O cocheiro guardava a última mala antes de subir na enorme carruagem real. Os belos cavalos brancos possuíam uma postura imponente e até mesmo os seus movimentos eram sincronizados. Christian havia se despedido de todos dentro do castelo, mas eu e Lorcan decidimos acompanhá-lo até os enormes portões dourados.
— Então, isso é um adeus.
O seu olhar exala uma amabilidade costumeira.
— Não diria isso, Natasha. Eu acho melhor acreditar que seguiremos caminhos diferentes e que, um dia, vão se encontrar mais uma vez.
Abro um fraco sorriso sem mostrar os dentes.
Timothy, timidamente, se aproximava do seu irmão e segurava a mão dele. O garotinho estava na casa da sua babá durante o período de guerra, já que Christian temia por sua segurança. Com o final do conflito, ele retornou ao castelo mas parece que o destino tinha um plano diferente para os Hartley's.
— Tchau, moça. Tchau... — o pequeno virava o rosto em direção à Lorcan, recuando por instinto. Não o julgo. Ele não conseguia trazer uma imagem tão acolhedora trajando seu longo sobretudo preto e possuindo o olhar afiado de uma águia. — Majestade?!
Lorcan se limita a arquear a sobrancelha antes de focar no Hartley mais velho.
— Espero que isso não seja uma fuga, Christian.
O loiro ria de maneira descontraída.
— Durante toda a minha vida eu fugi da verdade. Garanto-lhe, Vossa Majestade, que não voltarei a ser o covarde que meu pai me ensinou.
Na última parte, agradeci mentalmente que Timothy tenha se distraído com um dos cavalos para dar a devida atenção à conversa. O pai dele foi um maldito para o reino, mas não queria que uma criança perdesse a fé na sua figura paterna. Ainda era cedo para ele saber de toda a verdade.
— Não sabia que possuía uma língua tão afiada. — ironiza o rei.
— Digamos que aprendi muito com você nas nossas reuniões, amigo.
Por um momento, aquela deixou de ser uma troca de farpas. Olhei de canto para os dois homens, imaginando que em um futuro — não tão distante — ambos serão bons amigos como no passado. Christian errou e muito, isso é inegável, mas dar uma segunda chance à ele era melhor do que arrancar essa possibilidade por algo tão vil quanto a vingança.
Lorcan também percebeu isso, pois estendeu a mão em um gesto amigável apesar da expressão continuar neutra. Tudo bem, demonstrar emoções abertamente nunca foi a sua melhor habilidade.
Mas Christian ignora a mão estendida dele para abraçá-lo como um amigo de longa data. Lorcan permaneceu como uma estátua mas podia jurar que seus braços tocaram as costas do loiro, na última fração de segundos do abraço.
E o meu peito se encheu de esperança.
— De acordo com o último baile, creio que as festividades em Velorum serão mais animadas. — comenta Christian apertando minha mão e sorrindo largamente. — Pode contar comigo para o baile de verão.
Retribuo o seu sorriso.
— Prepare-se, Christian. O povo de Icarus não costuma pegar leve em comemorações.
— Não tenho dúvida. — dizia enquanto gradativamente o seu sorriso some e a tristeza percorre por seus olhos verdes. — Até a próxima, Natasha.
— Até a próxima, Christian.
O seu olhar recai no homem ao meu lado.
— Seja feliz, Lorcan.
Ele encara a pessoa que destruiu, em partes, sua infância com a traição e compactuou com os pensamentos maldosos de Erick. Mas não vi rancor ou raiva em Lorcan. Pela forma como suas mãos, apoiadas nas costas, estavam apertadas com força pude deduzir que lutava contra a nostalgia dos bons tempos ao lado de Christian.
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Velorum
RomanceUm pedido. Duas almas conectadas. Uma nova realidade. Natasha Martin é uma escritora que perdeu o seu ânimo após seu livro, Velorum, ser alvo de críticas negativas. Depois de retornar para o apartamento, decepcionada com uma descoberta do seu namora...