Capítulo 32

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Os três olhares da sala focam em mim e o duque. Respirar nunca se tornou uma tarefa tão difícil. O homem na ponta da mesa, provavelmente o rei, lançou um olhar analítico em minha direção. Ele possuía uma áurea intimidadora como do vilão, e não por causa da sua altura considerável e os músculos por cima do colete marrom e camisa preta. Eram os seus olhos carmesim que pareciam afundar qualquer um para um mar de sangue. Esse era o olhar de um homem que travou inúmeras batalhas e, sem remorso algum, sujou suas mãos.

Ele coçava a barba com a ponta dos dedos calejados antes de gesticular para a cadeira na outra extremidade da mesa.

— És o tão famoso duque De'Ath, certo? — a sua voz grossa reverbera em meus ouvidos. Todo aquele poder e arrogância eram assustadores. — Eu pensei que fosse mais velho, devido aos seus grandes feitos entre os quatro cantos do continente.

Apesar das palavras rígidas, nenhuma delas atingiu o duque. Ou ele disfarçou maravilhosamente bem. Lorcan seguiu em direção ao seu assento de cabeça erguida, mantendo a máscara de frieza intacta. Ao tomar seu lugar, ajeitou a manga do sobretudo antes de dizer:

— Idade não é requisito para capacidade. Eu apenas não quis esperar muito tempo para iniciar a minha jornada até a glória.

Era admirável como Lorcan não deixou transparecer nada além de sua costumeira arrogância. Mesmo sendo jovem, ele não estava disposto a ser humilhado, nem mesmo por alguém que ocupa um cargo superior.

O rei pigarreia e vira o rosto em minha direção. No mesmo instante, o meu corpo trava e sinto o coração bater de maneira frenética.

— Quem é ela? Uma concubina? — pergunta com desdém.

— Uma soldada do meu ducado. Por isso, exijo respeito. — Lorcan responde apoiando os cotovelos na mesa, enrijecendo a postura. — Essa palavra existe em seu reino?

— Por acaso, a palavra "paz" existe no seu? — rebate o rei. O duque estreita os olhos em sinal de desagrado, mas opta por ficar em silêncio. — Eu sei da fama do seu exercitozinho. São os mercenários do continente.

O duque arqueia a sobrancelha, repuxando levemente o canto da boca em um sorriso assustador.

— Se está tão informado sobre os boatos, acho que deveria tomar cuidado com a língua, majestade.

O clima não poderia ficar pior. O rei apoiava a mão sobre a gravata marfim a afrouxando enquanto os lábios se moviam, prontos para lançar alguma ofensa. Contudo, uma voz mais suave ecoava pelo cômodo:

— Vamos priorizar o cavalheirismo, senhores. E senhorita, sente-se. — pedia gesticulando para uma poltrona vermelha no canto da sala.

O homem aparentava ser alguns anos mais jovem do que o rei. Ele possuía uma barba tão lisa quanto o seu cabelo preto que tocava um pouco abaixo da orelha. A maior parte das mechas jogadas para o lado. A sua pele era morena e os olhos negros levemente estreitos, bem como sobrancelhas grossas. Ele trajava uma camisa de gola alta de tonalidade vinho e, por cima, um longo casaco preto de tecido quase transparente. Ao gesticular em direção à poltrona, posso ver alguns anéis prateados em seus dedos. A sua áurea era mais aconchegante e racional, como se ele fosse...

— Esse é o meu conselheiro, Flinch. E aquele é o seu irmão, Fulhif, líder do meu exército. — o rei apontava para a terceira pessoa no outro lado da mesa.

Ele não aparentava passar dos seus trinta anos. A cor de pele e dos olhos iguais aos de Flinch. Na verdade, os dois eram bem parecidos como se fossem gêmeos mas o cabelo de Fulhif era tão grande que se estendia em uma grossa trança até seu quadril. Ele também usava roupas de guerreiro em uma tonalidade vinho com bordados dourados, mas cobertas por um manto lilás.

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