Capítulo 48

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O barulho das panelas fazia-me encolher atrás do meu esconderijo, um cantinho na cozinha atrás dos sacos de arroz

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O barulho das panelas fazia-me encolher atrás do meu esconderijo, um cantinho na cozinha atrás dos sacos de arroz. Abaixei o meu corpo o máximo possível para que Christian não percebesse, mas os sons ao redor eram agonizantes. Panelas batendo, gritos do cozinheiro e resmungos das empregadas. Então, uma sombra surge acima de mim e ergo o olhar, deparando-me com o olhar rígido da governanta do palácio real.

— O que essa praga faz aqui?

A minha garganta seca, as palavras ficam dispersas no ar. Quando alguém fala comigo, não consigo responder. O meu pai, Sirius, disse que sou amaldiçoado pelos deuses. Uma aberração que, infelizmente, minha mãe deu à luz. Mesmo tendo apenas sete anos, entendo o significado de suas palavras: sou imperfeito.

A governanta puxava-me para longe do meu esconderijo e sou jogado contra o chão frio da cozinha. Todos os olhares voltam-se em minha direção e, consequentemente, sinto as bochechas esquentarem de vergonha.

— O seu lugar não é aqui, garoto.

— Difícil é encontrar um lugar onde ele se encaixe. — brincava o cozinheiro. — Na floresta com as bestas, talvez.

Alguns serviçais riem do seu comentário enquanto outro se aproxima, dizendo:

— Ele é estranho. Será que a mãe comeu algo errado durante a gravidez?

Novamente, sou alvo de olhares julgadores. Em resposta, encolho o máximo possível o corpo, ainda sentado no chão, escondendo o rosto entre as pernas. Tapo os ouvidos para bloquear o som, mas é impossível quando as vozes são altas demais para serem ignoradas.

— Sendo filho do miserável do Sirius, não me surpreende. — dizia a governanta, inclinando-se para puxar meu cabelo e, assim, sou obrigado a encará-la nos olhos. Para uma mulher tão jovem, suas expressões são rígidas demais. — Que os deuses tenham pena de Velorum quando ele se transformar em um monstro igual ao pai.

Os fios do meu cabelo eram puxados com tanta força que doía. E eu odiava a dor. Já não bastava as punições do meu pai, agora teria que suportar esse tipo de tratamento. Tento inutilmente me desvencilhar do seu toque mas, diferente do esperado, ela puxava mais forte ainda. Um gemido de dor escapa dos meus lábios, junto com minhas palavras, trôpegas e baixas.

— E-Eu... Eu não... Sou... Um monstro...

A mulher arqueava a sobrancelha, jogando-me contra o chão mais uma vez. Por sorte, amorteço o impacto apoiando as pequenas mãos sobre o piso. Queria chorar. Gritar. Mas sempre que chorava, o meu pai me batia. Então, como de costume, engoli o choro com uma careta nada discreta.

— Como não? Olha só para você, garoto. Não sabe nem falar direito nessa idade. Que tipo de aberração é você?

Odiava essa palavra tanto quanto a surra do meu pai. As pessoas são malvadas, elas não percebem como seus julgamentos machucam.

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