Capítulo 69

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Meus pés possuíam vida própria, pois corriam à todo vapor em direção ao maldito ex-conselheiro. A espada brandia fervorosamente contra qualquer idiota que ousasse ficar no meu caminho. Quanto à dor no ombro, a adrenalina se encarregou de bloqueá-la durante todo o trajeto.

Em outras circunstâncias, ficaria surpresa com a presença do maldito. Mas sou uma guerreira e me preparei para o combate. Alguns dias antes, pedi para Raven espionar todo e qualquer movimento suspeito. Como já sabíamos que Jonnathan era o informante no tempo em que Erick e Christian eram reis, qualquer sinal de sua aparição seria notificada imediatamente. Não demorou muito para o nosso espião descobrir que ele era integrante do exército de Avery.

— Volte aqui, seu maldito! Pagará a morte da minha amiga com seu sangue imundo!

Ele dá uma olhava furtiva em minha direção, mas continua a correr com uma agilidade surpreendente.

A história de Jonnathan é pouco conhecida. Ele nasceu de uma família rica, cheia de irmãos mimados. O filho mais novo e indesejado. A sua mãe o descartou no meio da estrada para os lobos comerem. Por sorte, um comerciante passava pela região e encontrou o bebê aos prantos, enrolando em um trapo velho. Ao ser levado para o orfanato, sua história foi abafada para não traumatizar a criança, mas, é claro, um dia ele descobriu e ficou revoltado.

A dor da rejeição o deixou cego.

Acho que naquele dia ele jurou que iria alcançar o topo, o que explica como se tornou capaz o suficiente para ser o conselheiro da família real. Mas óbvio que alguém sem caráter como ele não se contentaria com isso. O seu cargo lhe conferia informações valiosas e Avery não pensou duas vezes em puxá-lo para seu lado, sob a condição de que também treinasse em seu exército para um futuro combate.

Agilmente, saco uma faca da perna e a jogo no homem. Jonnathan grita ao ser atingido nas costas e os seus joelhos cedem, dando-me a oportunidade de encurtar a nossa distância.

— Como ousa fazer aquilo com uma vida inocente? — questiono pisando em sua barriga, forçando-o a ficar nessa posição humilhante. — A Martha não merecia esse fim!

O olhar que recebo é carregado de fúria, mas não estremeço. Nenhum homem me fará tremer novamente.

— Ela e a sua família sabiam demais. Velstand estaria em apuros se as informações vazassem. Não seja hipócrita, Vossa Majestade. O monstro do seu marido silenciou muito mais homens e mulheres do que eu.

A minha respiração fica desregulada por um momento. Ele quer me puxar para um jogo mental, só acho que esqueceu quem dita as regras aqui.

— Que tipo de soldado é você? Eu andei investigando-o, Jonnathan Miller. Um homem rejeitado que roubou o sobrenome da sua falecida esposa. Vive na sombra daqueles que têm poder, não percebe o quanto isso é patético?

Jonnathan abre a boca como se fosse rebater à altura — o que seria bem pouco provável — mas, ao invés disso, saca uma adaga de sua armadura e a acerta em minha perna. Contendo um grito de dor, dando alguns passos para trás. Ele fica de pé pegando desajeitadamente uma espada caída no chão e adota uma postura defensiva.

Solto uma risada de escárnio.

— Até as crianças de Icarus empunham uma espada melhor do que você. — comento sacando minhas duas espadas as girando rapidamente. Amo ver o medo estampado em seu rosto pálido. — Está com medo? Não se preocupe, prometo que será bem divertido...

Avanço contra seu corpo, dando um golpe vertical. De forma inútil, ele tentava bloquear o golpe mas sou mais rápida e, em questão de segundos, o seu braço está pendurado ao lado do corpo.

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