Capítulo 54

280 30 242
                                    

O meu corpo foi lançado alguns metros para longe. A cortina de fumaça bloqueou o campo de visão, então não fazia ideia do estado de Lorcan. Um desespero incontrolável tomou conta do meu âmago e, antes de libertá-lo com um grito, sinto uma mão firme em meu braço. Rapidamente, saco a adaga apontando-a para o pescoço do maldito Avery. Contudo, surpreendo-me ao encontrar um par de olhos ametistas.

— Vamos antes que ele perceba.

Inicialmente, pisco os olhos confusa sem mover um músculo sequer. A mulher soltava um longo suspiro antes de dizer:

— Eu estou do lado do duque.

Ouço um palavrão de Avery, procurando por mim. Diante dessa situação de emergência, seguro a mão da mulher e sou conduzida por uma passagem secreta atrás de uma das enormes pilastras de gesso. Precisei engatinhar pela pequena porta, aflita pelo corredor escuro e estreito. Por isso, mal contenho o suspiro de alívio ao ver uma pequena tocha há alguns metros à minha frente.

Quando saio do pequeno corredor, Lorcan está ajeitando o longo sobretudo. Os nossos olhares se encontram e vejo o alívio em sua expressão. Ele ignora completamente a mulher para vir até mim, abraçando-me com força. O meu corpo recua um pouco pelo impacto e, de forma instantânea, meu interior é tomado por paz.

— Da próxima vez que o Avery apontar uma espada para você, eu juro que o mato. — sussurra.

— Eu mesma farei isso da próxima. — digo acariciando suas costas a fim de tranquilizá-lo. — O miserável me tirou do sério.

Afundo o meu rosto em seu peito, sem conter o tremor nas pernas. Por um instante, pensei que morreríamos nas mãos daquele rei desgraçado. E depois de um sufoco imenso como esse, nada melhor do que estar de volta ao meu porto seguro, ou seja, os braços de Lorcan.

— Eu sempre soube que você encontraria alguém especial.

Somente após ouvir a voz feminina ecoando no corredor, lembro-me da sua presença e, assim, foco minha total atenção na nossa salvadora. A mulher possuía algumas rugas nas bochechas e no canto dos olhos ametistas, mas eram quase imperceptíveis em sua pele morena. Os longos cabelos negros e lisos presos em uma trança, tocando sua cintura fina.

Eu sabia que estava diante de uma guerreira. Não apenas por causa da calça marrom colada às coxas definidas ou à armadura prateada com o brasão de Aryan; e sim pela sua postura. Era como se nada pudesse abalar essa mulher.

— Quanto tempo, Eleonor.

Ao ouvir o seu nome, a mulher sorria expondo os dentes brancos. Ela apoia a mão sobre o peito, curvando o seu corpo. Lorcan retribuía com um breve acenar de cabeça, dizendo para mim:

— Diane, essa é Eleonor Fernsby, rainha de Aryan.

A mulher ria anasalado diante da minha expressão de espanto.

— Uma rainha...? Mas... Mas ela se curvou.

— Eu já fui uma soldada do exército do Lorcan — respondia Eleonor sorrindo de maneira tão aberta que as rugas nos olhos tornam-se mais evidentes. — Mesmo me tornando uma rainha, o sangue que corre em minhas veias pertence à Icarus.

— Eu não fazia ideia de que havia uma aliança entre Aryan e Icarus. — admito. — Por que não me disse, Lorcan?

Ele suspira jogando o longo cabelo para trás com a ponta dos dedos.

— No passado, poderia afirmar que havia uma aliança mas os laços foram enfraquecidos com o tempo. O casamento de Eleonor com o rei de Aryan foi espontâneo, sem nenhum cunho político.

VelorumOnde histórias criam vida. Descubra agora