenas ele e Sirius sabiam que tipo de torturas uma criança inocente sofreria em prol do reino.

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