Capítulo 46

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Estar de volta à capital era, no mínimo, inquietante. Havia um misto de sentimentos em meu peito, desde alegria até receio. Podia rever minhas amigas mas, infelizmente, elas não seriam as únicas que verei.

A carruagem parou diante do castelo e fui a primeira a descer, sequer esperando a ajuda do duque. Por causa de uma breve reunião entre o rei e Lorcan, chegamos pela manhã onde ainda ocorria os preparativos para o baile. Os meus olhos percorrem todo o vasto jardim em busca de algum sinal de Martha ou Cherly. Contudo, para a minha infelicidade, o primeiro rosto conhecido a identificar foi de Jonnathan que, segurando alguns papéis, apontava para os serventes o que deveriam fazer.

Lembranças do "interrogatório" e dos dias em que passei naquela cela invadem minha mente. O cheiro pútrido, as provocações, as noites em claro tremendo de frio, a maldita surra. A forma como me trataram como uma mera prostituta ainda assombrava meus pensamentos. Era difícil segurar todo o desconforto, tanto que desviei o olhar para o chão.

Então, tirando-me dessas lembranças, a voz suave do duque ecoa ao meu lado.

— Não se preocupe. Eu estarei aqui para segurar a sua mão, se precisar.

Viro o rosto em sua direção, vendo a mão estendida do homem e a seguro abrindo um fraco sorriso. Sabia que ele não falava apenas no sentido literal. Lorcan estava realmente disposto a enfrentar o reino inteiro para me ajudar, como já havia feito antes.

Mas ele é um nobre de respeito, não poderia estragar a sua imagem com a "fama" que possuo no palácio. Por isso, solto a sua mão e caminho em direção ao interior do local.

— Obrigada, mas eu ficarei bem.

Ele anui silenciosamente, seguindo-me até o segundo andar do castelo, parando diante da porta do escritório real. Enquanto Lorcan abria a porta, respiro fundo tentando controlar a emoção dentro de mim. O duque foi o primeiro a adentrar no cômodo e, ao erguer o olhar, encontro Christian encarando-me paralisado. Como de costume, usava uma calça branca de cós alto e uma camisa militar azul com botões dourados.

Quando dei o primeiro passo para dentro do escritório, o rei correu em minha direção abraçando-me com força. Ele apertou meu corpo de maneira carinhosa, escondendo o rosto em meu ombro. O seu cheiro primaveril invade minhas narinas naquele instante.

— Eu fiquei tão preocupado com você, Diane.

Retribuo o abraço sentindo-me um pouco estranha. Encaro de canto para Lorcan que possui uma expressão nada amigável, cruzando os braços. Ao se afastar minimamente, Christian segurava meu rosto olhando-me de cima à baixo sem tirar o sorriso bobo dos lábios.

— Você está bem? — questiona e assinto. — Se machucou? Foi torturada? Humilhada?

Quando nego com a cabeça, percebo a surpresa de seu semblante mas que logo retorna à genuína alegria. Lorcan pigarreia atraindo nossa atenção antes de comentar:

— O que queria comigo?

Christian ria sem jeito enquanto me mantinha ao seu lado, a mão entorno da minha cintura. O olhar de Lorcan desce para a mão dele como se pudesse arrancá-la com o mínimo movimento. E sinceramente, não duvido nada da sua capacidade.

— Queria agradecê-lo em particular por seu desempenho na guerra. Sei que matou o dobro de soldados que foi estimado. — comenta desviando o olhar para mim. — Você descobriu sobre esse pequeno atrito entre reinos, certo? Espero que não tenha ficado assustada.

Franzo o cenho, confusa. Mas alguém já tinha a resposta na ponta da língua.

— Ela é uma guerreira, Christian. Tem mais coragem do que todo o seu exército unido. — Lorcan dizia o fuzilando com o olhar. — Pare com essa proteção desnecessária.

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