Capítulo 66

121 15 88
                                    

O choque entre exércitos iniciou-se com um leve toque, um arranhão em uma superfície sensível. Em um piscar de olhos, a quebra dos meros segundos de paz foi embora. O som retornou de maneira brusca, trazendo-me de volta à realidade.

Rapidamente, saquei uma das espadas esticando o braço na vertical e, com um movimento preciso, decepei a cabeça de um soldado. Não me permiti lamentar por sua morte, pois já avançava contra o massivo exército, cortando a cabeça de qualquer adversário que cruzasse o meu caminho. Polar era rápida em seus movimentos, desviando das lanças ágeis e pisoteando os inimigos. Assim como eu, a égua foi treinada para suportar o stress constante do campo de batalha.

Girei a espada entre os dedos antes de cravá-la no peito do soldado. O seu urro de som ecoou pelo espaço entre nós antes de cair no chão. A lâmina já estava banhada com o sangue do inimigo, mas ignorei esse detalhe. Afinal, não poderia refletir sobre o peso das mortes em meus ombros.

Quando for o momento, irei pedir perdão às estrelas por agir assim. Porém, durante a luta, onde Velorum e Lorcan estavam em perigo, não podia pensar em nada além de salvá-los.

Um soldado de Avery tentou golpear Polar mas, de forma ágil, puxei as rédeas a fazendo alterar o rumo. Em resposta ao ataque, a égua deu um coice nele o fazendo cambalear e um guerreiro do nosso exército terminou o trabalho.

— Boa garota. — digo acariciando sua crina.

Mesmo estando em menor número, não nos encontrávamos em total desvantagem. Njal girava seu corpo pesado agilmente, acertando a cabeça dos seus adversários em um movimento circular. O sangue banhava sua roupa, tornando-a quase da mesma cor que seu cabelo. A julgar pela determinação do homem, sabia que ele lutava por algo maior do que seu reino.

Ele lutava pela segurança do seu amado que, ansiosamente, o aguardava retornar para casa.

Njal erguia a mão musculosa, descendo de uma vez o enorme machado. Um arrepio percorre minha espinha ao ver o corpo do soldado ser dividido ao meio como uma mera fatia de queijo. E outro arrepio me atinge quando o ruivo voltava sua atenção para mim, abrindo um sorriso tão aberto e meigo.

— Tudo bem por aí, Vossa Graça?

Estou cercada por corpos e psicopatas, Njal. Não sei se essa é a pergunta mais adequada ao momento.

Cortando a cabeça de mais um guerreiro, respondo:

— Vou bem, na medida do possível.

Ele balança a cabeça no que seria um sinal de satisfação e, logo, sumia no meio do exército.

Um grupo de cinco homens me cerca e sou obrigada a descer de Polar, assim teria maior mobilidade em meus movimentos. Eles foram infelizes de cruzarem o meu caminho, já que não fui piedosa cortando suas gargantas com minhas espadas. O som da lâmina atravessando a carne parecia mais alto do que o costume, como se a guerra nos obrigasse a apurar os sentidos.

Questionava-me quanto tempo demoraria para enlouquecer nesse meio.

Uma soldada de Velstand grita ao avançar com seus braços erguidos, segurando firmemente a espada. Uso as lâminas das minhas, formando um "X" para bloquear o ataque. A mulher alta possuía músculos fortes e, por isso, meu corpo recuava aos poucos.

Mas desistir nunca foi uma opção.

Em uma fração de segundos, ajoelho-me ao mesmo tempo que abaixo uma das mãos, usando a espada para cortar verticalmente a barriga dela.

A imagem de suas estranhas voando em meu rosto ficará eternamente na memória. Porém, no momento, há preocupações maiores a serem avaliadas. Por isso, seco o sangue com as costas das mãos e continuo minha corrida em direção ao forte de Velstand.

VelorumOnde histórias criam vida. Descubra agora